Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), liderados pelos professores Renato Santana e Renan Pedra de Souza, acaba de desenvolver um teste rápido e de baixo custo que consegue detectar as variantes do novo coronavírus mais presentes no Brasil e no mundo: as brasileiras (P1, mais conhecida como a variante de Manaus, e P2), a B.1.1.7 (inglesa) e a B.1.351 (africana).
Enquanto o sequenciamento genético convencional, método mais usado para detectar as variantes do Sars-CoV-2, leva até seis semanas para ficar pronto e pode custar de R$500 a R$600 por amostra analisada, o teste desenvolvido na UFMG custa em média R$70, além de apresentar os resultados em apenas seis horas. Segundo Renato Santana, docente do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB, o novo método apresenta outras vantagens quando comparado ao sequenciamento genético tradicional.
“Quando realiza o sequenciamento convencional, você faz uma projeção, pois ele é feito apenas com centenas de amostras. Com o novo teste, que consegue varrer um número muito maior de amostras, é possível visualizar a frequência das variantes de forma mais fidedigna e condizente com a realidade. Além disso, qualquer laboratório que já realiza o PCR é capaz de fazer esse teste de diagnóstico das variantes, diferentemente do sequenciamento, que exige máquinas caras e disponíveis em poucos ambientes”
O professor acrescenta que a técnica desenvolvida na UFMG não identifica novas variantes, mas aponta quais delas, já conhecidas, estão presentes nas amostras analisadas.
“O sequenciamento genético ainda é importante porque somente ele é capaz de descobrir uma variante nova, até então desconhecida. Mas, depois da descoberta, o teste que desenvolvemos se torna a melhor ferramenta para detecção, pois pode ser constantemente adaptado para reconhecer as que aparecem. Os dois testes são, portanto, complementares”, afirma Santana.
Renato Santana destaca a importância de conhecer as variantes que prevalecem no país. Segundo o pesquisador, “é necessário saber quais estão circulando nas diversas regiões brasileiras e porque algumas estão associadas à maior taxa de transmissibilidade da covid-19″. Ele destaca que algumas mutações ocorrem na região da proteína de superfície do Sars-CoV-2, responsável pela introdução do vírus na célula.
“Essas mutações facilitam a entrada do vírus e, quanto mais vírus entra na célula, maior será a carga viral no organismo e, consequentemente, maior a taxa de transmissão por aquele paciente”, ressalta o professor do ICB.
Santana conta que, até pouco tempo, os pesquisadores acreditavam que as novas variantes aumentavam apenas a taxa de transmissibilidade. Porém, estudo publicado na revista Nature mostrou que a variante da Inglaterra, por exemplo, também está associada ao aumento da letalidade. Ela aumenta o índice de mortes em 59%, principalmente em homens com mais de 51 anos.
“Isso nos preocupa bastante, porque a P1, de Manaus, tem a mesma mutação que essa variante inglesa. Precisamos conhecer a distribuição das variantes nas regiões do país para que os hospitais possam preparar suas estruturas para o atendimentos de pacientes em estado grave onde essas variantes prevaleçam. É uma questão de planejamento de saúde pública”, diz.
O pesquisador acrescenta que, uma vez que estudos já comprovaram que a variante de Manaus (P1) está associada à carga viral mais alta nos indivíduos, os pesquisadores agora estão investigando a P2, a de maior prevalência em Belo Horizonte, onde apareceu em mais de 90% das amostras coletadas. Para isso, o grupo realiza pesquisa em parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio da qual estão sendo mapeadas amostras de todo o estado. Paralelamente ao estudo estadual, o grupo de pesquisadores desenvolve uma investigação em conjunto com o Instituto Hermes Pardini de abrangência nacional.
“Como o Instituto Hermes Pardini tem unidades em todo o território brasileiro, conseguiremos analisar mais de cinco mil amostras nos 27 estados. Essas análises nos darão um panorama atualizado da frequência das variantes de Sars-CoV-2 no país e possibilitará planejar melhor o combate à pandemia.”
Redação Vida & Tal
Fonte: Luana Macieira/Centro de Comunicação da UFMG