Hoje, 21 de setembro é o dia mundial e nacional de conscientização sobre a Doença de Alzheimer; ela atinge 5% da população com mais de 65 anos, ou 1,4 milhão de pessoas no Brasil. Sabe-se que há duas proteínas determinantes no processo, a Beta-amiloide e a Tau: a primeira atua na via de formação dos agregados amiloides; a outra controla a dinâmica dos microtúbulos, sendo que sua hiperfosforilação afeta funções biológicas e morfológicas nos neurônios. Já existem diversos estudos sobre ambas.
De acordo com a Associação Brasileira de Neurologia (ABN), como a Doença de Alzheimer não tem cura, por enquanto, os especialistas se empenham em fazer o diagnóstico precoce e trabalham no sentido de aplicar medidas preventivas para retardar o avanço. É neste cenário que um novo medicamento, aprovado pela FDA (Food and Drug Administration, o órgão regulatório americano, equivalente a Anvisa no Brasil), vem agitando o cenário científico, oscilando entre a expectativa de um tratamento inédito e certa limitação em torno da descoberta.
Aducanumab
A droga em questão é um anticorpo monoclonal que atua sobre o acúmulo de proteína beta-amiloide no cérebro. Ela foi submetida a dois estudos clínicos, fase 3, prospectivos e controlados. Eles chegaram a ser interrompidos porque o remédio parecia não fazer efeito. Mas, segundo o fabricante do medicamento, depois da parada, uma análise mais profunda das informações de um dos trabalhos encontrou resulta- dos positivos. E foi a partir daí que o FDA deu parecer positivo.
O estudo mostrou redução da captação do traçador para proteína Beta-amiloide no exame de Pet CT, a tomografia por emissão de pósitrons.
Imagem X Paciente
Realmente a proteína praticamente some do exame, mas não há um benefício clínico comprovado.
“A conclusão a que se chegou é que o medicamento atua sobre o acúmulo da substância beta-amiloide no cérebro de pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência em fase inicial. O remédio diminui o acúmulo. No entanto, não mostrou benefício evidente para os portadores, que não apresentaram melhora da cognição, mesmo havendo melhora no exame”, explica Jerusa Smid.
A polêmica começou logo após a aprovação pelo FDA, que desde 2003 não aprovava nenhuma medicação para a doença. Principalmente porque o painel responsável pela avaliação, em sua maioria, votou contra. De qualquer forma, o medicamento, administrado por meio de infusão intravenosa, recebeu sinal verde por se tratar de droga de uso crônico, que vem gerando expectativa social e populacional, com possibilidades alvissareiras.
A interpretação, contudo, é cautelosa por alguns especialistas – inclusive no Brasil. Eles avaliam como arriscada a utilização em larga escala, ainda mais imaginando-se o uso de longo prazo. Há de se considerar, em nosso país, parcela expressiva dos casos são de patologia mista: doença de Alzheimer associada a comprometimento vascular.
“Faltam mais estudos com resulta- dos positivos, porque esse foi o único que mostrou redução da patologia amiloide da doença de Alzheimer. Mas sabemos que nem sempre reduzindo a patologia haverá um ganho clínico na vida diária do paciente. Então o trabalho precisa ser replicado. Por isso o órgão regulatório dos Estados Unidos obrigou a realização de um novo estudo”, diz a neurologista Sônia Brucki, especialista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
O estudo fase 4 é para ampliar a pesquisa para a população com Doença de Alzheimer. Com o trabalho em um grupo mais amplo, de pacientes do dia a dia, busca-se um benefício clínico mais eloquente já que o benefício clínico é bem robusto.
Pesquisas
Assim, na fase 4 (que testa a medicação em um grupo maior de pessoas), a pesquisa irá atrás de mostrar eficácia clínica e esclarecer efeitos colaterais.
“A propósito, quanto a efeitos colaterais, o estudo apresentou uns relevantes, como sangramento no sistema nervoso central, em maioria pouco sintomáticos e que se resolvem espontaneamente; e alterações de inflamação de edema do cérebro. Esses eventos são denominados anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide, ARIA – do inglês amyloid related imaging abnormalities”, frisa Jerusa Smid.
Antes de se falar em administrar qual- quer medicamento, é preciso realizar os diagnósticos apropriados em episódios de doença de Alzheimer. Aliás, o diagnóstico, em regra, é clínico. Existe a opção do exame, mas são poucas do Brasil e bem caras. O neurologista, então, deve aprimorar seu método de diagnóstico, para confirmar a proteína Beta-amiloide.
“Temos de recorrer a ressonâncias magnéticas periódicas e encontrar um biomarcador bastante efetivo na doença de Alzheimer. Por isso, em relação a esse novo tratamento, por envolver muitas coisas, os especialistas em demência ainda estão reticentes”, argumenta Sonia Brucki.
“A medicação não foi aprovada ainda; está em avaliação pela Anvisa. Ou seja, nem a temos por aqui. Além disso, até o momento, foi usada apenas em fase bem leve da doença ou em pré-demência (cognitivo leve). Esse trabalho mais amplo pode vir a revelar melhores resultados”, reforça Jerusa.
Futuro
“Já é de conhecimento da ciência que, quando dá sinais clínicos, a Doença de Alzheimer já está instalada no cérebro há anos.” Em termos de futuro, são interessantes as perspectivas abertas pela aprovação do primeiro medicamento com alvo no processo biológico. Isso cria esperança de que será o primeiro de fato efetivo entre os diversos que pesquisam as proteínas para o tratamento.
Redação Vida & Tal
Fonte: Associação Brasileira de Neurologia (ABN)