Ele estudou psicologia na PUC-Rio, formou em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), atuou em cirurgia e ortopedia veterinária, mas só depois de atender a uma provocação da mãe, a também médica acupunturista, Celeste Ivo, foi que Alexandre Baraúna descobriu a sua verdadeira vocação – cuidar de pessoas!
A tradição familiar na Medicina Tradicional Chinesa, que já havia acolhido seu irmão mais velho, há dez anos também lhe permitiu trilhar o caminho da acupuntura, mas atualmente o médico pós-graduado em Nutriendocrinologia se dedica a prática da medicina integrativa e o estudo da medicina da dor.
“Tudo isso me favoreceu muito para exercer uma medicina com visão mais ampla sobre o cuidado com a saúde e o tratamento de doenças. O Einstein certa vez falou que ‘a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original’, e partindo desse princípio, decidi que minha caminhada não iria ficar estagnada no conhecimento”, revela o médico que falou com exclusividade para o Vida & Tal sobre os principais desafios no exercício da medicina no Brasil.
O que poderíamos entender por Medicina Integrativa e como diferenciá-la da medicina tradicional?
A Medicina Integrativa busca ver o paciente na sua totalidade, sem dissociá-lo, entendendo que há uma teia de informações complementares que precisam ser levadas em conta para a conquista da saúde plena. Não podemos continuar a cuidar do indivíduo isolando suas queixas e tratando pontualmente as desordens físicas e emocionais. O paciente traz em sua história dados que podem e devem ser avaliados e contextualizados. A saúde é vista como um estado vital de bem-estar físico, mental, emocional, social e espiritual, que capacita a pessoa a estar engajada em sua vida. Costumo citar nas conversas com meus pacientes a seguinte frase ‘você é o que você come’, mostrando que a base para a saúde está inicialmente no nosso prato, nas nossas escolhas alimentares. O que comemos pode ter um efeito significativo sobre nossa vida, positiva ou negativamente.
O que o motivou a trabalhar com a medicina alternativa, e quais características do seu ponto de vista é mais eficaz na promoção da saúde?
A própria formação da Medicina Tradicional Chinesa já me fez ter uma visão bem diferente da Medicina Ocidental. O corpo nos mostra que o equilíbrio é resultado de uma relação de harmonia entre a mente e o corpo. A Medicina Integrativa me atraiu por ampliar essa compreensão, me fazendo perceber que os pacientes precisam de uma avaliação na qual eles são orientados a reconhecer, a administrar e a reduzir os fatores que geram o seu adoecimento. Muitos estão em busca de cápsulas e injeções milagrosas, querem algo que num passe de mágica lhes traga a saúde, mas quantos estão dispostos a fazerem as mudanças necessárias para mudar o rumo de suas vidas?
Tento trazer a proposta de colocar o paciente como ator principal no processo, como seu próprio agente promotor de saúde. O paciente deixa de receber passivamente o tratamento para uma doença e passa a participar ativamente da própria saúde. A saúde é também uma responsabilidade individual, não depende apenas do médico.
Acredita que a medicina tradicional precisa ser revista e repensada? Como vê a relação entre saúde e medicina no futuro?
Sem dúvida, e acredito que essas mudanças já estão acontecendo. Muitos profissionais atualmente têm se atualizado, se permitindo avaliar que há uma necessidade de ir além do que suas especialidades preconizam, indicando as terapias complementares, solicitando novos exames, percebendo como aspectos sociais, culturais e até mesmo ligados à espiritualidade do indivíduo podem beneficiá-lo. A medicina do futuro já está em fase de construção, e não é fruto apenas das inovações tecnológicas, mas principalmente da mudança de muitos paradigmas.
Atualmente está atuando em uma cidade do interior da Bahia. Conta um pouco sobre como está sendo essa experiência e quais têm sido os principais desafios?
Atualmente, com a Pandemia, fizemos a opção de buscar uma alternativa de vida fora da metrópole. Foi uma decisão em família, pois toda ela seria afetada. Talvez a palavra mais ilustrativa seja ‘Desafio’. Saí de uma centro de referência estadual como a cidade de Salvador, com diversos recursos em diagnósticos complementares e especialidades médicas acessíveis, com atendimentos à pacientes majoritariamente usuários de plano de saúde ou particular, com recursos pra investir em saúde e no tratamento de doenças.
Nesse momento me encontro numa cidade de aproximadamente 30.000 habitantes, com uma população carente, com dificuldade de acesso à especialistas e com recursos reduzidos para complementar o diagnóstico. Assumi os atendimentos médicos numa Unidade Básica de Saúde da Família e está sendo um processo que exige empenho para adaptação. Associar os recursos da Medicina Tradicional com essa visão da autorresponsabilidade com a própria saúde tem potencializado os ganhos no tratamento, resgate e otimização do estado de saúde do paciente.
Uma das principais barreiras é a visão enraizada de uma medicina que foi medicalizada, ou seja, o tratamento de doenças é baseado apenas no uso de medicamentos e na realização de procedimentos.
Acredita que a prática da medicina alternativa pode vir a ser uma realidade na saúde pública do Brasil? Na sua opinião quais seriam os principais ganhos na promoção da saúde no país?
Temos que acreditar para poder realizar. No entanto, todo esse processo não depende apenas do médico e dos outros profissionais que compõe a equipe de saúde. Envolve o empenho e comprometimento dos gestores em Saúde a nível Municipal, Estadual e Federal, na aplicação correta e efetiva dos recursos financeiros nas políticas e estratégias de saúde pública.
O investimento na atenção básica traz um efeito em cascata, reduzindo o número de pessoas acometidas por doenças crônicas e suas complicações, diminuindo, por exemplo, a demanda e sobrecarga dos serviços de alta complexidade, que são mais onerosos aos cofres públicos.