Uma condição patológica caracterizada por uma produção excessiva de suor, decorrente de uma disfunção do sistema nervoso simpático. Apesar de não ser considerada uma doença, por não causar nenhum malefício direto à saúde, a hiperidrose costuma trazer consequências marcantes do ponto de vista psicológico, emocional e social para a vida do indivíduo.
No auge dos 15 anos, uma sudorese excessiva nas axilas e o medo constante do constrangimento fizeram com que a então adolescente Jamile Viana, assumisse uma postura defensiva e distante de amigos e familiares.
“Eu não abraçava ninguém, sentia vergonha e medo de abraçar alguém e deixar a pessoa molhada, de abrir os braços e alguém sentir um odor desagradável, e que isso me afastasse ainda mais das pessoas. Cheguei a ter 14 blusas da escola que eu trocava constantemente para não correr o risco de deixar com mau cheiro”.
As inúmeras tentativas de tratamento em silêncio e a vergonha só tiveram fim depois que Jamile ingressou na faculdade de medicina e descobriu que seu problema poderia ser facilmente resolvido por meio da cirurgia.
“Era uma coisa que me incomodava tanto que tinha vergonha até de falar com meus pais sobre isso. Tentei vários tipos de tratamento. Juntei dinheiro e comprei um aparelho que dava ondas de choque, fiz aplicação de botox, mas só resolveu quando fiz a cirurgia”, declara Jamile.
O médico cirurgião torácico, Breno Machado, explica que essa é uma condição que afeta cerca de 2% da população, tanto homens como mulheres e comumente aparecerem nas axilas, palmas das mãos e sola dos pés, o que sem dúvida traz além do desconforto, dificuldades para o individuo no âmbito pessoal e social.
“A hiperidrose tem uma incidência alta na população, se levarmos em consideração que 2% da população global são afetadas, estamos falando de cerca de 160 milhões de pessoas em todo mundo. Acredita-se que haja uma predisposição genética, uma vez que é comum vários casos numa mesma família, mas isso ainda não está totalmente esclarecido”, revela o médico.
Causas
De acordo com Machado, a hiperidrose pode ser classificada em primária ou secundária. Na primária, a pessoa já nasce com a sudorese excessiva e tende a ser localizada nas axilas, planta dos pés e palma das mãos. Em alguns casos também pode afetar o couro cabeludo e a face.
Os sintomas começam a aparecer ainda na infância e se intensificam na adolescência. Outra característica importante é que a sudorese só se manifesta quando o paciente está acordado e o estímulo quase sempre está relacionado a um estresse físico, emocional, psicológico e, a sudorese, pode permanecer mesmo que o fator responsável pelo estímulo seja extinto.
Já na secundária, a hiperidrose é decorrente de outras patologias, geralmente oriundas dos distúrbios hormonais a exemplo do hipertireoidismo, diabetes ou da obesidade mórbida, e normalmente se manifesta na fase adulta. Nesses casos a sudorese não é localizada e diferentemente da primária, o paciente apresenta suor excessivo durante o sono.
Tratamentos clínicos
Os tratamentos clínicos são por meio de medicações anticolinérgicas, que costumam causar grandes efeitos colaterais, do uso de desodorantes antitranspirantes a base de cloridrato de alumínio, que ajudam a bloquear a sudorese através das glândulas sudoríparas, ou com a aplicação de toxina botulínica, o que além de doloroso torna-se caro, já que há a necessidade de repetir o tratamento a cada três meses.
O médico alerta que os tratamentos clínicos geralmente funcionam de forma paliativa, já que uma vez suspenso os sintomas voltam a aparecer.
Nos casos de hiperidrose secundária, o tratamento deve ser na causa primária dos sintomas, a exemplo dos distúrbios hormonais.
Intervenção cirúrgica
De acordo com o cirurgião torácico, atualmente a Simpatectomia Torácica é o tratamento de eleição para a hiperidrose primária, graças ao avanço da medicina, as técnicas minimamente invasivas, de baixo risco e recuperação rápida.
“O objetivo é seccionar o nervo simpático, no nível do gânglio simpático que se deseja bloquear. “90 a 92% dos pacientes relatam uma mudança positiva na qualidade de vida, mesmo cinco a dez anos após serem submetidos ao procedimento cirúrgico, o que prova a eficácia da intervenção no decorrer dos anos”, afirma Breno Machado.
“Posso dizer que a minha vida está dividida entre antes e depois da cirurgia. Foi libertador poder usar a roupa que eu quero, abraçar meus amigos, familiares, praticar atividades mais intensas ou passar por situação de estresse sem me preocupar com o excesso de suor por conta de tudo isso”, revela a médica Jamile Viana que há dez anos se submeteu a simpatectomia torácica para solucionar a sudorese excessiva das axilas.
Contraindicação
Não existe contraindicação absoluta, porém pacientes com índice de massa corpórea superior a 25 (IMC) ou com certo grau de obesidade tendem a apresentar a sudorese compensatória em outras regiões ainda de forma mais intensa após a cirurgia.
“Isso acontece como uma forma de readaptação do organismo que trabalha dentro de uma faixa de temperatura e busca uma forma de compensar essa temperatura através da sudorese. Quanto mais alto for o bloqueio na cadeia simpática, maior a chance de desenvolver a sudorese compensatória”, explica o médico.
Pacientes com histórico de doenças pleuro-pulmonares ou tuberculose, requerem uma avaliação mais aprofundada para a indicação cirúrgica.
Breno Machado é graduado em medicina pela Universidade Federal da Bahia com Residência em Cirurgia Torácica pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Especialista em Cirurgia Torácica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica e Professor da Faculdade de Medicina da Bahia pela Universidade Federal da Bahia.
http://lattes.cnpq.br/8869982520063950
Redação Vida & Tal