Com o objetivo de ajudar os consumidores a lidar com as dificuldade de investigar as informações nutricionais antes de comprar um alimento e compreender tudo que está escrito nas embalagens dos produtos, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criaram um aplicativo de celular que, ao escanear os códigos de barra de alimentos processados e ultraprocessados, informa sobre a presença de nutrientes em excesso, como açúcares, gordura saturada e sódio. Disponível para o sistema operacional Android, o aplicativo “RotulApp” pode ser baixado gratuitamente.
Desenvolvido pelo pesquisador Alessandro Rangel Carolino Sales Silva para ser usado pelo público em situações reais de compras, o aplicativo é parte do doutorado que ele cursa no Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos (PPGCA) da Faculdade de Farmácia da UFMG, sob orientação da professora Lucilene Rezende Anastácio. O pulo do gato é que, ao ser usado pelos clientes, o aplicativo paralelamente abastece a pesquisa de Alessandro com informações sobre a eficácia das diferentes opções de “rotulagem nutricional frontal” atualmente em uso no Brasil e na América Latina, aspecto que é o foco da sua pesquisa. Para isso, ao fim do uso, o aplicativo pede que os usuários respondam a um questionário.
“Já contamos com aproximadamente 3.340 produtos industrializados cadastrados em nossa base de dados”, explica o pesquisador.
Alessandro Rangel integra o grupo Pesquisa em Ciência de Alimentos e Nutrição (PeCAN) da UFMG, cujos projetos de pesquisa têm estudado, entre outros assuntos, a rotulagem dos alimentos e as formas de comunicação das informações nutricionais, além de potenciais problemas relacionados à utilização das informações básicas disponibilizadas nas embalagens dos produtos. “A maioria dos consumidores vai ao supermercado e não consegue compreender os dados inseridos nos rótulos dos alimentos”, avalia Alessandro.
“Em razão disso, as pessoas fazem escolhas sem que estejam completamente conscientes sobre o que, de fato, estão consumindo”, completa. Seu projeto de pesquisa é financiado pelo Ministério da Saúde/CNPq e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Octogonal x lupa preta
“A partir de outubro, aqui no Brasil, os alimentos com sódio, gordura saturada e açúcares adicionados receberão uma espécie de selo que destacará o excesso desses itens”, informa Alessandro. O PeCAN, grupo de pesquisa de que participa e que faz parte do Observatório de Rotulagem, vem acompanhando reuniões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o assunto desde antes do início da pandemia de covid-19.
Segundo o pesquisador, a estratégia de rotular com advertências a parte frontal de produtos dotados de excesso de nutrientes prejudiciais à saúde tem sido amplamente difundida na América Latina. Países como a Argentina, Chile, Uruguai e México já utilizam ou ao menos já aprovaram a proposta, baseada em um modelo de advertência no formato de octógono preto – por aqui, foi escolhido o modelo de lupa preta. Um dos objetivos da pesquisa de Alessandro Rangel é mensurar a eficácia dos dois modelos.
“Queremos verificar se o modelo escolhido para o Brasil é, de fato, o melhor ou se o que vem sendo mais usado por outros países da América Latina tem mais eficácia. Ou, ainda, se o controle que existe atualmente, baseado apenas na tabela nutricional e na lista de ingredientes, já seria suficiente para essa compreensão”, pondera o pesquisador.
O aplicativo funciona de maneira simples: após fazer o download e se cadastrar, o usuário será designado, aleatoriamente, para um dos três padrões de rotulagem em análise na pesquisa: a opção lupa, que é a definida pela legislação brasileira, a opção octógono, adotada por outros países da América Latina e já em uso pelo governo mexicano, ou a opção controle, em que constam apenas a tabela nutricional e a lista de ingredientes. A partir disso, sempre que utilizar o app no supermercado, a pessoa receberá informações nesse formato definido no momento do cadastro.
“Estamos tendo dificuldades para conseguir número suficiente de usuários”, diz Alessandro, conclamando as pessoas a recorrerem ao aplicativo e a responderem às questões enviadas pelo grupo no próprio sistema – contribuindo, assim, para a robustez dos resultados que serão alcançados na pesquisa. “Precisamos que as pessoas baixem o app, façam o cadastro e o utilizem dentro do supermercado, conforme instruções. A ajuda de todos na coleta de dados é fundamental para o levantamento de evidências sobre a eficácia de cada um dos modelos na nossa população”, afirma o doutorando.
Dúvidas podem ser encaminhadas para o e-mail do grupo (suporterotulapp@gmail.com), e outras informações podem ser encontradas em suas redes sociais (domínio “@rotulapp”).
Redação Vida & Tal
Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).