Por Vitor Friary
A terceira onda de calor do ano atinge diversas regiões do Brasil a partir desta segunda-feira (17), trazendo temperaturas extremas que podem representar riscos à saúde, especialmente para grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas ficarão acima da média. A massa de ar quente e seco elevou as máximas em até 5°C acima da média climatológica. No cenário nacional, os impactos já são sentidos. Em São Paulo, onde a previsão indica máxima de 38°C, a Defesa Civil emitiu um alerta para que a população evite exposição prolongada ao sol. No Rio de Janeiro, a previsão para a próxima semana supera os 40°C, o que pode levar a cidade ao nível 4 de calor (NC4), um marco inédito na capital.
As altas temperaturas, além do desconforto físico, também têm um impacto significativo na saúde mental das pessoas. O calor extremo pode ativar sintomas de ansiedade, provocar mudanças de humor e até mesmo agravar distúrbios psicológicos preexistentes. O calor excessivo desencadeia uma resposta fisiológica de estresse no corpo, ativando o sistema nervoso simpático e gerando sintomas como aumento da frequência cardíaca e suor. Esses sintomas físicos podem ser percebidos como uma ameaça, levando a um ciclo de pensamentos ansiosos e desconforto emocional. O modelo cognitivo da psicologia sugere que a maneira como interpretamos essas sensações físicas pode afetar profundamente nossas emoções e comportamentos, criando um cenário de ansiedade e desconforto.
Além disso, o calor extremo pode limitar a capacidade de realizar atividades ao ar livre e reduzir as interações sociais. O isolamento resultante dessas limitações pode contribuir para o desenvolvimento de quadros depressivos, enquanto a interrupção no sono, com o desconforto gerado pelo calor, pode afetar o humor e aumentar os níveis de ansiedade. A falta de sono reparador também reduz a disposição para realizar atividades diárias, criando um ciclo vicioso de cansaço e desânimo.
O impacto das altas temperaturas também é ampliado pela umidade elevada, que intensifica a sensação térmica, fazendo com que o calor percebido no corpo seja ainda maior do que o indicado pelos termômetros. Esse efeito ocorre porque a combinação entre calor e umidade interfere na capacidade do organismo de dissipar o calor, aumentando o desconforto físico e emocional e os riscos à saúde mental.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) oferece ferramentas eficazes para lidar com o impacto do calor extremo na saúde mental. Técnicas de relaxamento, reestruturação cognitiva e comportamentos adaptativos, como manter-se hidratado e procurar ambientes mais frescos, podem ajudar a reduzir o impacto emocional do calor. Práticas de autocuidado, como ajustar a rotina para lidar melhor com as altas temperaturas, também são fundamentais para mitigar os efeitos negativos na saúde mental.
Além disso, a prática de mindfulness (atenção plena) pode ser especialmente útil nesse contexto. Focar no momento presente, sem se deixar consumir por pensamentos negativos relacionados ao calor, pode ajudar a regular as emoções e reduzir os níveis de estresse. Técnicas de consciência corporal, como exercícios de respiração e relaxamento, podem ser eficazes para aliviar o desconforto físico e emocional causado pelo calor intenso.
O calor extremo pode também afetar o equilíbrio químico do cérebro, alterando o humor e a motivação. O desconforto prolongado pode gerar irritabilidade, frustração e letargia, reduzindo a energia e a disposição para atividades físicas e sociais. Em alguns casos, isso pode até levar a uma redução significativa na motivação, criando um cenário de apatia e dificuldades para se engajar nas tarefas diárias.
As altas temperaturas que estamos experimentando recentemente não são apenas um desafio para o corpo, mas também para a mente. A conscientização sobre os efeitos do calor extremo na saúde mental é essencial para que as pessoas possam adotar estratégias de enfrentamento eficazes. Além disso, é importante que os profissionais da saúde mental reconheçam a relação entre os fatores ambientais e o bem-estar emocional, para que possam oferecer apoio adequado àqueles que estão lidando com os impactos psicológicos do calor excessivo.
Sobre Vitor Friary
Vitor Friary é doutorando no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, formado em Psicologia Clínica, fundador do Centro de Mindfulness no Brasil e autor de livros no Brasil e nos Estados Unidos