Pesquisadores da USP estão recrutando 500 bebês, de até 3 meses de vida, para participarem de um projeto que vai analisar, durante três anos, diversos fatores que influenciam no desenvolvimento cognitivo humano. O Projeto Germina busca estudar os mil primeiros dias de vida e entender como o ambiente, as relações sociais, a composição genética, a nutrição e o microbioma atuam no desenvolvimento cerebral, cognitivo e emocional. A pesquisa é uma oportunidade para os pais acompanharem de perto a saúde das crianças, com especialistas à disposição, e de contribuir para a pesquisa científica brasileira.
O Germina é parte do programa 1kD (The First 1000 Days), financiado pela organização internacional Wellcome Leap, que envolve dez grupos de pesquisadores de todos os continentes com os mesmos objetivos científicos. Na USP, o projeto conta com a participação de 15 grupos de pesquisa de diferentes áreas do conhecimento, como genética, microbiologia, nutrição, fonoaudiologia, pediatria, psicologia, psiquiatria de crianças, neurociência do desenvolvimento, matemática e estatística.
“Isso coloca o Brasil e a USP em uma posição de destaque neste campo. Pesquisadores renomados de várias partes do mundo nos dão a possibilidade de levar os dados nacionais e, ao mesmo tempo, de trazer para cá a experiência desses colaboradores”, afirma ao Jornal da USP o professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Guilherme Vanoni Polanczyk, o pesquisador principal do projeto.
Como participar?
Podem participar da pesquisa mães e pais de 20 a 45 anos e bebês de até 3 meses de idade, nascidos com 37 semanas de gestação ou mais. Os participantes devem ter disponibilidade para visitar os centros de pesquisa na cidade de São Paulo em cinco momentos, ao longo dos primeiros três anos de vida do bebê, para realização dos exames e testes.
Nos encontros, os pesquisadores farão perguntas para os responsáveis sobre o ambiente e a família. O desenvolvimento do bebê será avaliado por meio de atividades lúdicas e apropriadas para a idade, além da realização de eletroencefalograma, exame que indica a atividade cerebral, e coleta de amostras de saliva e fezes do bebê. Polanczyk destaca que são procedimentos seguros, que não oferecem nenhum risco, e que os resultados serão informados para os pais, inclusive do sequenciamento genético, exame sofisticado e de alto custo.
As famílias podem contar com reembolso relacionado ao transporte dentro da cidade de São Paulo para as visitas e também lanche, como informa o site do projeto. O pesquisador explica que, se forem detectados atrasos, alterações genéticas e no microbioma, os pais serão informados e os especialistas da equipe estarão disponíveis para conversar com as famílias.
A pesquisa
O objetivo do estudo é entender como podemos prever, logo nos primeiros anos de vida, quem são as crianças que terão boas habilidades executivas e de linguagem.
“Unindo esforços e conhecimentos, com dados de crianças de vários locais no mundo, poderemos alcançar os nossos objetivos e apoiar crianças a atingirem o seu potencial de desenvolvimento e a terem um futuro saudável”, afirma.
O foco do estudo está nas linguagens e funções executivas, que incluem habilidades como organização, planejamento, controle de impulsos, como explica o pesquisador.
“As habilidades executivas são as responsáveis para que consigamos inibir impulsos, planejar e organizar nossas ações e predizem, ao longo da adolescência e vida adulta, saúde, educação e bem-estar mental”, completa.
Ao final do projeto, espera-se ter condições de dizer quais crianças têm boas ou não boas habilidades nessas áreas cognitivas e, com isso, facilitar a implementação de intervenções precocemente para promover essas habilidades nas crianças com mais dificuldade. De acordo com o professor, as estratégias precoces têm o potencial de mudar a trajetória das crianças.
“Se pudermos predizer essas habilidades importantes e melhorá-las, a criança com dificuldade terá um melhor aprendizado aos 7 ou 8 anos”, finaliza.
Redação Vida & Tal
Fonte: Jornal da USP.