Quando percebeu um abaulamento no busto, a odontopediatria e professora universitária Ana Carla Robatto ficou preocupada e começou a investigar. Três meses após dar inicio ao processo de investigação, com a repetição dos exames de imagem e uma biópsia, a confirmação do temido diagnóstico – câncer de mama e a presença de um tumor, relativamente grande.
Carla conta que a princípio sentiu “perder o chão”, mas apesar do susto, sabia que quanto mais rápido o tratamento fosse iniciado, maiores seriam suas chances de cura. Ao compartilhar sua experiência, a odontopediatria prefere destacar as muitas lições que aprendeu na luta pela vida, entre elas “cobrar-se menos”, ao cumprir como a maioria das mulheres, diversos papeis como profissional, mãe, esposa, dona de casa, etc.
“Eu exigia muito de mim, mas hoje vivo com mais leveza, sou menos exigente comigo, me permito errar e me aceito como sou”, revela.
Entre as mudanças em sua rotina depois do câncer, destacam-se novos hábitos alimentares, prática regular de exercícios físicos e yoga. Paralelamente à sua gratidão pela cura e por tudo o que aprendeu, a dentista desenvolveu uma profunda preocupação em relação ao acesso de outras mulheres ao diagnóstico e ao tratamento precoces.
“Fui privilegiada por ser da área da saúde e por ter familiares e marido médicos. Tenho consciência de que o acesso rápido a exames e ao melhor tratamento possível é um privilégio que tive, mas que poucos têm. Saber disso me causa uma grande inquietação e insatisfação, pois realmente acho que todas as mulheres deveriam ter a chance que tive”, ressalta.
Enfrentando e superando desafios pessoais
Durante seu tratamento, Ana Carla começou a estudar para passar em um concurso público.
“Ser professora da Universidade Federal da Bahia era um grande sonho que eu tinha, mas consegui me concentrar e assimilar conhecimentos em meio a quimio e radioterapias é algo realmente muito difícil. Aconteceu algumas vezes de eu ler e reler a mesma frase e não entender nada, pois a capacidade neurológica é afetada durante o tratamento. Mesmo assim, consegui ficar em segundo lugar na seleção e hoje sinto-me realizada ao compartilhar meus conhecimentos sobre odontopediatria com meus alunos da UFBA”, celebra.
Perder os cabelos não é uma experiência fácil para a maioria das mulheres que lutam contra o câncer. Carla conta que a maior preocupação era com os dois filhos, mas também havia uma grande preocupação pela perda do cabelo, que era bem comprido.
“Perdi meu cabelo todo. Eu mesma puxei cada fio que caia, dizendo para mim mesma ‘vá meu cabelo e venha a saúde’. Cheguei a comprar uma peruca, mas preferi não usar nada, nem lenço. Um dia, na radioterapia, uma moça me abraçou e me agradeceu, dizendo que a incentivei a não usar peruca também. Fiquei muito feliz naquele momento”, conta a paciente.
Ao final do seu tratamento, Ana recebeu um convite para participar de uma campanha do “Projeto Repartir” sobre mulheres que tiveram câncer.
“A luta contra o câncer me mostrou que eu poderia ser muito melhor comigo mesma e hoje esta é a mensagem que eu faço questão de transmitir”, declara.
Câncer de Mama
O câncer de mama é causado pela multiplicação desordenada de células anormais da mama. Alguns tumores se desenvolvem rapidamente, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratada adequadamente, apresenta bom prognóstico.
“Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de sucesso do tratamento”, explica a oncologista clínica Renata Cangussu.
Fatores de risco
A idade é um importante fator de risco, já que cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Outros fatores que aumentam o risco são obesidade e sobrepeso. Sedentarismo, consumo de bebida alcóolica, tabagismo, não ter tido filhos, primeira menstruação antes dos 12 anos e menopausa após os 55 anos.
O uso de contraceptivos hormonais, reposição hormonal pós-menopausa por mais de cinco anos, histórico familiar de câncer de mama ou ovário e alterações genéticas.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa de novos casos para este ano é de 66.286. De acordo com Renata Cangussu, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Regional Bahia (SBOC-BA) e membro do grupo “Mulheres na Oncologia”, cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados.
“Com a adoção de hábitos saudáveis, como manter o peso corporal adequado, praticar atividade física, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, parar de fumar e amamentar”, explica a médica.
Nem sempre é fácil notar, especialmente se a mulher estiver com excesso de peso, mas o câncer de mama pode dar sinais mesmo em fases iniciais.
“Os mais comuns são nódulo fixo e indolor, vermelhidão ou retração na pele da mama, alteração no mamilo, pequenos nódulos nas axilas ou pescoço e saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos”, frisa a especialista.
Diagnóstico
Para facilitar o diagnóstico precoce, o Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rastreamento (exame realizado quando não há sinais nem sintomas suspeitos) seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) é de que o exame seja feito anualmente já a partir dos 40 anos de idade.
Sintomas
Sintomas suspeitos devem ser investigados para confirmar a doença. Para a investigação, além do exame clínico das mamas, exames de imagem podem ser recomendados, como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética.
“A confirmação diagnóstica, porém, só é feita por meio da biópsia, técnica que consiste na retirada de um fragmento da lesão suspeita por meio de punções (extração por agulha) ou de uma pequena cirurgia. O material retirado é analisado pelo patologista para a definição do diagnóstico”, explicou Renata Cangussu.
Tratamento
O tratamento do câncer de mama depende da fase em que a doença se encontra (estadiamento) e do tipo do tumor. Pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica (terapia alvo).
Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. No caso de metástases (quando o câncer se espalhou para outros órgãos), o tratamento busca prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da paciente.
Adenomastectomia bilateral
Para a odontopediatria Ana Carla Robatto, o tratamento não foi fácil. Ela fez adenomastectomia bilateral (retirada das duas mamas seguida de reconstrução mamária imediata) e, na sequência, uma sessão de quimioterapia. O maior problema foi que nesta sessão, devido à baixa imunidade, ela entrou em um quadro viral grave causado por um citomegalovírus, e teve que ficar internada por cerca de três semanas.
“Sentia fortes dores de cabeça, não foi fácil. Contudo, por ter entrado na semi-intesiva deitada e ter saído de lá sentada numa cadeira de rodas, me emocionei muito. Depois disso, entrei no banheiro e bati um papo com Deus, me comprometendo a fazer a minha parte”, recorda.
Quando se recuperou da infecção viral, Ana Carla passou por várias sessões de quimioterapia e radioterapia.
“A cura tão esperada veio acompanhada de um sentimento de gratidão enorme pelo acolhimento que recebi de profissionais, família, amigos e até de outros pacientes que também lutavam pela vida. Agora, mais do que nunca, valorizo cada dia ao lado da minha família, exercendo a profissão que escolhi e levando esperança a quem precisa dela. Assim como eu venci o câncer, muitas mulheres também podem vencer”, conclui.
Redação Vida & tal
Fonte: Brandão Comunicação