As lentes de contato estão cada vez mais acessíveis e populares. O número de usuários vem crescendo no Brasil e no mundo, e não só de lentes com grau – as coloridas, para mudar a cor dos olhos, ou as com desenhos, muito usadas em cosplay, também ajudaram a tornar as lentes um objeto que está no dia a dia de mais de 300 milhões de pessoas. Mas um problema vem junto com a popularização: a falta de informação sobre o uso correto.
“As lentes se tornaram rotineiras muito por conta da venda on-line, mas essa prática acarreta um risco, que é a do usuário comprar um produto que tem contato direto com os olhos sem o acompanhamento e as instruções de um médico oftalmologista. E isso é um dos fatores que têm aumentado os casos de infecções oculares”, afirma Claudia Del Claro, chefe do Departamento de Lentes de Contato do Hospital de Olhos de Florianópolis e porta-voz do Setembro Safira, campanha que alerta para os cuidados e problemas causados pelo uso incorreto da lente de contato.
De acordo com o CDC, Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, 80% a 90% dos usuários têm maus hábitos ao usar lentes de contato. Esses erros podem causar complicações oculares como infecções na córnea por acanthamoeba e outros agentes agressivos, podendo levar ao transplante de córnea, perda da visão ou até perda do globo ocular.
Um desses casos veio recentemente à tona: a cantora Simone Ribeiro, de 53 anos, perdeu a visão do olho direito pelo uso incorreto das lentes de contato. Entre os comportamentos de risco, ela afirmou que dormia com a lente, usava a mesma lente de contato por mais tempo que o recomendado e até mesmo usava soro fisiológico diretamente nos olhos.
“As lentes são ótimos recursos ópticos e seguros, mas é preciso usá-las corretamente, seguindo as especificações do fabricante e do médico, e fazendo a limpeza com produtos adequados, por exemplo”, completa a oftalmologista.
E esses erros cometidos são mais comuns do que se imagina! Está na dúvida se faz o uso correto? Listamos os 5 comportamentos mais frequentes – e perigosos!
- Usar água da torneira ou soro fisiológico na limpeza
Esse é um erro que quase todos os usuários de lentes já fizeram – e muitos nem sabem que está errado, como mostrou o caso da cantora brasileira. Produtos como água da torneira ou soro fisiológico não proporcionam o processo correto de desinfecção e remoção das proteínas das lentes. E isso pode levar a doenças oculares como a ceratite por acanthamoeba, que citamos anteriormente.
“Esse protozoário vive na água e, ao lavar as lentes com água comum, ou entrar com elas no mar ou na cachoeira, facilitamos o contato dela com o olho. Por isso, o único produto que deve ser usado para a limpeza de lentes e do estojo é a solução multiuso”, explica a Dra. Claudia Del Claro.
- Comprar lente sem recomendação profissional
Cada olho é diferente e necessita de uma lente de contato específica. Por isso, o correto é consultar-se com um oftalmologista antes de adquiri-las, para receber o diagnóstico correto e indicação do produto mais adequado.
“Gosto de comparar as lentes a sapatos: cada pessoa calça um número de calçado, e o que serve para um não necessariamente serve para outro. Por isso, é fundamental passar por um médico antes de começar a usar”, completa a médica. E nada de compartilhar as lentes! “Esse tipo de comportamento, de compartilhar e até vender e comprar lentes de segunda mão, está se popularizando entre os jovens e está colocando a saúde ocular de todos em risco”.
- Usar lente de contato na piscina, no mar ou no chuveiro
A regra é clara: água e lentes de contato não combinam! De maneira nenhuma a pessoa pode se expor à água – seja do banho, mar, piscina ou cachoeira – usando a lente de contato, pois a água possui microrganismos que podem se instalar na lente, levando a infecções nos olhos.
“A lente é uma grande aliada no dia a dia e dá independência e liberdade ao usuário, mas não pode ser usada em todas as situações”, explica.
- Dormir com lente de contato
Outro comportamento rotineiro e de risco é não tirar nunca as lentes, nem para dormir. Segundo um estudo realizado pela FDA, a agência reguladora de medicamentos dos EUA, aproximadamente um terço dos usuários relata dormir ou cochilar com elas. Só que o hábito, de acordo com a Dra. Claudia Del Claro, aumenta em até dez vezes o risco de infecções oculares graves, que podem levar à necessidade de um transplante ou à perda permanente da visão e até do globo ocular.
“As lentes são tão boas que os usuários acabam abusando e ficando o dia todo com elas. Isso não é indicado, pois provoca baixa oxigenação na córnea. Além disso, ao dormir com as lentes, pulamos o processo de limpeza e desinfecção, que deve ser diário. Isso pode provocar a sensibilização dos olhos, gerando alergias, intolerância e interrupção do uso”, alerta a oftalmologista.
- Usar a lente após o prazo de validade
Você lê a data de validade dos alimentos? Dos cosméticos? E por que, então, esquecemos de conferir a validade das lentes? Se alimentos fora da validade não devem ser consumidos, para as lentes de contato a recomendação é a mesma: se o prazo expirou, elas devem ser descartadas.
“É uma regra importantíssima: não use as lentes após seu vencimento. Respeite o prazo de validade do fabricante, pois ele sabe o período de deterioração do material. Lente fora do prazo perde a segurança e eficácia, além de aumentar as chances de desenvolver problemas nos olhos”, explica a médica. Outro erro comum é usar lentes descartáveis por mais tempo do que o recomendado.
“Se ela dura um mês, a data começa a contar do momento em que a embalagem é aberta, e não o total de dias que você usa. Abriu dia 1, dia 30 deve-se jogar fora. E isso vale se o usuário a colocou uma única vez ou 30 dias”, finaliza a Dra. Claudia Del Claro.
Redação Vida & Tal