A incidência de cálculo renal aumenta em média 20% nos períodos com a temperatura e a umidade mais baixas. Durante o inverno, a desidratação costuma ser maior do que em outras estações, o que pode ser uma explicação para os dados apresentados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Nesse período, o organismo não percebe a sensação de sede, bem diferente do que acontece em dias de calor intenso, quando a percepção fica evidente por causa das altas temperaturas e da transpiração. Com a diminuição do consumo de água, podem ocorrer acúmulos de metabólitos no sangue, sobrecarregando a capacidade de filtragem dos rins e facilitando a formação dos cálculos.
“O sedentarismo também é um fator que pode contribuir para o aparecimento dos cálculos nos dias frios em que a disposição para se exercitar fica menor. A ingestão de comidas com muito sal e proteínas também pode contribuir”, destaca o cirurgião e coordenador de Uro-Gineco da Sociedade Brasileira de Urologia, seccional Rio de Janeiro, José Alexandre Araújo, que pode explicar como se evitar, reconhecer e tratar as temidas pedras nos rins e responder perguntas como:
1) O aumento dos casos de cálculo renal é percebido nas consultas/cirurgias durante o inverno?
A resposta é, sim. E basicamente pela diminuição da ingesta hídrica no inverno. No inverno, frio, você bebe menos líquido, você tem menos sede, bebendo menos líquido você vai fazer menos urina, a diurese diminui, vai lavar menos toda a via excretora urinária. A deposição de sais de ácido úrico e de oxalato de cálcio, principalmente, é maior. Uma “areiazinha” junta na outra e vai formar o cálculo.
Então com certeza no inverno os pacientes se apresentam com mais cálculo e no verão também pelo mesmo motivo. No verão até bebe-se mais líquidos, mas acaba suando mais por causa do calor e não compensando na mesma quantidade com a ingesta hídrica. Então sim, no inverno temos mais crises renais na população em geral.
2) Como evitar os cálculos renais?
Para evitar o cálculo renal o básico é a ingesta hídrica. Logicamente a água é o melhor líquido pra gente beber, o mais saudável, o mais barato. Mas o que eu falo para todos os meus pacientes é que ninguém consegue beber 2, 3, 4, 5 litros de água por dia, todos os dias. Então, se você se hidratar com líquidos o mais próximo do natural e saudável possível, melhor. Pode ser água, água com gás, chás, sucos de frutas cítricas.
O suco de frutas cítricas nos ajuda muito a evitar ainda mais o cálculo renal, porque o ácido cítrico da fruta cítrica age diretamente no ácido úrico, diminuindo a quantidade de ácido úrico na via urinária do nosso organismo. Então, sucos de frutas cítricas naturais, não são aqueles sucos de caixinha, com esses sucos de caixinha o paciente vai acabar virando diabético. São sucos naturais, água, água com gás, chás de uma forma geral. O chá é bom porque ele acaba sendo diurético, então ajuda bastante.
O refrigerante é um vilão por causa do tipo de açúcar e os refrigerantes do tipo zero têm muito sal, e o sal é outro vilão. Refrigerantes normais, zero ou lights devem ser evitados a qualquer custo. Eu falo para os meus pacientes jogarem o refrigerante fora, porque não vai fazer falta nenhuma na vida deles. Mas o resto, a quantidade de líquido pode beber à vontade. Bebidas alcoólicas desde que acompanhadas com a quantidade de líquidos saudáveis junto também ajuda, porque o álcool acaba sendo um forte diurético, pra gente aumentar a quantidade de urina, também ajuda a eliminar cálculos.
3) A genética é um fator de risco?
A parte da genética acaba sendo importante porque a hereditariedade do cálculo renal existe, e existe de forma bem incisiva. Com certeza alguém conhece famílias inteiras que têm histórias de cálculo e isso já está mais do que comprovado. Avós, pais, filhos, netos que têm cálculo renal. Isso acontece, sim, inclusive deve ser investigado em exames de rotina em pessoas que têm histórico familiar de cálculo renal.
4) Qual a importância da hidratação para prevenir?
A hidratação, como já falei anteriormente, é importantíssima para você aumentar o fluxo e manter este fluxo urinário constante lavando sempre a via urinária, tanto o rim como a pelve renal, que é onde cai a urina para chegar ao ureter e o ureter também. Lembrando que o próprio ureter tem uns pontos de estoque de urina onde se não tiver um fluxo renal bom de urina importante, você pode ter cálculo no ureter. E na bexiga também, existem cálculos só de bexiga pelo resíduo miccional elevado na bexiga desse paciente, principalmente homens com próstata grande. A quantidade de líquido ingerida é diretamente relacionada com a diminuição da formação dos cálculos.
5) Quais os sintomas que permitem reconhecer o problema?
Com relação aos sintomas, o mais conhecido é a dor, onde o paciente vai ter dor lombar, geralmente embaixo das costelas, mais para a lateral. Aquela dor que muitas vezes os paciente nos procuram do lado da coluna paravertebral, na enorme maioria das vezes não é cálculo renal, o paciente até pode ter cálculo renal mas não é a dor do cálculo, é a dor da coluna. Mas o contrário também acontece infelizmente com uma certa frequência. Aquele paciente que acha que a vida inteira estava com dor e a dor era na coluna e na verdade era cálculo que foi crescendo e acabou destruindo o rim inteiro do paciente.
Têm cálculos pequenos, médios e muito grandes que são assintomáticos. Então exames de rotina, vale a pena sempre pedir para o seu médico, pedir uma ultrassonografia, seja de abdome total ou via urinária, para dar uma olhada. Por que a gente cansa de operar pacientes com cálculos grandes, chamados coraliformes, totalmente assintomáticos e que são achados em exames de rotina e às vezes levam a perda daquele rim, daquela função renal, e às vezes a gente acaba tendo que tirar esse rim porque está sem função.
Além da dor, o cálculo pode levar a infecção urinária e infecção urinária de repetição, já que quando ele é muito pequeno ele pode passar machucando, arranhando, o ureter e a uretra, que é a saída da bexiga até a vagina ou pênis. E essa “areia” machucando pode gerar um sangramento, pode levar o paciente a ter uma cistite e às vezes até uma infecção renal, conhecida como pielonefrite. Então, a infecção é uma das consequências que pode acontecer também. E além da dor e infecção se o paciente não se cuidar e deixar esse cálculo crescer ele pode perder a função desse rim.
6) Qual o tratamento?
O tratamento é cirúrgico. Existem três opções para o paciente que tem cálculo: ele sair espontaneamente, na grande maioria das vezes cálculos acima de 5 milímetros não saem espontaneamente, logicamente não é matemático, já vi pacientes com cálculo de quase 1 centímetro sair espontaneamente, mas é raríssimo. Até 5 mm a gente espera que esse cálculo vá sair, quando ele está no ureter. Quando ele está no rim quietinho, deixa ele lá, não tem necessidade de operar cálculo no rim assintomático de 5mm, 6mm, 7mm em um paciente quando ele está no rim, só se ele resolver sair. Ou ela sai espontaneamente, como falei, ou não se faz nada, se ele não crescer e não causar dor ele não vai causar maiores problemas desde que ele fique até 6, 7mm dentro do rim. Ou cirúrgico.
E a parte cirúrgica, na enorme maioria das vezes, a gente faz todo via endoscópica, não faz nenhum corte no paciente. A gente entra com o aparelho pela uretra, bexiga e ureter até o rim e a gente dissolve o cálculo inteiro com energia a laser, onde hoje em dia os aparelhos estão cada vez melhores e a gente consegue pulverizar o cálculo. Tanto que o paciente não tem nem fragmento de cálculo para levar para casa e mostrar, a gente consegue quebrar ele inteiro. Isso em cálculos até 1,5 cm.
Quando o paciente tem cálculos renais de 1,5 cm a 2 cm a gente pode fazer da mesma forma com laser ou partir para uma cirurgia chamada percutânea, onde por trás a gente acessa o rim, faz um furo no rim e com o aparelho chega no cálculo e quebra este cálculo, é usado para cálculos maiores, geralmente a indicação é de cálculos acima de 2 cm. E às vezes infelizmente a gente tem que fazer múltiplas cirurgias no paciente porque existem cálculos chamados coraliformes, como o nome já diz são cálculos em formato de coral, onde é preciso fazer 4, 5, 6 cirurgias no paciente para conseguir limpar essa carga enorme de cálculos. Então o tratamento na enorme maioria das vezes é cirúrgico, finaliza.
Redação Vida & Tal