A iminência de vacinas contra a Covid-19, definição de grupos prioritários e estratégias de cobertura geram um questionamento sobre o potencial impacto dessa imunização em gestantes, puérperas e lactantes. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) aponta que esse grupo populacional não integrou os estudos clínicos sobre as pesquisas de vacinas contra esta doença. Por essa razão, ainda não há informações sobre os efeitos dessas vacinas em gestantes.
A ginecologista Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo, explica que atualmente há mais de 100 vacinas em desenvolvimento para prevenção da Covid-19, a partir de diferentes tecnologias. De acordo com a médica, além da segurança e eficácia, é preciso avaliar se as vacinas poderiam estar associadas à ocorrência de aborto, parto pré-termo, má-formação ou outras complicações gestacionais.
“Ainda há poucos estudos publicados sobre essas vacinas em veículos médicos reconhecidos. Precisamos aguardar o impacto da imunização na população geral para avaliarmos sua aplicação em gestantes e puérperas. Por princípio de precaução, não recomendaria a vacinação nesse perfil de mulheres”.
Já o presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo, o ginecologista Geraldo Duarte ressalta que as pesquisas envolvendo gestantes realizadas até o momento ainda não divulgaram os resultados. No Brasil, pelo menos duas vacinas envolveram gestantes em seus grupos de estudo. O médico ainda comenta que as diferentes formas de produção das vacinas também podem influir em eventual indicação para grávidas.
Segundo Duarte, as vacinas contra o SARS-CoV-2 estudadas até o momento utilizam vírus inativados ou ainda de fragmentos do vírus, como seu RNA. Baseando-se no fato de que vacinas com vírus inativado utilizadas para evitar outras doenças já são utilizadas em gestantes, é possível que as primeiras vacinas contra a Covid-19 sejam aquelas que utilizem esta tecnologia.
Outro ponto de atenção elencado por Cecília Roteli Martins diz respeito às mulheres que planejam engravidar. Segundo ela, recomenda-se que a concepção ocorra somente após o recebimento das duas doses da vacina. Caso uma mulher descubra que está grávida após receber a primeira dose, orienta-se que ela aguarde o parto e finalização do puerpério para receber a segunda dose do imunizante.
Outras Imunizações: Menos de 50% das grávidas se vacinaram em 2020
Além de eventual vacina contra a Covid-19, há outras imunizações necessárias à proteção da gestante que precisam de atenção imediata em relação às coberturas. Neste ano de 2020, menos de 50% das grávidas brasileiras tomaram as vacinas recomendadas para a própria proteção e de seus bebês.
As vacinas gestacionais geram anticorpos que são transferidos aos bebês e os protegem nos primeiros meses de vida, enquanto sua imunização própria ainda não está completa. As vacinas recomendadas para gestantes são a dTpa (Tríplice Bacteriana Acelular do Tipo Adulto, contra difteria, tétano e coqueluche), dT (difteria e tétano), Hepatite B e Influenza (gripe). Todas elas são muito seguras, bem toleradas e não geram riscos para mães e fetos.
Ciente da necessidade de informar e conscientizar as mulheres grávidas, a Febrasgo promove a campanha Gestante Consciente. A iniciativa visa disponibilizar dados sobre a importância da vacinação gestacional, quando receber cada uma, como ela age no corpo, quais os benefícios para mães e bebês, qual o papel de familiares e pessoas próximas na proteção da gestante e do bebê, além de outras informações. Para facilitar o acesso, o conteúdo está disponibilizado no site da Febrasgo e suas redes sociais.
A importância da campanha é reiterada por levantamentos do Programa Nacional de Imunizações (PNI) que revelam tendência de queda nas coberturas vacinais, no Brasil, nos últimos anos. Segundo o programa, em 2019, a cobertura vacinal da dTpa foi de 63,23%. Neste ano de 2020, a cobertura caiu para 43,75%. A meta de cobertura é 95%.
Redação Vida & Tal
Fonte: Febrasgo