O público presente no estádio Lincoln Financial Field, na Filadélfia, vibrou com os gols do Flamengo sobre o Espérance, da Tunísia — vitória por 2 a 0 pela Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Mas um momento inesperado também chamou atenção durante a transmissão do jogo: a exibição de um vídeo promocional com a instrutora de zouk brasileiro Anna Hoekstra, australiana que tem se consolidado na dança de origem brasileira. O vídeo foi exibido mundialmente durante o podcast oficial do evento. “Foi muito especial mostrar um novo tipo de Lambada para o mundo inteiro. As pessoas conheceram um pouco mais do universo zoukeiro”, contou Anna.
Pode parecer improvável, mas o zouk brasileiro — ritmo que nasceu nas boates cariocas a partir da Lambada — se espalhou pelo mundo e hoje tem uma comunidade global vibrante. E Anna é um dos nomes que contribui para essa expansão. Natural da Austrália, país que ela define como “o primeiro fora do Brasil a abraçar o zouk brasileiro”, a dançarina começou sua trajetória em 2015 e, desde então, tem passado por dezenas de países, incluindo uma temporada intensa no Brasil que transformou sua forma de dançar e ensinar.
“Foi no Brasil que eu descobri que minha personalidade não era demais, era bem-vinda. Lá me diziam: ‘Fala mais alto, faz mais, vai!’. Isso abriu meu coração”, lembra. Ela passou por cidades como Aracaju, Salvador, Feira de Santana, Brasília e São Paulo, aprendendo samba, forró e bolero com professores locais e dando aulas mesmo sem falar bem o português. “A primeira aula que dei em congresso no Brasil foi sozinha e em português. Eu estava apavorada, mas foi incrível.”
Apesar de não ter um parceiro fixo — algo raro no mundo do zouk —, Anna se destacou em competições como o Jack and Jill, no qual chegou ao pódio diversas vezes. Em 2023, alcançou o terceiro lugar no Worlds, uma das disputas mais prestigiadas do circuito. Mas ela valoriza mais o impacto que gera nas comunidades do que os troféus: “Minhas maiores conquistas são os alunos que crescem com técnica e com o coração aberto”.
Hoje, Anna mora na Filadélfia, nos EUA, onde ajuda a fortalecer uma comunidade local de zouk brasileiro. Segundo ela, o estilo segue crescendo no mundo, com núcleos fortes também na Ásia, Europa e Oriente Médio — embora o Brasil ainda seja o coração da dança. “Todo zoukeiro quer ir ao Brasil. Lá é onde tudo começou. É diferente sentir o zouk brasileiro na terra onde ele nasceu.”
Anna ainda sonha em encontrar um parceiro para colocar em prática as coreografias que já tem na cabeça. “Tenho muito orgulho do que fiz sozinha, mas tem ideias que só posso realizar em dupla”, confessa. Para quem quer seguir seus passos, ela não romantiza a estrada: “A vida é difícil pra caramba. Você sente saudade de tudo, investe muito, nem sempre sabe quanto vai ganhar. Mas se você ama a dança, os alunos e as aulas, aí sim: vale a pena”.