A hipertensão, também conhecida como pressão alta, é uma doença geralmente associada ao risco de infartos e outros problemas cardiovasculares. Mas uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG, por meio do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil), mostrou que essa doença crônica não transmissível também é responsável por acelerar o declínio cognitivo e piorar a memória de pessoas adultas. E esses efeitos podem aparecer mesmo naqueles que conviveram com a hipertensão descontrolada por períodos mais curtos.
O levantamento publicado pela Revista Hypertension, em dezembro de 2020, utilizou dados do estudo longitudinal e multicêntrico Elsa Brasil, que está em andamento em seis capitais brasileiras e acompanha cerca de 15 mil servidores públicos com idades entre 35 e 74 anos.
De acordo com uma das autoras do estudo e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sara Teles de Menezes, os achados da pesquisa sugerem que a hipertensão foi associada a um declínio da cognição e da memória em adultos de forma acelerada, isto é, que não faz parte do processo natural de envelhecimento. Já em idosos, essa associação ainda não é tão clara.
“Até o momento, a hipertensão na meia-idade tem sido consistentemente associada ao declínio cognitivo e a demência, enquanto estudos que avaliaram a hipertensão em idades mais velhas mostraram resultados discordantes. Nossos achados, entretanto, sugerem que a hipertensão foi associada a um declínio cognitivo mais rápido em adultos de qualquer idade”, esclarece Sara.
A pesquisadora explica que a hipertensão afeta a estrutura e funções cerebrais através de vários mecanismos fisiopatológico diretos e indiretos, o que contribui para o declínio acelerado de componentes da função cognitiva, incluindo a memória.
A doença também promove o acúmulo de gordura na parede dos vasos sanguíneos, aumenta a rigidez e deteriora essas estruturas, até que se fechem e se rompam. Com isso, a capacidade cerebral de autorregular o fluxo sanguíneo fica comprometida, o que pode levar ao desenvolvimento da demência e acidente vascular encefálico (AVE). Em estágios iniciais, os sintomas da hipertensão são ausentes e imperceptíveis, mas pioram conforme a hipertensão cause mais danos ao cérebro.
“Esses danos são suficientes para interferir na realização das tarefes da vida diária, acarretando perda de funcionalidade e da qualidade de vida. E esses sintomas não são mais naturais do envelhecimento, mas são característicos de um envelhecimento alterado, patológico”, completa a pesquisadora.
O estudo também avaliou o tempo que uma pessoa convive com hipertensão, mas não houve relação. Isso significa que mesmo as pessoas adultas que conviveram com hipertensão por períodos mais curtos de tempo podem ter impacto na cognição devido a doença.
Pré-hipertensão
Além da hipertensão, a pré-hipertensão também teve associação com declínio cognitivo acelerado. Esse estágio da doença é definido pela pressão sistólica de 120-139 mmHg ou pressão diastólica de 80-89 mmHg.
“Em nosso estudo, encontramos uma associação da pré-hipertensão com o declínio no desempenho em teste de fluência verbal, um teste que avalia componentes da função cognitiva como: função executiva, memória declarativa, semântica e linguagem”, explica Sara Teles. Entretanto, não foi encontrada associação significativa entre pré-hipertensão e o declínio no desempenho em testes que avaliam, especificamente, a memória.
Segundo a pesquisadora, investigar a pré-hipertensão também é importante porque esse estágio da doença tem o maior potencial de prevenção e reversibilidade. E os resultados da pesquisa mostram que o controle da pressão arterial reduziu o ritmo de declínio cognitivo em indivíduos hipertensos.
Redação Vida & Tal
Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)