O HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas) foi o primeiro retrovírus humano oncogênico causador de doença infecciosa, descoberto na década de 80. O vírus infecta principalmente as células do sistema imunológico (LTCD4+), e possui a capacidade de imortaliza-las, fazendo assim com que percam a função de defender o organismo, no entanto, o papel desse vírus na oncogênese ainda está por ser estabelecido.
A detecção da infecção pelo HTLV só foi possível a partir de 1983, quando foram introduzidos testes sorológicos para a avaliação da disseminação viral. No Brasil, estes testes foram introduzidos a partir de 1993, sendo obrigatórios em todos os bancos de sangue. A triagem para esse agente infeccioso também é realizada durante os processos de fertilização in vitro no país.
O retrovírus possui quatro subtipos o HTLV-1 (subtipo que mais causa doenças associadas), o HTLV-2, o HTLV-3 e o HTLV-4. De acordo com o Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, o HTLV de subtipo 3 e 4 foram relatados em alguns indivíduos na África Subsaariana, aparentemente resultado de infecção zoonótica de primatas locais.
Formas de Transmissão
As rotas de transmissão do HTLV-1 e HTLV-2 são: transmissão vertical (de mãe infectada para o filho) durante a amamentação e raramente durante a gestação; relação sexual desprotegida (sem uso de camisinha) com parceiro infectado, compartilhamento de seringas e agulhas (figura 1).
Uma caraterística importante na transmissão desse vírus é o contato direto de célula para célula, ou seja, é necessário para a transmissão eficiente de HTLV que uma célula infectada para uma nova célula hospedeira através de um mecanismo especializado e altamente organizado, conhecido como a sinapse virológica, em que o vírus subverte a fisiologia normal das células T.
Para que esse processo aconteça, diferente de outras infecções virais, o tempo de exposição e a quantidade de células infectadas a qual o indivíduo teve contato, é crucial para que aconteça a infecção.
Sinais e sintomas
O HTLV-1 está associado a oncogênese e a doenças inflamatórias crônicas, tais como a Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto (ATLL) e a mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM). Outras manifestações como a dermatite infecciosa, uveíte, síndrome de sicca, ceratite intersticial, síndrome de Sjögren, tireoidite de Hashimoto, miosite e artrite, embora de menor gravidade também são associados a infecção pelo HTLV-1.
A ATLL é uma neoplasia de células T refratária mais agressiva na sua forma aguda, atinge cerca de 3-5% das pessoas infectadas por HTLV-1, as manifestações clínicas podem ser variadas, mas frequentemente incluem polilinfonodomegalia, hepatoesplenomegalia, envolvimento cutâneo, hipercalcemia, presença de células leucêmicas no sangue periférico e infecções oportunistas. Do ponto de vista laboratorial destaca-se a ocorrência de hipercalcemia e de células leucêmicas no sangue periférico.
Outra manifestação que acomete 5% dos indivíduos infectados por HTLV-1 é a HAM, uma doença neuroinflamatória crônica provocada por desmielinização progressiva da medula espinal. Essa é clinicamente caracterizada por paraparesia espástica, incontinência urinária e distúrbios sensitivos que dificulta a realização das atividades diárias do indivíduo. Além disso, anormalidades sensitivas e da marcha, disfunção vesical isolada, disfunção erétil e síndrome sicca foram relatadas em indivíduos infectados por HTLV- 1. Manifestações urinárias são muito comuns em infectados sem HAM, em alguns pacientes, estes sintomas precede o diagnóstico de HAM por anos, o que sugere uma manifestação oligossintomática de HAM.
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção baseia-se na detecção de anticorpos específicos por meio de testes imunoenzimáticos (EIA), quimioluminescência e aglutinação de micropartículas de látex sensibilizadas, voltadas aos constituintes antigênicos das regiões do core e do envelope viral. Uma vez positivo o teste de triagem (ELISA ou chemiluminescência), é necessária a confirmação, que poderá ser realizada pelo teste de Western-blot (WB), INNOLIA, e/ou reação de polimerase em cadeia (PCR), ou ainda imunoflorescência indireta. O Western-blot e a PCR além de confirmatórios, permitem distinguir entre a infecção pelo HTLV-1 e HTLV-2.
Tratamento
O tratamento é direcionado de acordo com a doença relacionada ao HTLV. A pessoa deverá ser acompanhada nos serviços de saúde do SUS e, quando necessário, receber seguimento em serviços especializados para diagnóstico e tratamento precoce de doenças associadas ao HTLV.
Embora não haja um tratamento curativo para as manifestações neurológicas do HTLV-1 (HAM), recomenda-se que todo indivíduo acometido deve ser assistido por equipe multidisciplinar que inclua profissionais médicos (neurologista, infectologista, urologista, dermatologista, oftalmologista), fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e psicólogos. Por outro lado, casos que apresentam ATLL , o tratamento tem por racional obter resposta completa ou parcial, porém, ainda não existe consenso entre as opções de primeira linha de tratamento.
Prevenção
Recomenda-se o uso de preservativo masculino ou feminino (disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde) em todas as relações sexuais, não compartilhar seringas, agulhas ou outros objetos perfuro cortantes. Da mesma forma, a amamentação está contraindicada (recomenda-se o uso de inibidores de lactação e de fórmulas lácteas infantis).
Redação Vida & Tal
Fonte: Ministério da Saúde.