Embora o jejum intermitente esteja em evidência e comumente apareça como alternativa para a perda de peso, o plano alimentar que inclui algumas ou muitas horas do dia sem realizar refeições, é uma prática que merece atenção e cuidado. No Vida & Tal Entrevista da última quinta-feira (14), o médico Alexandre Baraúna, explica sobre a origem do jejum, além dos mitos e verdades sobre a prática.
Baraúna lembra que jejuar faz parte da história da humanidade. “Nesse período de evolução, há milhões de anos atrás, existe uma coisa muito básica: ninguém acordava nesse período todo com uma geladeira, uma prateleira, uma dispensa ou até mesmo um aplicativo de celular para pedir o café da manhã. Nossos antepassados já acordavam em jejum. Não existia essa forma tão trivial de conservar alimentos, então eles tinham que literalmente acordar e se virar para providenciar o alimento”, revela.
Jejum e atividade física
O médico afirma que é possível realizar atividade física em jejum, porém ressalta que antes de dar início à prática é necessário buscar um profissional habilitado na área, avaliar o estado geral de saúde e se possível traçar um plano de forma integrativa, associando as orientações médica, nutricional e física, de forma adaptativa.
“Existem algumas pesquisas que mostram o aumento da performance com o jejum. Aumento de hormônios importantes como o GH, que é o hormônio do crescimento e tem diversas aplicabilidades, inclusive para quem busca o aumenta da massa muscular. Antigamente era necessário sair à caça, se movimentar, fazer força para arrancar um tubérculo, subir em uma árvore para pegar uma fruta, fugir de um predador. Então trazemos dos nossos antepassados essa memória de adaptação ao jejum. Para mim jejuar é muito natural, tão simples como caminhar”.
Individualidade biológica
“O jejum apesar de ser uma coisa inerente a nossas vidas, como espécie humana, a gente precisa respeitar o ritmo, a constituição, a criação e a individualidade biológica de cada um. Por isso o melhor é fazer um processo de adaptação. Hoje por exemplo, me sinto muito mais disposto, mais focado quando estou em jejum, do que quando me alimento”, revela.
Jejum e saúde mental
Alexandre alerta para o perigo da busca por respostas imediatas, principalmente a partir do jejum.
“Estamos num período onde as pessoas estão vivendo em um imediatismo muito grande, buscam respostas rápidas, pílulas e métodos cada vez mais milagrosos para resolver seus problemas com facilidade. Entre esse grupo de pessoas que querem reduzir o peso, tem pessoas que já vem com um quadro de ansiedade, muitas vezes de baixa autoestima, não generalizando. Pessoas que já tem alterações comportamentais, que muitas vezes já fazem acompanhamento psiquiatrico e psicoterapico. O ideal é que isso também esteja equilibrado para que a pessoa possa passar pelo processo do jejum, porque é comum que haja o efeito rebote – onde o paciente acaba comendo mais depois do jejum, e acaba por desenvolver ou agravar uma bulemia, por exemplo”, destaca.
Jejum e autoconhecimento
Adepto do jejum, o médico revela que entre os benefícios da prática está o autoconhecimento. E compartilhou um pouco da sua experiência durante o jejum prolongado de seis (6) dias, onde aprendeu a diferençar o que é fome, hábito, compulsão e sede.
“Eu percebi que meu ponto de corte são as 48 horas, pois no segundo dia de jejum eu já me notei um pouco impaciente e comecei a buscar justificativas para voltar a comer. Até que corri da cozinha, fui para o quarto, peguei um livro e comecei a ler. No outro dia, parecia que nada tinha acontecido, já era uma outra pessoa. E completar os outros dias já foi muito mais tranquilo”, declara.
Jejum e câncer
Sobre a relação entre o jejum e câncer, Alexandre Baraúna cita o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi, da Universidade de Tóquio, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina (2016), que afirma ser o jejum responsável por desencadear o processo de autofagia, um processo de reciclagem celular.
“Esse conjunto de mecanismos é disparado na célula, que basicamente destroi os componentes defeituosos de uma célula para utilizá-los de uma forma melhor, ou seja, você otimiza o funcionamento da célula. E diversas pesquisas apontam melhoras em diferentes campos como em doenças neurodegenerativas, doenças endocrinas, diabetes mellitus e o câncer”.
Confira a entrevista completa sobre os mitos e verdades do jejum intermitente no perfil do Portal no Instagram @portalvidaetal.
Redação Vida & Tal