O Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) inaugurou, no dia 8 de abril, o Laboratório de Inovação em Saúde Pública (Lisp), iniciativa que busca suprir uma importante demanda represada no estado do Rio de Janeiro: com testes do pezinho. Em sua primeira fase, o laboratório terá capacidade de atendimento de 8 mil crianças por mês, podendo chegar a 24 mil no futuro – número suficiente para atender à rede pública de todo o Rio de Janeiro.
Uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas para detecção de uma série de doenças graves em recém-nascidos no país, o teste do pezinho é capaz de identificar precocemente enfermidades metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, além de infecções virais. A partir do diagnóstico, o bebê pode receber o tratamento em tempo oportuno, impedindo sequelas e, até mesmo, a morte.
Em busca de uma abrangência maior na cobertura de doenças pelo teste do pezinho, em 2021 foi sancionada a Lei no 14.154, que modificou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao atualizar o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) – o qual passa a cobrir uma série de novos exames. Entre as patologias investigadas agora estão hipertireoidismo congênito, fibrose cística, toxoplasmose congênita e atrofia muscular espinhal. Com a nova lei, o teste contemplará até 50 doenças.
Segundo Bruno Leite Moreira, diretor-geral do IPPMG, em 2018 os médicos do hospital notaram um crescente número de atendimentos relativos a doenças avançadas que poderiam ter sido diagnosticadas em sua fase inicial. O diagnóstico não era possível devido ao represamento do teste do pezinho: crianças com mais de um ano ainda não tinham os resultados do exame feito nos primeiros dias de vida, já que a rede pública contava apenas com um laboratório conveniado e que não conseguia realizar mais do que 30% das análises.
Foi a partir da identificação desse cenário que os médicos e pesquisadores começaram a idealizar a criação de um espaço capaz de aliar o atendimento dessa demanda em saúde pública à pesquisa e inovação desenvolvidas na Universidade. Com o auxílio de emendas parlamentares dos deputados federais David Miranda, Chris Tonietto, Lourival Gomes e Paulo Ganime, o projeto pôde ser desenvolvido e começará, em breve, a analisar os exames vindos do IPPMG.
Igor Couto, coordenador técnico do laboratório, afirmou que a previsão inicial é de atender mensalmente 8 mil crianças nascidas no estado do Rio de Janeiro, realizando entre 9 e 12 testes diferentes por amostra – mas a iniciativa tem a capacidade de triplicar esse número. De acordo com Couto, o número de nascidos vivos por mês na rede pública de saúde é de cerca de 15 mil, e a expectativa é de que o Lisp ofereça cobertura total do estado e oferta dos serviços para outras partes do país.
Teste do pezinho é apenas o início
Segundo Edimilson Migowski, diretor médico do laboratório, o primeiro passo para a atuação do Serviço de Triagem Neonatal é o credenciamento do Lisp junto ao governo do estado para autorização da realização dos exames, o que permitirá que os municípios também façam sua adesão ao programa.
“O Lisp tem hoje capacidade de atender 100% dos municípios do Rio de Janeiro e, ainda, de expandir. Aqui no IPPMG teremos a condição de dar o diagnóstico precoce, informar aos responsáveis e orientar o médico da criança por telemedicina, oferecendo suporte ao tratamento imediato e realizando capacitação dos profissionais de saúde.”
Uma futura expansão da iniciativa pretende realizar também o acompanhamento das gestantes e puérperas por meio de exames como da Aids e sífilis, garantindo mais segurança e saúde para a família. Ainda segundo Migowski, o laboratório tem condições de realizar testes para outras doenças, como Zika e Chikungunya.
O uso do papel: tecnologia e inovação
Uma das principais premissas do Lisp é a utilização de uma técnica de coleta, armazenamento e distribuição do material que facilita e barateia os custos de exames como o teste de pezinho. O papel de filtro permite que qualquer agente de saúde possa realizar o exame em qualquer lugar, mesmo os mais distantes dos centros de saúde. O profissional recolhe o sangue do recém-nascido e o deposita em uma tira do papel. Após a secagem do material, ele pode ser enviado até mesmo pelos Correios.
“A conservação nesse papel é excelente, então há exames que a gente consegue fazer de 30 a 60 dias depois da coleta. Poderíamos receber material da Ilha de Marajó, caso necessário” explica Couto.
O laboratório também realizará pesquisas sobre papel de filtro, com a participação de alunos de mestrado e doutorado, para que novas técnicas possam ser desenvolvidas, facilitando a utilização do material e permitindo a expansão para outros exames.
Para o coordenador do laboratório, o avanço do uso do papel de filtro e das pesquisas a serem realizadas pelo Lisp poderá ajudar na prevenção de doenças, desafogando o sistema de saúde e trazendo mais qualidade de vida para os pacientes.
“Os agentes poderão coletar os exames nas escolas, por exemplo, realizando o acompanhamento de doenças que acometem as nossas crianças, como diabetes e doenças renais, e que o centro do sistema público não tem a capacidade de detectar com essa simplicidade”, finaliza.
Redação Vida & Tal
Fonte: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).