Desvendado na década de 1990, o Sistema Endocanabinoide (SEC) é composto por moléculas chamadas endocanabinoides, que são produzidas pelo próprio organismo e são semelhantes aos canabinoides encontrados na Cannabis Sativa (planta), além de receptores espalhados pelo nosso corpo que se conectam aos endocanabinoides em uma espécie de modelo chave-fechadura. O SEC age como modulador de outros sistemas do corpo e tem o potencial de regular diversos processos fisiológicos do organismo, como a fome, o humor, a memória, a ansiedade, o sono, a dor e o estresse, além do sistema imunológico.
Envolvido em processos fisiológicos e patológicos, o SEC ajuda a restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio da maioria das funções do organismo. Se algo está desregulado, o SEC envia endocanabinoides, produzidos pelo corpo, para resolver o problema. Eles ativam os receptores canabinoides, como o CB1, presente predominantemente no sistema nervoso, tecido conjuntivo, glândulas e órgãos, e o CB2, mais prevalente no sistema imunológico, mas que também está presente no sistema nervoso periférico, com objetivo de estabilizar o organismo.
“Quando o Sistema Endocanabinoide está desregulado, a terapia com cannabis medicinal ajuda na ativação dos receptores canabinoides, como o CB1 e CB2. De forma segura, a terapia reestabelece o equilíbrio do organismo e colabora no aumento da qualidade de vida ao paciente”, afirma Rafael Pessoa, diretor médico da Cannect, o maior ecossistema de cannabis medicinal da América Latina.
E como age a cannabis medicinal?
A planta conta com mais 220 fitocanabinoides, mas os mais estudados são o tetrahidrocanabinol, que é o THC, e o canabidiol, que é o CBD.
“São essas substâncias que interagem com os receptores do Sistema Endocanabinoide para aumentar ou diminuir o estímulo e promover o efeito terapêutico desejado no tratamento”, comenta Pessoa.
Quando os receptores endocanabinoides são ativados, eles permitem uma série de reações fisiológicas que influenciam em questões como:
- Inflamações
- Dores
- Apetite
- Pressão dos olhos
- Controles musculares
- Temperatura corporal
- Energia
- Metabolismo
Além disso, o trabalho desse sistema como regulador envolve:
- Reduzir inflamações
- Relaxar a musculatura
- Dilatar brônquios
- Normalizar o fluxo sanguíneo cerebral
- Controlar convulsões
- Regular o sono
No artigo “THE ENDOCANNABINOID SYSTEM AND ITS THERAPEUTIC EXPLOITATION”, publicado pela Nature Reviews, em 2004, o SEC já era reconhecido pelo seu potencial de abertura de novas vias terapêuticas, sobretudo para distúrbios que não dispunham de tratamento satisfatório na ocasião.
“A necessidade de avanços na pesquisa para entender os benefícios e oportunidades do Sistema Endocanabinoide já era latente naquela época e persiste até hoje”, afirma Pessoa.
Em razão do alto custo das pesquisas clínicas e da dificuldade em patentear a cannabis, as comunidades médicas e científicas percebem avanços importantes no uso da terapêutica, com resultados expressivos, sobretudo no enfrentamento de doenças crônicas, como esclerose múltipla e epilepsias. Mais recentemente a abordagem tem contribuído no controle dos efeitos colaterais de doenças como câncer, alzheimer, dor crônica e transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
“Seguimos precisando de publicações científicas com rigor cada vez mais alto. Na prática, estamos vendo avanços importantes em quadros clínicos graves, que eram de difícil controle, com melhora da qualidade de vida dos pacientes a partir do uso da cannabis medicinal. O uso dos canabinoides veio como uma grande ferramenta a ser incluída no ‘arsenal’ terapêutico nas mais diversas especialidades, e é dever da comunidade médica se interessar em aprender mais sobre esse assunto, para dar aos seus pacientes o que há de melhor disponível”, conclui o diretor médico da Cannect.
Redação Vida & Tal