O escritório regional da Saúde sem Dano e o Projeto Hospitais Saudáveis, parceiro estratégico da instituição no Brasil, realizaram no último mês de junho o lançamento regional para a América Latina e o Caribe do Roteiro Global para a Descarbonização do Setor Saúde, uma Ferramenta de orientação para alcançar zero emissões com resiliência climática e equidade em saúde. A apresentação foi feita durante um evento virtual com a participação de representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), da presidência da COP 26, da UNFCCC, da Comissão Econômica para a América Latina e do Caribe, da Agência Andina de Saúde e de governos nacionais e subnacionais da América Latina.
O Roteiro é o primeiro guia a traçar uma rota para zero emissões no setor saúde até 2050. Atualmente, o setor saúde é responsável por aproximadamente 4,4% das emissões globais líquidas de gases de efeito estufa. Portanto, sem a ação climática dentro e fora do setor, as emissões do setor saúde triplicarão para mais de 6 giga toneladas por ano até 2050, o equivalente às emissões anuais de 770 usinas a carvão.
Se os países conseguirem cumprir seus compromissos sob o Acordo de Paris, o crescimento projetado das emissões do setor de saúde poderá ser reduzido em 70%, deixando uma grande lacuna em direção à meta de zero emissões. O roteiro mostra como o setor pode implementar sete ações de alto impacto para reduzir suas emissões em mais 44 giga toneladas em um período de 36 anos, o que equivale a evitar o consumo de mais de 2.700 milhões de barris de petróleo por ano.
O Roteiro, disponível em espanhol, inglês e português, também identifica diferentes trajetórias para a descarbonização do setor saúde em diferentes países. Aqueles com uma grande produção de gases de efeito estufa (GEE) no setor de saúde devem reduzir as emissões de forma rápida e consistente. Da mesma forma, países de baixa e média renda com menos responsabilidade podem implementar soluções climáticas inteligentes para desenvolver sua infraestrutura de saúde, ao mesmo tempo em que enfrentam uma trajetória menos íngreme em direção a zero emissões.
O documento mostra que 84% das emissões climáticas do setor vêm de combustíveis fósseis usados em diversas operações dentro da instalação, da cadeia de suprimentos e da economia global. Esse consumo inclui o uso de carvão, petróleo e gás para operações hospitalares, viagens relacionadas à saúde e fabricação e transporte de produtos de saúde.
Para Josh Karliner, diretor internacional de programas e estratégia da Saúde sem Dano e coautor do roteiro, o mundo experimenta emergências climáticas e de saúde de forma combinada, incluindo aumentos de doenças respiratórias por poluição de combustíveis fósseis e aquelas causadas por impactos climáticos terríveis, como incêndios florestais.
“Os cuidados de saúde suportam o peso dessas duas crises, ao mesmo tempo em que, ironicamente, contribuem para elas com suas próprias emissões. O Road Map traça um caminho no sentido contrário.”
Andrea Hurtado Epstein, coordenadora do programa de mudanças climáticas para América Latina da Saúde sem Dano, afirma que o setor saúde está em um momento crítico.
“Por um lado, a pandemia tornou mais evidente do que nunca as grandes desigualdades entre e dentro dos países em termos de acesso universal a serviços de saúde acessíveis e de qualidade. Especialmente nos países em desenvolvimento, o setor deve ser desenvolvido para fechar essas lacunas. Ao mesmo tempo, não podemos continuar a ignorar o crescente impacto ambiental da atenção à saúde, com a qual o setor está em desacordo com sua missão de primeiro, não causar dano”, declara.
Ainda de acordo com a coordenadora, escolher entre essas duas prioridades é um falso debate. “O roteiro mostra como a transição para cuidados de saúde resilientes e de emissão zero está se reforçando mutuamente com a busca de mais e melhores serviços de saúde para todos”, complementa.
O Roteiro detalha os dados de emissões do setor saúde em nível nacional em 68 países (incluindo Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai), bem como recomendações para governos, agências internacionais, setor privado e sociedade civil para alcançar metas de descarbonização e criar melhores e mais equitativos resultados em saúde global.
As recomendações para os governos incluem contemplar a descarbonização do setor saúde em seus compromissos como parte de sua contribuição nacionalmente determinada (NDCs) ao Acordo de Paris, e desenvolver fortes políticas climáticas intersetorial que protegem a saúde pública contra as mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que apoiam a descarbonização e a resiliência do setor.
“A pandemia COVID-19 demonstrou como o setor de saúde pode enfrentar enormes desafios em um ritmo impressionante quando está suficientemente focado e apoiado. Um esforço ainda maior é necessário para enfrentar os impactos na saúde das mudanças climáticas”, disse o Dr. David Nabarro, enviado especial da Organização Mundial da Saúde no Covid-19, presidente da Global Health e codiretor do IGHI Imperial College London, que também é autor do prefácio do roteiro.
“À medida que nos recuperamos do COVID-19, esses heróis da saúde podem liderar seu setor na proteção da saúde pública contra a crise climática, assim como assumiram a liderança na proteção do Covid-19. A recuperação começa com soluções climáticas transformadoras”, diz Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS.
A resposta e a recuperação do COVID-19 também oferecem uma oportunidade para reconstruir e investir em um setor saúde climaticamente inteligente (resiliente e com emissões zero) como uma estratégia de preparação para desastres e prevenção das mudanças climáticas.
“Além da adaptação, o setor saúde tem um papel importante na mitigação das mudanças climáticas, ajudando a reduzir as emissões totais dos países e contribuindo, com seu importante exemplo, para a construção de uma sociedade de baixo carbono. O Roteiro traça um plano de ação com recomendações que podem ser implementadas em todos os níveis dos sistemas de saúde”, afirma Vital Ribeiro, presidente do conselho consultivo do Projeto Hospitais Saudáveis.
O setor saúde se une à Race to Zero
Complementando os esforços para a descarbonização do setor, a Saúde sem Dano tornou-se o primeiro parceiro de saúde da campanha multissetorial da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC) Race to Zero . O primeiro grupo de instituições de saúde que aderiram ao compromisso público de reduzir pela metade suas emissões até 2030 e atingir emissões líquidas zero até 2050 foi anunciado em maio deste ano. Já são mais de 30 instituições em 18 países.
Seis dessas instituições são brasileiras. Todas são membros do Projeto Hospitais Saudáveis e reportam anualmente seus inventários e ações por meio do Desafio a Saúde pelo Clima , um programa que apoia as instituições do setor de saúde a se tornarem mais resilientes e reduzirem progressivamente suas emissões. Os participantes do Desafio relatam dados e recebem suporte técnico para gerenciar seu impacto climático com base em três pilares: mitigação, resiliência e liderança.
Saúde sem Dano
Saúde sem Dano (Health Care Without Harm) uma organização internacional não governamental que busca transformar a atenção à saúde em todo o mundo para que o setor reduza sua pegada ambiental e se torne líder no movimento global pela saúde e justiça ambiental.
Projeto Hospitais Saudáveis
Representa e coordena as atividades da Saúde sem Dano e da Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis no Brasil. É uma associação sem fins econômicos, dedicada a transformar o setor saúde em um exemplo para toda a sociedade em aspectos de proteção ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, do paciente e da população em geral.
Redação Vida & Tal
Fonte: Rede D”Or São Luiz participa e apoia esse movimento.