O assunto requer atenção porque é preciso entender para reconhecer os fatores que levam uma pessoa a desistir da vida. Falar sobre o suicídio ainda desperta tabus e estigmas, mas os dados mostram a importância da campanha Setembro Amarelo®️, uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM. O objetivo é prevenir e reduzir os casos de suicídio no país. Por isso, as entidades médicas baianas voltaram sua atenção para o problema que também envolve os profissionais de saúde.
De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil, cerca de 12 mil pessoas tiram a própria vida por ano. O país só perde para os EUA. A cada 46 minutos um brasileiro tira a própria vida. No mundo, são cerca de 800 mil de suicídios anuais. Trata-se de uma realidade alarmante, com números crescentes, principalmente entre os jovens. O suicídio é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, tendo a depressão como um dos principais fatores desencadeantes, segundo especialistas. No entanto, a OMS afirma que o suicídio tem prevenção em 90% dos casos.
Quase a totalidade dos suicídios está relacionada a distúrbios mentais, envolve pessoas portadoras de algum sofrimento psíquico e que os transtornos de humor como a depressão respondem por cerca de 36% dos casos, seguida do transtorno personalidade e abuso de substâncias, como explica o psiquiatra Lúcio Botelho.
“A depressão tem alta prevalência na população mundial, com taxas que alcançam cerca de 6 a 8% por ano. É uma doença crônica com tendência a recorrência. Isso significa que quem teve um episódio de depressão na vida, pode vir a ter outros”.
Alguns dos sintomas comuns de depressão são tristeza constante; perda do interesse em atividades rotineiras; redução do apetite com perda de peso, ou o contrário, aumento do apetite e ganho de peso; insônia ou necessidade aumentada de dormir; cansaço e fraqueza todo o tempo; sensação de inutilidade, culpa e falta de esperança; irritação constante; dificuldade em concentrar-se, tomar decisões ou lembrar-se das coisas; e ter pensamentos frequentes de morte e suicídio.
O fator de risco isolado mais importante para o autoextermínio é a história de tentativa prévia. “A pessoa que já tentou suicídio tem 5 a 6x mais chances de tentar novamente. Sabemos ainda que a maioria dos suicidas portavam um transtorno mental não diagnosticado, não tratado ou tratado de maneira inadequada. Dentre esses, os mais comuns são a depressão, o transtorno bipolar, os transtornos de personalidade, transtorno de abuso de substâncias lícitas ou ilícitas e esquizofrenia. Há ainda outros fatores de risco como a desesperança, desespero, desamparo (os três “D”), impulsividade, idade, gênero, doenças clínicas graves, eventos adversos na infância como maus tratos, abuso sexual, e fatores sociais como o desemprego”, explica o psiquiatra.
Com a pandemia, o sinal de alerta requer ainda mais atenção. Um em cada quatro jovens no planeta está enfrentando sintomas agudos de depressão, enquanto um em cinco tem sintomas fortes de ansiedade. As estimativas sugerem que esses problemas dobraram em crianças e adolescentes, na comparação com o período anterior à pandemia de covid-19. Essas são as conclusões de um artigo da Universidade de Calgary, no Canadá, publicado no periódico JAMA Pediatrics em agosto deste ano.
No cenário da saúde, aqueles que direcionam suas vidas para cuidar também estão na faixa de vulnerabilidade. Entre profissionais de saúde, a taxa de suicídio é de três a cinco vezes maior do que na população em geral. A exaustão pode ser fruto da cobrança inerente à profissão, à rotina de trabalho ou ainda por questões individuais e sociais. E o cenário da pandemia agravou a pressão sobre os médicos, que passaram a ter inúmeras demandas, atendimentos extenuantes, não só entre os que estão linha de frente no combate à covid-19, mas também para profissionais de diversas especialidades.
De acordo com o presidente da Associação Baiana de Medicina (ABM), César Amorim, é necessário entender que a saúde mental de diversos médicos pode estar comprometida ou ameaçada. Segundo ele, isso pode ocorrer em função de diversos fatores, seja pela rotina dos médicos, a pressão diária da profissão e dos plantões, a responsabilidade pela saúde dos pacientes, além das suas questões pessoais.
“Somado a todos esses fatores, existe a falta de uma rede de apoio a esses profissionais, que seja capaz de auxiliá-los e de identificar possíveis sinais que indicam a tendência suicida, como uma mudança comportamental ou uma tendência a passar a maior parte do tempo isolado. Isso pode indicar que algo não vai bem com a pessoa e que ela, talvez, esteja prestes a atentar contra a própria vida. Neste cenário, o necessário e talvez o passo mais complicado é admitir que você, médico, que cuida da saúde alheia, pode estar com a saúde abalada. A partir daí, o caminho é procurar ajuda profissional”, afirma.
Apesar da urgência da Covid-19, dos intermináveis e cansativos atendimentos, sobretudo nas UTIs, não se pode negligenciar o lado emocional desses profissionais que estão sobrecarregados e pressionados pelo acúmulo de funções, como afirma o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Dr. Otávio Marambaia.
“Há uma preocupação muito grande do Conselho, tanto regional quando federal, em relação à saúde do médico, principalmente, a saúde mental. O médico tem sido exposto a uma tensão, um estresse e a uma carga de trabalho física extremamente pesada e isso tem redundado em dano, seja uma Síndrome de Burnout, uma depressão e até casos de suicídio. Com essa campanha, esperamos alertar os médicos que não demorem a procurar ajuda médica, pois o médico tem que se cuidar também, fisicamente e mentalmente. Ele deve evitar se automedicar e achar que pode se tratar sozinho, buscando sempre ajuda”.
Além dos sinais de depressão e ansiedade, é preciso ficar muito atento ao estresse, que é prejudicial à saúde e pode trazer danos físicos e mentais. Por isso, nunca foi tão necessário conciliar a vida pessoal e profissional, explica Sammer Victor, membro da Comissão de Comunicação da SAEB e um dos idealizadores da campanha.
“Temos que ter um olhar de carinho e compaixão para com todos os nossos sócios. Sabemos que passamos por momentos muito difíceis nesses últimos dois anos. A SAEB quer ser além de uma sociedade de cunho científico, quer ser uma grande parceira que incentiva e apoia os seus sócios nos momentos mais difíceis, em que eles mais precisam de amparo. Ajudar o próximo é um ato de amor com o ser humano”, ratifica o anestesiologista.
Cuidar da saúde mental é a melhor estratégia para a prevenção ao suicídio.
“Alimentação saudável, sono regular, rotinas bem estruturadas e exercício físico são medidas não farmacológicas que diminuem as chances de depressão. No entanto quando a pessoa estiver passando por um problema psiquiátrico com a depressão, apresentar desesperança, ideias de morte, pensamentos suicidas, o recomendado é que se procure ajuda de um profissional. Cuidar da saúde mental é ser gentil consigo mesmo. É preciso se permitir. Adoecer faz parte da condição humana. Não é demérito, não é vergonhoso ter depressão. Não é sinal de fraqueza tomar remédios para se tratar. Precisamos combater o preconceito e os tabus que cercam a saúde mental, assim, conseguiremos diminuir o impacto do suicídio em nossa sociedade”, salienta Lúcio Botelho.
Redação Vida & Tal
Fonte: Ascom SAEB/ Coopanest-BA/ Brandão Comunicação