Hoje, 05 de julho, Minas Gerais celebra o Dia da Gastronomia Mineira. A data, instituída em 2012, presta homenagem a Eduardo Frieiro, autor de “Feijão, Angu e Couve – Ensaio sobre a comida dos mineiros”, primeiro livro de gastronomia dedicado à culinária mineira.
A data comemora, divulga e valoriza a cozinha de Minas Gerais, esse saboroso resultado da mistura das cozinhas portuguesa, africana e indígena. “Ingredientes, técnicas e modos de se comer podem dizer muito sobre a nossa história”, afirma a historiadora da alimentação e docente do curso superior de Tecnologia em Gastronomia do Senac, Carolina Figueira.
Para ela, essa relação entre o ser humano e o alimento é uma possível explicação para a culinária mineira ser tão singular, pois reflete a história de um povo formado pela miscigenação.
“As identidades são formadas pela troca”, afirma Carolina. “Inevitavelmente, quando a gente entra em contato com alguém, com outra cultura, nós nos contaminamos positivamente do outro”. Uma “contaminação” fundamental que a docente evidencia é a influência da cultura e costumes indígenas na formação do povo mineiro e de sua culinária. Carolina ressalta que muitos ingredientes e modos de preparo que hoje são característicos dos pratos mineiros eram, inicialmente, próprios dos nativos.
Dezenas de etnias viveram onde hoje é Minas Gerais, ajudando a formar a cultura local. Atualmente, ainda vivem no estado os povos Maxakali, Xakriabá, Krenak, Aranã, Mukuriñ, Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe, Catu-Awá-Arachás, Kaxixó, Puris, Xukuru-Kariri, Tuxá, Kiriri, Canoeiros, Kamakã, Karajá, Guarani e Pankararu.
Para salientar a influência dos povos originários para gastronomia de Minas, a docente do Senac dá como exemplo a receita de “Peixe moqueado com tsadaré, banana e paçoca”.
Conforme explica Carolina, o moquém, que dá ao nome do preparo do peixe, é uma grelha de madeira para defumar carne ou peixe. No passado, era muito utilizada por diversas populações indígenas. Inclusive, “moquém”, em Tupi, significa “tornar seco”, o que realmente ocorre com a carne ou o peixe moqueado.
O tsadaré, por sua vez, nada mais é do que um bolo de milho, foi recorrentemente utilizado pelos Xavantes. “Antigamente, os indígenas pegavam o milho seco, debulhavam, colocavam no pilão, trituravam e acrescentavam água. Depois, levavam para a brasa e deixavam um tempo cozinhando até virar uma massa, parecida com um bolo”, comenta a docente.
“Entender a identidade de um prato é compreender todo o percurso, toda a troca que ocorreu até chegar a ele; e não só se limitar a saber de onde os ingredientes vieram”, conclui Carolina.
Redação Vida & Tal