A medalhista olímpica no vôlei de praia Ágatha Rippel e a campeã mundial Duda Lisboa, que representarão o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, utilizam há dois anos um sistema de monitoramento cardíaco com GPS capaz de fornecer dados em tempo real e análises pós-treino para equipes profissionais.
Sabendo da importância de analisar todas as variáveis que cercam a rotina de um atleta profissional, os fisiologistas do esporte se utilizam cada vez mais de dados para o cruzamento de informações e estatísticas de desenvolvimento da performance individual e coletiva dos atletas. Esse foi o caso do estudo produzido junto à equipe de preparação física e fisiologia da dupla, e publicado no Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, abordando o tema “Demanda física de jogo em competições nacionais e internacionais durante uma temporada competitiva”.
A pesquisa e a relação com atletas de alta performance
O acompanhamento da frequência cardíaca e do deslocamento via GPS foi realizado ao longo de toda uma temporada (100 jogos) para entender as demandas das atletas durante as competições.
“Por meio do cruzamento das informações monitoradas com elementos do nosso banco de dados, conseguimos organizar as melhores estratégias de treino, além de ter um feedback sobre as respostas das atletas – se estão sendo sobrecarregadas, se é necessário mais intensidade nos treinos ou mais dias de descanso na rotina, por exemplo. Dessa forma, analisamos esses dados semanalmente e vamos nos adaptando de acordo com as análises”, explica Renan Nunes, responsável pela fisiologia da dupla desde 2017.
De acordo com o fisiologista, com o estudo foi possível notar as diferentes demandas das atletas, de acordo com o papel que cada uma exerce no jogo, e a partir disso traçar a melhor estratégia de treino a seguir.
“Pela função que exerce em jogo, como bloqueadora, a Ágatha acaba apresentando uma maior demanda física se comparado à Duda. Durante o jogo, as diferentes ações no qual a atleta realiza, como saque, recepção, ataque e bloqueio, gera maior demanda física. Nos jogos analisados e mensurados foi possível concluir que ela permanece mais tempo em maiores zonas de intensidade, (principalmente na faixa entre 90-100% da frequência cardíaca máxima), assim como, em diferentes intensidades de corridas, aceleração e pico de velocidade nos jogos”, revela o especialista.
Renam ressalta que o banco de dados foi essencial para analisar as demandas de uma atleta em posição de defesa, a exemplo da Duda, entender seu comportamento físico em competições, e como essas demandas podem impactar de forma diferente entre as atletas.
“No caso dela, sabíamos do desafio que teríamos no desenvolvimento da atleta, pois se trata de uma jogadora muito nova, com diferente nível de treinabilidade e crescimento de desempenho. Como reportado no estudo, embora ambas as atletas permaneçam mais de 50% do jogo em intensidades acima de 80% da frequência cardíaca máxima, a Duda atinge maiores demandas nas zonas de 80-90%, porém, menor em intensidades de 90-100% comparado a Ágatha, assim como, nas demandas de carga externa”, afirma.
Tendo em vista o tempo que as atletas permanecem em cada zona de intensidade cardíaca e de locomoção, e associando esses dados ao cenário pessoal e coletivo da dupla é possível evitar lesões e planejar os próximos passos para um melhor desempenho. Mas o monitoramento de dados não fica só dentro da quadra de areia. Com os relógios embutidos com sensor de frequência cardíaca avançado no punho, os fisiologistas da dupla também conseguem acompanhar o dia a dia das atletas e avaliar se fatores alheios ao treino podem estar interferindo em suas performances.
É observada a variabilidade da frequência cardíaca ao longo da semana, a qualidade do sono e da recuperação noturna, o gasto calórico dentro e fora de cada sessão de exercícios, além do monitoramento de atividades diárias – tudo através dos wearables esportivos.
“O desafio é enxergar a variável, seja ela uma noite mal dormida, um resfriado, um retorno de férias ou até mesmo um estresse emocional, e identificar como ela impacta na rotina de treinos do jogador, a fim de prevenir lesões e principalmente a fadiga, fator ao qual os jogadores de vôlei de praia estão mais suscetíveis”, conclui Renan.
Tecnologia x performance de atletas profissionais
O sistema de monitoramento GPS e de frequência cardíaca já está difundido em diversas equipes ao redor do Brasil, principalmente no campo do futebol. “Nós já temos mais de 15 anos de experiência em sistemas de monitoramento de desempenho de atletas para equipes esportivas de elite, e hoje levamos nossa tecnologia para grandes clubes como Santos, Corinthians, Grêmio e Atlético Mineiro”, declara André Bandeira, Country Manager da Polar Brasil.
Hoje a tecnologia e o esporte caminham de mãos dadas. No futebol já é comum o uso de equipamentos, mas no caso do vôlei de praia a dupla foi pioneira nesse sentido. Quando falamos em medalhistas olímpicos e atletas profissionais é importante ter todos os dados mensurados, para alcançar o nível de aperfeiçoamento saudável e garantir o bem-estar dos atletas. Por isso é fundamental interligar e analisar todas essas variáveis em conjunto”, finaliza Renan.