Inúmeras publicações técnicas discorrem sobre os danos à saúde causados pelo tabagismo e pela fumaça, seja do cigarro convencional ou do “queridinho do momento”, cigarro eletrônico. Pensando nisso, a ACT Promoção da Saúde, lançou uma nota técnica ‘Nicotina: o que sabemos’, elaborada pela médica pneumologista da Universidade de São Paulo (USP) Stella Regina Martins.
Com revisões de publicações da literatura sobre o assunto, o lançamento ocorreu no dia 12 de janeiro, em live do podcast Ciência Suja no Instagram, com apoio da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
O trabalho, específico sobre a nicotina, substância encontrada em todos os produtos derivados do tabaco (cigarro convencional, cigarrilha, cigarro de palha, charuto, cachimbo, fumo de corda, narguilé, cigarro eletrônico, tabaco aquecido, entre outros), mais conhecida por seu grande potencial de instalação de dependência, mostra que ela é também responsável por inúmeros danos aos vários sistemas do corpo humano.
A nota técnica é ainda mais pertinente diante do crescimento do consumo de cigarros eletrônicos e outros dispositivos eletrônicos para fumar entre jovens e da pressão da indústria do tabaco para liberar a venda desses produtos sob o argumento de que eles supostamente seriam menos nocivos à saúde do que os convencionais, o que não tem comprovação científica.
Ao contrário, conforme demonstra a nota, alguns desses produtos podem conter até dosagens mais altas de nicotina e, entre outros elementos trazem o risco de que usuários se tornem dependentes mais rapidamente, além de estarem sujeitos aos demais riscos associados ao consumo desses produtos.
Os achados corroboram a posição da ACT e de outras organizações da saúde na defesa da manutenção da RDC 46/2009, norma que proíbe a venda de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) no Brasil (saiba mais). A resolução está em discussão na Agência Nacional de Vigilância (Anvisa).
No Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado em 31 de maio, a Associação Médica Brasileira (AMB) lançou a campanha “Não se deixe enganar: o cigarro eletrônico vicia e mata!” e um site para reunir informações sobre os malefícios provocados pelos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).
O conteúdo foi elaborado pela Comissão de Tabagismo da entidade, com o apoio da Aliança de Controle do Tabagismo e Promoção da Saúde (ACT), com o apoio da Fundação do Câncer. São 42 perguntas e respostas com as principais dúvidas sobre o dispositivo. O material pode ser acessado em https://amb.org.br/cigarro-eletronico/ .
“Não existe risco reduzido quando o assunto é tabagismo. Cigarro eletrônico nada mais é que uma nova versão do cigarro antigo com a tecnologia incorporada, mas com a intenção de vender a mesma droga. A maioria destes produtos aquecidos contém nicotina, que é altamente viciante. Ao inovar para atrair o público jovem, a indústria tabagista aumenta as chances deles se tornarem fumantes de cigarros tradicionais quando adulto”, destaca Alberto Araújo, presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB).
Mitos e Verdades
Enquanto a indústria tabagista aposta em cigarros eletrônicos e vaporizadores para recuperar mercado, a classe médica alerta: esses dispositivos podem ser mais nocivos do que parecem. A página da AMB foi criada para esclarecer os mitos e verdades sobre estes dispositivos.
“O conteúdo é destinado a médicos, profissionais da saúde, à imprensa e toda a população. Nele, são desvendadas as artimanhas que a indústria tabagista utiliza para vender benefícios inexistentes e falsos para atrair usuários”, observa Diogo Sampaio, vice-presidente da AMB.
O diretor Científico da AMB, Antonio Carlos Palandri Chagas, enfatiza a importância dos esclarecimentos sobre os DEFs.
“Recomendo a leitura do material por pais e educadores, pois com formatos inusitados e sabores a indústria pretende atingir um público mais jovem com os cigarros eletrônicos. Se aqueles que devem orientar as crianças e adolescentes não estiverem preparados, até mesmo para reconhecer que o que o filho ou aluno carrega é um e-cigarro, corremos o risco de ter um crescimento grande de fumantes nestas modalidades”.
Dependência dos cigarros eletrônicos
Dependência mais rápida e muito mais intensa: essa é a consequência dos cigarros eletrônicos na vida dos usuários. Os cigarros eletrônicos (em especial os com formato de pen drive) causam uma síndrome de abstinência sem precedentes.
“São pacientes que ficam extremamente agressivos, irritados e que, muitas vezes, precisam ser internados. Com o surgimento da EVALI em 2019, doença pulmonar provocada pelo uso de DEFs, vimos o quanto estes produtos são prejudiciais à saúde. É preciso conscientizar a população sobre estes riscos e, assim, combater o tabagismo”, avalia Lincoln Ferreira, presidente da AMB.