O termo Dismorfia do Snapchat surgiu em 2018, devido às consequências do sucesso desta rede social, que criou filtros para incrementar as selfies. Os usuários, em especial adolescentes, passaram a usar filtros para afinar o nariz, engrossar os lábios e diversos outros efeitos “embelezadores”. O resultado foi o aumento da procura por procedimentos para ficarem com a mesma aparência na vida real, o que levou uma legião de usuários aos consultórios de cirurgia plástica em busca do que consideravam ser a imagem ideal.
Outras redes sociais, como Instagram, posteriormente copiaram o recurso e o resultado são fotos cada vez mais incrementadas. A brincadeira ganhou força nos últimos anos e tem favorecido o aumento de casos de Transtorno Dismórfico Corporal, em especial, a Dismorfia do Snapchat, quando a pessoa busca ficar igual aos filtros. O cirurgião plástico Ronaldo Soares, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, afirma que são muitos os casos de pessoas que buscam os consultórios em busca de ideais de beleza artificiais e fora da realidade.


“Vemos pessoas que desenvolvem uma obsessão em cima de imagens irreais, que a medicina nem é capaz de proporcionar”, alerta.
Um estudo da Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial (AAFPRS) mostrou que 72% dos cirurgiões sentiram o aumento da procura por estes procedimentos em 2019, 15% a mais que em 2018. O problema se agravou durante a pandemia, visto que o tempo de acesso às redes sociais aumentou com o isolamento social. Ainda não há dados específicos sobre o assunto no Brasil durante a pandemia, mas a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) aponta que nos últimos dez anos houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos, um dos motivos seria a exposição nas redes sociais.
De acordo com o médico Ronaldo Soares, a média de idade dos pacientes com a Síndrome do Snapchat que buscam cirurgias é entre 15 e 30 anos, sendo mais frequente entre os usuários mais jovens.
“Devemos fazer o diagnóstico de Transtorno Dismórfico Corporal e encaminhar o paciente para tratamento com psicólogo ou psiquiatra, pois nestes casos não é recomendado fazer a cirurgia plástica, visto que a probabilidade do paciente se frustrar e piorar seu quadro mental é muito elevada”, explica Soares.
O médico, que também é influencer, já recusou diversos pacientes por esse motivo. “Muitos querem metas irreais, que a medicina não alcança, é algo perigoso”. A auto imagem do paciente precisa ser tratada adequadamente, portanto, ele alerta que médicos que não seguirem os protocolos éticos podem ser responsabilizados.
“O médico que não segue os protocolos e que vier a causar danos ao paciente pode ter a licença cassada e até ser preso”. No caso de adolescentes é ainda mais grave. Ronaldo é enfático em relação à idade: ele não opera pessoas com menos de 18 anos, exceto casos em que haja justificativa, como as conhecidas “orelhas de abano” e outros quadros que de fato tenham relevância na vida do paciente, como deformidades físicas. A recomendação é primeiro buscar terapia e somente após isso avaliar a necessidade de realizar a cirurgia plástica.