Uma doença caracterizada por crises ou convulsões decorrentes da atividade elétrica anormal no cérebro, assim é a epilepsia. Na crise, o paciente pode apresentar movimentos involuntários, variando desde abalos em uma área específica (crises focais) a convulsões com perda da consciência em que o paciente se debate por inteiro sem controle (crises generalizadas). Também podem ser consideradas epilepsia, as crises conhecidas como ausência, mais frequentes em crianças, em que há fixação do olhar e perda da consciência por alguns segundos, dando a sensação de que a pessoa “saiu do ar” por um breve momento.
“É importante destacar que uma crise logo após bater a cabeça num acidente de carro, por exemplo, não é chamada de epilepsia, pois teve uma causa clara e momentânea, sem que haja novas crises assim nos dias seguintes”.
A explicação é do neurocirurgião do Instituto do Cérebro do Rio de Janeiro, Pedro Góes, que em entrevista exclusiva para o Vida & Tal falou sobre a alternativa cirúrgica para o tratamento da epilepsia.
Quais as causas e consequências da epilepsia na vida do indivíduo?
A epilepsia ocorre por uma desregulação da atividade elétrica normal do cérebro. Diversos são os fatores que podem estar relacionados a um funcionamento anormal dos neurônios: herança genética, tumores indolentes, malformações cerebrais conhecidas como displasias, entre outros. Até mesmo sequelas de traumatismo craniano ou de AVC podem virar focos epileptogênicos.
As consequências dependerão da idade, do tipo e da frequência das crises. Acidentes, com quedas causando fraturas ou machucados. Prejuízo psicológico e social, pois muitas vezes os pacientes com epilepsia são estigmatizados por colegas, podem ser vítimas de bullying, ou mesmo ficarem constantemente receosos de terem crises.
Crianças com crises muito frequentes podem ter atraso do desenvolvimento neurológico, atrapalhando o aprendizado. Então, de uma maneira geral, se o paciente não faz tratamento adequado e as crises não são controladas, os impactos na qualidade de vida são inúmeros e muito graves.
Tratamentos – vantagens e desvantagens?
O tratamento da epilepsia é centrado no médico neurologista e ocorre pela escolha da medicação mais adequada para o tipo de doença que cada paciente apresenta. A maioria dos pacientes consegue atingir o controle das crises. Desde que tomem corretamente suas medicações, ficarão livres das convulsões e poderão ter uma vida normal. Infelizmente cerca de 30% dos pacientes não conseguem esse controle e precisarão de uma avaliação ainda mais profunda para definir o melhor tratamento.
Quando há indicação para cirurgia?
Como disse, a maioria dos pacientes consegue controlar as crises com medicações. Esses seguirão com tratamento clínico e não será indicada a cirurgia. Já para aquele menor grupo (cerca de um terço dos pacientes) com resistência a medicamentos, a cirurgia pode ser uma opção bastante eficaz.
Será preciso uma análise de diversos fatores da ressonância, do eletroencefalograma (EEG) e até do vídeo EEG (em que o paciente é analisado na hora da crise) para que neurologista e neurocirurgião decidam em conjunto se aquele paciente é candidato a cirurgia e qual a melhor estratégia, – se a retirada de uma área específica do cérebro ou o implante de eletrodos no nervo vago (VNS) ou em áreas do cérebro (DBS). Essa avaliação mais profunda é obrigatória para que os riscos sejam mínimos e o controle das crises seja o melhor possível.
Quais são os riscos?
Como toda cirurgia cerebral, há riscos, mas atualmente a segurança cirúrgica é mais avançada e eles são mínimos. Não há um único tipo de cirurgia para epilepsia. Cada caso terá seus riscos específicos, a depender da localização do foco e da abordagem planejada.
Há contraindicações?
As contraindicações dizem mais respeito a um tipo ou outro de cirurgia, havendo sempre uma alternativa mais indicada para esses pacientes sem controle das crises e com prejuízo nas atividades. Como mensagem final, gostaria de destacar que a cirurgia não é o tratamento inicial de epilepsias e que a decisão da melhor estratégia depende sempre da avaliação de um neurologista com experiência no assunto.
Pedro Góes é graduado em Medicina e doutorando pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com residência em Neurocirurgia e mestrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), neurocirurgião do Instituto do Cérebro do Rio de Janeiro (RJ), e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia com estágios na Harvard Medical School (Boston/EUA); na Universitäts Klinikun Tübingen (Alemanha) e na University of Toronto (Canadá).