A esporotricose é uma micose causada pelo fungo universal da espécie Sporothrix spp, mas causa doenças especialmente em indivíduos que residem em países de clima tropical e subtropical. O fungo Sporotrhix spp habita a natureza e está presente no solo, palha, vegetais, espinhos, madeira. A esporotricose, em sua forma clássica, foi por muito tempo conhecida como “a doença do jardineiro”.
Isso porque era comum acometer esses profissionais, assim como também agricultores ou outras profissões e indivíduos que tivessem contato durante atividades de lazer com plantas e solo em ambientes naturais onde o fungo estivesse presente. Além de atingir seres humanos, também acomete várias espécies de animais silvestres e domésticos, principalmente o gato e o cachorro. Enquanto os cachorros adquirem uma forma de baixa virulência, semelhante a dos humanos, os gatos geralmente adquirem uma forma grave e disseminada da doença.
Quando o profissional ou o cuidador tem contato com o gato, por meio de arranhões ou trato respiratório, ou com a pele contaminada, esse indivíduo pode adquirir a esporotricose zoonócia, transmitida por felinos. Não há relatos de transmissão de homem para homem e de cachorro para homem. A maioria dos relatos é de transmissão de gato para homem e de gato para cachorro.
Especialistas admitem que a doença hoje é considerada a maior infecção por animais no mundo. No Brasil a doença também é transmitida pela espécie, exclusiva, Sporothrix brasiliensis. Atualmente, a esporotricose zoonótica já é considerada uma hiperendemia na cidade do Rio de Janeiro.
Isso se deve à transmissão pelo contato com felinos doentes que são abandonados ou que vivem nas ruas. Gatos apresentam alto potencial de transmissão, pois os fungos estão presentes em grande quantidade no aparelho respiratório por meio de secreções, e nas lesões cutâneas e de outros tecidos em casos mais graves.
A transmissão pode ocorrer pelo contato com gotículas de secreção respiratória do gato afetado na fase inicial da doença, com a pele sadia, porém contaminada com o fungo, com as lesões no pelo, unhas, olhos, boca e patas, como também por meio de mordeduras ou arranhaduras de gatos enfermos. Esses animais têm o costume de se esfregar e lamber uns nos outros, e esse comportamento colabora para a disseminação da esporotricose – não só entre eles, mas também entre gatos e humanos.
Mas não é só a cidade do Rio de Janeiro que tem apresentado casos. Em São Paulo, já em 2015, foram relatados surtos em um bairro da zona leste, Itaquera. O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recebeu uma denúncia e, por meio de uma busca na região, encontrou mais de 100 felinos com esporotricose.
Na época, cerca de 13 pessoas que tiveram contato com os animais foram diagnosticadas com a doença e encaminhadas para tratamento. Há outros casos descritos na região centro-oeste e região sudeste e sul. É muito importante se atentar para estas informações a seguir: quando um gato é diagnosticado com a doença em estágio inicial, é possível que, após longo tratamento, atinja a cura.
Todavia, caso o animal morra, ele não pode ser enterrado, pois isso propagaria o fungo no meio ambiente. O corpo precisa ser cremado. Porém, na maioria dos casos, mesmo com o tutor presente, o animal é erroneamente abandonado para vir a falecer na rua.
Já os animais que vivem em situação de rua, acabam morrendo e sendo deixados ao ar livre. Essas duas situações perpetuam a doença porque permitem que o fungo se espalhe e se reproduza no meio ambiente, acometendo outros gatos abandonados e sadios que vivem nas ruas.
Sintomas
Nos felinos, os sintomas são variados. Os sinais mais comuns são as lesões ulceradas na pele, ou seja, feridas profundas, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente. Em seres humanos, normalmente, a infecção é benigna e se limita apenas à pele, mas há casos em que ela se espalha por meio da corrente sanguínea e atinge ossos e órgãos internos.
O período de incubação do fungo no organismo pode levar de sete a 30 dias, podendo chegar até a seis meses após a infecção. Os sintomas variam de acordo com a forma com que se manifesta, ou seja, se ela é cutânea ou extracutânea. O mais comum é que primeiro apareça um pequeno nódulo doloroso, bem similar a uma picada de inseto.
Ele pode ser na cor vermelha, na rosa ou na roxa; ser purulento ou não, e o mais corriqueiro é que surja no dedo, na mão ou no braço em que o fungo penetrou. Na versão extracutânea, como o fungo pode comprometer diversas áreas do organismo, os sintomas variam de acordo com a que foi afetada. Se afetar os ossos e as articulações, os sintomas são similares ao de uma artrite infecciosa. Já quando atinge os pulmões, por exemplo, os sintomas se assemelham bastante aos da tuberculose. Nos casos das formas cutâneas, ela pode surgir em três tipos diferentes:
Cutâneo-linfática: é a mais frequente e se caracteriza por um nódulo ulcerado que, geralmente, ocorre no sítio de inoculação, ou seja, na mordedura, no arranhão, o local de contato com o animal doente. Dele, se forma um cordão endurecido que segue por um vaso linfático em direção aos gânglios. Ao longo desse cordão, outros nódulos são formados, e também podem ulcerar, fistulizar ou drenar pus.
Cutâneo-disseminada: espalham-se por toda a pele e são mais frequentes em pacientes imunodeprimidos como doentes renais e pessoas contaminadas pelo vírus HIV.
Cutâneo-localizada ou cutânea-fixa: caracteriza-se por um nódulo avermelhado e pode ser duro com superfície áspera ou ulcerada. Além dos membros superiores, pode atingir também as mucosas, como os olhos e a boca.
Tratamento
A doença não é considerada grave e tem cura. Porém, seu tratamento deve começar logo. São raros os registros de mortes em humanos. Eles são mais comuns em pessoas com a imunidade baixa, como alcoólatras, portadores de HIV, aquelas submetidas à quimioterapia para tratamento de câncer ou com doenças renais e diabetes.
Quando não tratada corretamente, a doença pode levar também o animal à morte. Em humanos, o diagnóstico é feito por um médico dermatologista e o tratamento pode ser longo, por volta de três a seis meses, podendo chegar a um ano. E, em momento algum, deve ser abandonado.
Há uma série de medicamentos que podem ser prescritos no tratamento: iodeto de potássio, foi a primeira droga eficaz usada, mas pode causar inúmeros efeitos colaterais. Levando isso em conta, o medicamento mais receitado é o antifúngico itraconazol, inclusive para os animais.
Além desses dois medicamentos, há a possibilidade do tratamento ser feito à base de terbinafina, fluconazol e antofericina B. Atenção: a automedicação nunca deve ser feita.
Prevenção
A esporotricose é considerada uma doença negligenciada e um problema de saúde pública. Ela decorre da ausência de um programa ou de ações de controle; da falta de medicação gratuita para o tratamento, tanto em humanos quanto em animais; e do desconhecimento da população sobre as medidas de controle.
O gato não é o vilão. Na verdade, é a maior vítima da doença. Por enquanto, infelizmente, não há nenhuma vacina (para humanos ou animais) contra a esporotricose. Porém, em 2016, a Unesp (Universidade do Estado de São Paulo) divulgou que está desenvolvendo uma vacina veterinária, indicada aos gatos, contra a doença.
No caso de o animal de estimação apresentar a doença, o ideal é que ele seja isolado e receba tratamento. É importante frisar, novamente, que em caso de morte do animal com esporotricose, o corpo precisa ser cremado e não enterrado, para que o fungo não se espalhe pelo solo e outros animais, e até mesmo pessoas, possam ser contaminados.
O ideal é que o gato não saia de casa, evitando, assim, que contraia esta ou outras doenças. Para quem trabalha ou gosta de jardinagem ou de mexer na terra, para atenuar os riscos de contrair a doença, é importante que se use roupas e luvas protetoras ao manusear o jardim ou outros materiais que possam estar contaminados com fungos.
Redação Vida & Tal
Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).