O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019) revelou dados inéditos sobre o estado nutricional, anemia e deficiência de vitaminas e minerais, em crianças de até 5 anos no Brasil. Um dos resultados da pesquisa aponta que a insuficiência de vitamina D nessa faixa etária não é um problema de saúde pública no país, e a prevalência da deficiência de vitaminas e minerais reflete as desigualdades socioeconômicas no solo brasileiro.
“A prevalência da insuficiência de vitamina D em crianças menores de 5 anos é de 4,3% no Brasil: 0,9% no Nordeste, 1,2% no Norte, 2,2% no Centro-Oeste, 6,9% no Sudeste e 7,8% no Sul. Os dados sugerem que a suplementação universal desse micronutriente, para todas as crianças, não é necessária. Casos específicos devem ser avaliados e acompanhados individualmente”, explica o coordenador nacional do ENANI-2019, Gilberto Kac, que é professor titular do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ.
O ENANI-2019 aponta que a taxa de deficiência de vitamina B12 em crianças menores de 5 anos é de 14,2% no Brasil, com grande diferença entre as macrorregiões: 28,5% no Norte, 14% no Sudeste, 12% no Centro-Oeste, 11,7% no Nordeste e 9,6% no Sul.
Desigualdade socioeconômica
As desigualdades também aparecem no recorte econômico e no quesito raça/cor. A proporção de crianças nessa situação é maior nas famílias mais pobres, classificadas no primeiro quinto do Indicador Econômico Nacional (IEN) (18,8%) e entre as crianças pretas (16,7%) e pardas (15,2%).
“Os dados refletem a situação socioeconômica das famílias brasileiras e corroboram o cenário de insegurança alimentar descrito pelo ENANI-2019. As fontes de vitamina B12 são exclusivamente alimentos de origem animal, principalmente – carne bovina, suína, fígado, vísceras e peixes. A dificuldade de acesso a esses alimentos pode estar relacionada à alta prevalência de deficiência de vitamina B12 nessa faixa etária”, esclarece Kac.
Em relatório publicado em setembro, o ENANI-2019 revelou que quase metade das famílias brasileiras com crianças menores de 5 anos (47,1%) vive em algum grau de insegurança alimentar.
Anemia e deficiência de vitamina A
O ENANI-2019 mostra que o predomínio da anemia em crianças brasileiras de até 5 anos foi reduzido à metade nos últimos 13 anos: de 20,9%, em 2006, para 10,1%, em 2019. O cenário foi registrado em todas as regiões brasileiras, à exceção do Norte, que apresentou aumento de 6,6% neste período, subindo de 10,4% em 2006 para 17% em 2019.
Já a prevalência da anemia por deficiência de ferro em crianças até 5 anos foi de 3,5%, em âmbito nacional. A maior incidência foi registrada na região Norte (6,5%) e a menor na região Nordeste (2,7%). Assim como a anemia, a anemia por deficiência de ferro é mais comum entre crianças de 6 a 23 meses (7,9%) do que na faixa etária de 2 a 5 anos (1,3%).
Em relação a deficiência de vitamina A, nesta faixa etária, foi de 6% no Brasil. Uma redução relativa de 65,5% em relação a 2006, quando observou-se prevalência de 17,4%. Os maiores índices de deficiência de vitamina A foram encontradas nas regiões Centro-Oeste (9,5%), Sul (8,9%) e Norte (8,3%) e a menor na região Sudeste (4,3%).
Ineditismo
Kac destaca que, até então, havia poucos dados sobre a avaliação de biomarcadores do estado nutricional de micronutrientes em crianças de até 5 anos.
“O ENANI-2019 é a primeira pesquisa com representatividade nacional a avaliar, simultaneamente, nessa faixa etária, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes. O estudo com abrangência nacional mais recente era de 2006 e abordava exclusivamente anemia e carência de vitamina A. Agora, novas evidências científicas estão disponíveis para apoiar políticas públicas de saúde”, conclui.
Coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o relatório técnico está publicado e disponível no site da pesquisa.
Redação Vida & Tal
Fonte: Fiocruz.