Tomate, abóbora, abobrinha, cenoura, espinafre, pimentão, aipim, todos os tipos de tempero como salsa, coentro, sálvia, endro, tomilho, rúcula, muitas mudas de árvores frutíferas como limão galego, tangerina, pitanga, acerola, tudo isso junto e perfumado de jasmim. Imaginou um pomar, um botanic garden, uma chácara ou um sítio no interior, certo? E se eu te disser que tudo isso está em um terreno localizado ao lado de uma escadaria que liga a rua Cardial, em Santa Tereza, com a rua das Graças, no bairro de Fátima, em plena efervescente e maravilhosa cidade do Rio de Janeiro?
A iniciativa da turismóloga Janete Pontes, moradora do bairro há 15 anos, teve início em maio de 2019 com o intuito de produzir alimentos orgânicos, tornando o local antes inóspito, em um lugar frequentado e cuidado pelos moradores.
“Para começar joguei a ideia em um grupo de moradores do bairro de Santa Teresa nas redes sociais. Muita curtida, muito comentário, mas na hora marcada só apareceram duas pessoas. E começamos a partir daí. Depois já tinham 15 pessoas fixas ajudando, e sempre aparecia gente nova trazendo uma sugestão, muda ou sementes”, revela.
Entre os pioneiros, o ator Alan Pellegrino e sua esposa, moradores há quatro de Santa Tereza, contam que ter uma horta já era um desejo antigo e por isso atenderam imediatamente ao chamado de Janete.
“Participamos do início da horta. Abrimos a primeira faixa de plantio juntos com mudas de tomate, hortelã, pimentão e cenoura. Com três meses já podemos colher e foi emocionante ver aquela horta ganhando vida. Dando frutos. A relação com o alimento é outra por ter plantado. Também é prazeroso ver um espaço público que por vezes fica abandonado dependendo de uma ajuda do poder público, se transformar em algo comunitário onde todos colaboram”, declara Pellegrino.
Mas nem tudo é tão simples o quanto parece. Como o local não tem água, os moradores enfrentaram dificuldades para regar a horta. De acordo com Janete, atualmente graças a colaboração de dois edifícios que circulam o terreno, uma vaquinha e a doação de vasilhames de 5 litros com tampa, é possível regar a horta em sistema de rodízio. Outra dificuldade enfrentada é justamente por conta da falta de participação da comunidade.
“Atualmente estamos apenas em três. Por conta disso, a horta está um pouco abandonada, mas ainda dispomos de mudas de frutas, aipim, cana que está crescendo, rúcula, cúrcuma, capim limão”, lamenta a idealizadora do projeto que afirma que além dos alimentos orgânicos, saudáveis, a horta promoveu uma interação e união entre a comunidade, reunindo jovens, adultos, idosos e crianças que não se conheciam, aprendendo técnicas de plantio e comendo vegetais que nunca haviam comido antes.
“Eu nunca tinha provado rabanete. Com a horta comi e adorei. O melhor é saber que todas essas pessoas agora tem uma hortinha dentro de casa. Que a ideia sirva de inspiração para outras pessoas e lugares”, finaliza Janete.
Para Alan, a ocupação de espaços públicos como praças e canteiros é um reflexo de como o individuo se comporta enquanto sociedade, e cuida da sua cidade.
“Quando ocupamos percebemos que a vida também está ali e que a horta, as praças e os nossos canteiros refletem também o que somos como sociedade. A quarentena nos trouxe a necessidade de nos reconectarmos com nossos espaços, sejam eles públicos ou até mesmo o quintalzinho privado da nossa casa. O importante é o exercício de se reinventar como seres humanos e nos reconectar de verdade com a natureza”, revela o ator que atualmente mantem um canal de culinária no Youtube, “Quarentena Comida”.
Redação Vida & Tal