O leite, uma das commodities agropecuárias mais importantes do mundo, está entre os cinco produtos mais comercializados, tanto em volume quanto em valor. No Brasil, o segmento dos laticínios é o segundo mais importante da indústria de alimentos, já que o leite e seus derivados estão entre as fontes mais baratas de proteína, cálcio e vitaminas A e D, segundo dados publicados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Embrapa).
Mas apesar do alto consumo de leite e derivados pelas quatros cantos do planeta, estima-se que 70% da população mundial sofra de intolerância à lactose e boa parte adote a cultura do “lac free”, em busca de um estilo de vida mais saudável.
Alergia à proteína do leite
Modismos alimentares à parte, é preciso esclarecer a diferença entre “intolerância à lactose”, que é o açúcar do leite e “alergia à proteína do leite”, a caseína. Segundo a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban), um copo de leite (200 ml) fornece 122kcal e 7,2g de proteínas. As proteínas do leite são divididas em 80% de insolúveis (caseínas), e 20% de solúveis, que são as proteínas do soro do leite.
O médico pós-graduado em nutriendocrinologia, Alexandre Ivo Baraúna, explica que diversas condições clínicas estão associadas a alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A APLV é definida como uma reação imunológica adversa e específica à proteína presente no leite de vaca.
“É a alergia alimentar mais comum na infância e, às vezes, precede o desenvolvimento de alergias a outros alimentos, particularmente ovo e amendoim. A alergia pode ser IgE mediada, não IgE mediada ou mista. Após o antígeno, isto é, o agente agressor entrar no organismo, o anticorpo IgE liga-se aos mastócitos e basófilos e nesta ligação as células do sistema imune secretam histamina e outras substâncias químicas, como citocinas inflamatórias, causadoras dos sintomas alérgicos”, explica.
Ainda segundo Baraúna, aqueles que possuem alergia a proteína do leite de vaca, costumam apresentar reações imediatas, minutos após a ingestão, em geral com sintomas cutâneos, gastrointestinais, respiratórios e podendo evoluir para um quadro de anafilaxia. Já as reações tardias, que ocorrem dias depois, têm como sintomas predominantes os gastrointestinais.
Diagnóstico
“O diagnóstico é feito com base na história clínica somado ao teste cutâneo e/ou IgE séricas específicas para APLV. Na prática, de forma simples e para aqueles com dificuldade de acesso aos testes específicos, a dieta de exclusão do leite de vaca e seus derivados, bem como aqueles alimentos que possam conter traços do leite de vaca, também pode ser útil para o diagnóstico conclusivo de APLV”, finaliza o médico.
Primeira infância
De acordo com a nutricionista, Dayse Paravidino, a alergia à proteína do leite de vaca afeta cerca de 5% dos bebês, causando problemas nutricionais consideráveis.
“A caseína, proteína do leite, pode agredir muito o organismo. O sistema imunológico age contra essa proteína, gerando uma alergia. Em crianças geneticamente predispostas e com epigenética também favorável, o consumo de leite pode exacerbar as tendências atópicas, como a predisposição para asma, eczema e alergia alimentar”, explica.
Ainda de acordo com a nutricionista, estudos mostram que bebês com histórico familiar de atopia, e que usam fórmulas artificiais de proteínas do leite, apresentam maiores riscos de desenvolverem alergias.
“Mas o leite não causa apenas alergias, ele pode causar também sintomas gastrointestinais, como: constipação ou diarreia, sangue nas fezes, refluxo, chiado no peito, baixo ganho de peso e crescimento, reação anafilática. Além disso, sintomas comportamentais como déficit de atenção e hiperatividade também podem ser observados”, alerta.
Intolerância à lactose
“Já a intolerância à lactose, o açúcar presente no leite, ocorre porque precisamos da enzima lactase para quebrar esse açúcar. Ao longo da vida, muitos de nós perde a capacidade de produzir lactase, após o desmame, daí a dificuldade na digestão de leite e derivados”, revela.
Segundo Dayse Paravidino, aproximadamente 80% da população brasileira possui algum grau de intolerância à lactose, cujo diagnóstico pode ser feito pela observação dos sintomas associados à ingestão de alimentos sem lactose.
“A intolerância à lactose causa apenas sintomas intestinais que podem ocorrer em minutos ou horas após a ingestão de leite de vaca, ou de outros animais, e derivados. As principais reações são a diarreia, cólica, gases e distensão abdominal (barriga estufada). É importante lembrar para as mamães que estão amamentando que nem a intolerância à lactose e nem alergia a proteína do leite (APLV), significa o fim da amamentação. O leite materno é o principal alimento para o bebê”, finaliza.