“Futebol não se faz sem dinheiro. Tampouco se faz apenas com dinheiro”, diz a CEO da Universidade do Futebol, Heloisa Rios, que junto com os sócios João Paulo Medina e Rafael Lacerda, lança o livro Muito Além da Bola – O Futebol que Transforma. O trio convida o país a sair da máxima de que o futebol é um esporte de paixões e de milhões para pensá-lo de forma estratégica, como mola propulsora de transformação econômica, social e cultural.
O futebol é uma indústria que movimenta mais de 50 bilhões de reais por ano, o equivalente a cerca de 0,72% do PIB. É um grande negócio. Porém, os números estão aquém do seu potencial. Baseada em pesquisas, a publicação conclui que a riqueza gerada pelo esporte poderia ser o dobro da atual, ampliando significativamente os atuais 156 mil postos de trabalho vinculados à atividade.
Segundo João Paulo Medina, mesmo sendo uma arena de cifras milionárias, o futebol abre seus portões para poucos convidados. “Pelos nossos levantamentos históricos, somente 0,03% de todos que começam no futebol se tornam jogadores profissionais. Desses, 55% recebem até um salário mínimo. A renda poderia crescer, por exemplo, com atletas que fossem formados não só dentro, mas também fora do campo”, destaca Medina.
Um dos caminhos é a reformulação na cultura organizacional dos clubes, fazendo com que eles se preocupem com o que acontece fora do jogo.
“Para a maior parte dos jogadores falta apoio. Não estamos falando apenas de questões de assistência médica ou trabalhista, mas da falta de compromisso com o desenvolvimento dos atletas, o que inclui a educação. Há casos de jogadores semianalfabetos, com dificuldade até para assinar as súmulas”, exemplifica Medina.
Para o treinador do sub-20 do São Paulo, Alex de Souza, ex-jogador do Coritiba, Cruzeiro e Palmeiras, as tentativas de importar modelos acabam fracassando. “Eu visito o Nuremberg, na Alemanha. Vejo algo maravilhoso que funciona lá e trago para o meu clube. Mas eu não trouxe a cidade de Nuremberg, o pensamento de Nuremberg, a história de Nuremberg”, analisa Alex. As diferenças culturais, claro, pesam. “Ficamos no meio do caminho e, ficando no meio do caminho, a gente se torna mediano”.
Na visão dos especialistas, o investimento nas categorias de base é muito baixo, falta espírito coletivo entre os clubes, há resistência ante novas tecnologias e, principalmente, falta boa gestão.
“A proposta do livro é fazer o mercado enxergar o esporte além do jogo de domingo”, explica Heloisa. Na visão da CEO, um dos maiores gargalos do futebol são as rupturas nas gestões dos clubes, entidades associativas em que os conselhos deliberativos têm muito poder. Grupos rivais que se alternam na direção e a regra é desprezar tudo que o antecessor fez. Isso é inviável quando se tem em vista a estratégia e o planejamento de longo prazo.
Rafael Lacerda lança um olhar otimista. “Apesar de todos os entraves que são citados no decorrer das páginas, estamos convencidos de que o cenário é bastante promissor para o crescimento do futebol no Brasil”.
O livro Muito Além da Bola – O Futebol que Transforma traz 66 nomes, como Alex de Souza (ex-Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe, atualmente treinador), Aline Pelegrino (ex-jogadora e coordenadora de Competições Femininas da CBF), Fernandinho (ex-Manchester City, recém-contratado pelo Athletico-PR), Fernando Diniz (técnico do Fluminense), Mauro Silva (campeão do mundo em 1994 e atual vice-presidente da Federação Paulista de Futebol), Paulo Roberto Falcão (ex-atleta e treinador) e de gestores como Ana Lorena (coordenadora de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol), Alexandre Matos, Constantino Júnior (vice-presidente da Liga do Nordeste), Daniela Castro (diretora da Impacta Advocacy), Michel Mattar (Líder de Projetos na CBF Academy), Rodrigo Caetano, Rui Costa e Paulo André, dentre outras destacadas personalidades do esporte.
Redação Vida & Tal