A relação com o intestino está diretamente ligada com o estilo de vida do indivíduo. Má alimentação, sedentarismo, fumo e álcool estão entre as principais causas que prejudicam o bom funcionamento do intestino e a ida regular ao banheiro. Pular refeições, evitar consumo de frutas, fibras e vegetais, beber pouca água, consumir muito carboidrato principalmente os refinados, alimentos ricos em gordura, inflamatórios e alergênicos, comer rápido demais, ingerir líquidos durante as refeições, são hábitos que prejudicam a digestão e trazem inúmeras consequências para a saúde.
É comum recorrer aos laxantes após passar dias e até semanas sem evacuar, mas atenção – o mau funcionamento do intestino não é tão “normal” e inofensivo quanto parece. Quem explica é a nutricionista Andrezza Botelho, especialista em Nutrição Clínica e Funcional (Centro Valeria Paschoal), e em Transtornos Alimentares (Unifesp). Em entrevista para o Vida & Tal, a especialista, responsável científica e proprietária de uma clínica de nutrição inteligente em São Paulo, ressalta sobre a importância em adotar hábitos saudáveis e a relação direta entre a microbiota intestinal, saúde e qualidade de vida.
Quais sinais indicam que a saúde do intestino não vai bem?
O nosso corpo conversa conosco o tempo todo, precisamos parar e prestar atenção nos sinais e sintomas que ele manifesta. Olhar para as fezes após evacuação (pedaços de alimentos, sangue, coloração, odor), cólicas, estufamentos, regurgitação. Quando o paciente chega para a consulta sempre faço essas perguntas e dependendo das respostas a conduta nutricional e as suplementações são mais específicas para melhorias desses sintomas. Faz toda diferença na orientação nutricional.
Na pré-consulta os pacientes recebem um questionário de rastreamento metabólico onde assinalam sinais e sintomas dos últimos seis meses até os dias atuais. Tem alguns exames também que ajudam no diagnóstico. Existe um teste genético chamado “Microbioma intestinal”, capaz de extrair, sequenciar e mapear o DNA das células bacterianas que habitam o intestino, a fim de identificar seu desequilíbrio (disbiose), e trazer melhorias clínicas nos tratamentos com antibióticos e quimioterápicos, além de embasar intervenções com prebióticos e probióticos.
Quais os prejuízos à saúde pelo mau funcionamento do intestino?
Alteração de humor, hemorroidas, estufamento, cólicas, distensão abdominal, acúmulo de toxinas, acnes, resistência a perda de peso e aumento de processo inflamatório.
É correta a afirmação de que o intestino é o nosso segundo cérebro?
O intestino tem uma barreira chamada GALT (gut-associated lymphoid tissue), como se fosse uma espécie de proteção para que substâncias nocivas ao organismo não “invadam” o nosso meio interno. Já o nosso cérebro também tem uma barreira, chamada Barreira Hematoencefálica, que tem como objetivo proteger o Sistema Nervoso Central de substâncias químicas presentes no sangue. Essas duas barreiras são de espessuras parecidas. Portanto, qualquer alteração intestinal que resulta em uma pequena inflamação pode “irritar” essa parede deixando-a “vulnerável”, gerando uma inflamação de baixo grau no corpo. Isso ocorre de maneira lenta e progressiva através de diversos fatores, um deles é o hábito alimentar não saudável.
Uma vez o organismo inflamado, tudo que está ligado às inflamações podem aparecer, a exemplo das dores articulares e musculares, doenças autoimunes, alergias e inúmeros outros sintomas, e tudo por uma origem intestinal. Através de uma rica anamnese, conseguimos saber se existe inflamação originada nos intestinos e assim conseguimos através de uma terapia manual, reeducação alimentar e mudança de hábitos, uma modulação intestinal que diminuirá muito essa inflamação.
Por isso, a doença que gera dor pode ter origem em uma inflamação intestinal. Ainda justificando o porquê ele é nosso segundo ou primeiro cérebro, o intestino tem o seu próprio sistema nervoso: o Sistema Nervoso Entérico! Esse sistema é capaz de agir de forma independente com relação ao cérebro. Cerca de 80% da nossa imunidade vem dos intestinos, além de uma surpreendente produção hormonal. Tudo pode ser interligado por um nervo chamado Vago que faz a conexão intestino – cérebro e cérebro – intestino.
Como conquistar e manter o bom funcionamento da microbiota?
Existem muitas bactérias em nosso corpo, a maioria presente nos intestinos. Por mais que não possamos vê-las, não podemos subestimar o importante papel que essas bactérias intestinais desempenham não apenas em nossa saúde digestiva, como em nosso sistema imunológico.
O que comemos, no entanto, pode influenciar e transformar completamente a qualidade da nossa flora intestinal. Os prebióticos são ótimos para promover a saúde intestinal, além do consumo diário de alimentos que ajudam na flora intestinal como o feijão, aspargos, brócolis, couve, couve-flor, linhaça, banana, iogurte, kefir e a aveia que contém um tipo único de fibra que nutre e restaura as bactérias intestinais saudáveis.
O feijão se destaca por ter muita ação prébiotica. A banana e a alcachofra têm propriedades digestivas e são ricas em cinarina, substância que estimula a produção da bile (responsável por dissolver a gordura). Cebola e alho são fontes de frutooligossacarídeos, um tipo de açúcar mais complexo que não é digerido pelo organismo e que serve de alimento para as bactérias boas. Já os iogurtes, bebidas fermentadas e kefir são famosos pela ação probiótica.