Com o passar dos anos, a busca por um estilo de vida mais saudável e a explosão da cultura fit e fitness, fez surgir nas principais gôndolas de lojas, supermercados e farmácias, produtos alimentícios zero sugar, sem lactose e glúten free. Mas, o que para uns pode ser apenas uma opção alimentar, para outros a presença do glúten é coisa séria, e passa longe de ser uma mera questão de escolha.
Desde 2006, a Federação Nacional de Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra) está envolvida com a divulgação nacional das Desordens Relacionadas ao glúten e em conquista de direitos e qualidade de vida para quem tem Doença Celíaca, sensibilidade ao Glúten não Celíaca, Alergia ao Trigo, Ataxia-Glúten. De acordo com a Federação, no Brasil estima-se que 2 milhões de brasileiros possam ser celíacos.
Para ajudar a entender melhor, o Vida & Tal trouxe as explicações da nutricionista e fitoterapeuta, Lucélia Silva Costa, consultora em Segurança de Alimentos, conselheira e consultora técnica da Fenacelbra.
O que é doença celíaca?
É uma doença autoimune sistêmica ,genética, caracterizada principalmente por inflamação intestinal e disparada pelo consumo de glúten contido no trigo, cevada, centeio e aveia contaminada por glúten. Ela pode afetar vários sistemas do corpo, inclusive a pele.
Quais as causas e como identificar?
A doença celíaca só acontece diante da ingestão de glúten e certos fatores genéticos. Não nascemos celíacos mas podemos nos tornar celíacos. Ela pode ser disparada em qualquer idade.
A doença celíaca pode ter características bem marcantes ou ser assintomática. Celíacos sem diagnóstico podem apresentar dor e distensão abdominal, prisão de ventre, diarreia, dispepsia, enxaqueca, osteopenia, atraso no desenvolvimento, anemia, desnutrição, neuropatias, ataxia, depressão, etc ou podem ser assintomáticos.
Geralmente quem diagnostica é o gastroenterologista através de exames de dosagem de anticorpos no sangue e uma endoscopia digestiva alta com biópsia do duodeno.
Uma vez fechado o diagnóstico, qual o tratamento? Tem cura?
O único tratamento atualmente é uma rigorosa dieta isenta de glúten, baseada em muitos vegetais, leguminosas, carnes, ovos, peixes grãos. O celíaco também deve cuidar bastante da contaminação cruzada por glúten. Não há cura para doença celíaca mas ao fazer uma dieta rigorosa isenta de glúten bem feita terá de volta a saúde e sairá do estado de doença.
Quais alimentos devem ser eliminados da alimentação e podem ajudar na melhora?
O celíaco não deve ingerir nada que tenha sido preparado com trigo, cevada, centeio e seus derivados. E também deve evitar a aveia comum pois essa tem muita contaminação por trigo. Cada celíaco, ao receber seu diagnóstico deve ser avaliado por equipe multidisciplinar, principalmente profissional nutricionista para avaliar deficiências nutricionais e estabelecer plano dietético individualizado.
Enfatizamos que a dieta isenta de glúten é baseada em legumes, verduras, carnes, peixes, ovos, frutas, grãos. Que se deve priorizar alimentos frescos e preparados em casa. Produtos industrializados glúten free não devem ser a base da dieta de um celíaco.
Existe algum tipo de doença associada?
Geralmente os celíacos que demoram muito a receber o diagnóstico desenvolvem outras doenças autoimunes. As mais comuns são fibromialgia, artrite reumatóide, lupus, síndrome de Sjoegren, tiroidite de hashimoto, espondilite. Também podem desenvolver problemas cardíacos, diabetes tipo 1 ou LADA ou MODY. Problemas reumatológicos, neurológicos. E em muitos casos câncer no aparelho gástrico.
Existe alguma faixa etária prevalecente de pessoas que apresentam a doença?
Acreditava-se que era uma doença predominantemente infantil mas hoje sabemos que pode disparar até em idosos. Atualmente há mais diagnósticos femininos que masculinos.
Falando em dados, quantas pessoas no Brasil e no Mundo estão acometidas pela doença celíaca?
Há uma estimativa mundial de que 1% da população mundial tem a doença celíaca mas apenas de 10 a 20% já tem diagnóstico. No Brasil, a Fenacelbra estima que 2 milhões de brasileiros possam ser celíacos. Não temos os números de diagnosticados no Brasil. Já foram feitos alguns estudos regionais de prevalência mas não há nenhuma de nível nacional, finaliza.