Um estudo preliminar feito no estado do centro-oeste americano de Wisconsin mostra que, no caso de uma “infeção disruptiva”, a variante Delta consegue crescer no nariz de pessoas vacinadas com a mesma proporção com que aconteceria se não estivessem vacinadas. O vírus resultante é tão infecioso quanto o das pessoas não vacinadas, o que significa que as pessoas imunizadas podem transmitir o vírus e infectar outras.
Os estudos feitos anteriormente em hospitais na Índia, em Provincetown, no Massachusetts e na Finlândia também demonstram que, após infeções disruptivas com a variante Delta, podem existir níveis elevados de vírus no nariz das pessoas, independentemente de estarem ou não vacinadas. O passo lógico seguinte passou por determinar se as pessoas vacinadas podiam transmitir o vírus infecioso. Muitos especialistas suspeitavam que sim, mas até este estudo mais recente isso ainda não tinha sido provado em laboratório.
“Tanto quanto sei, somos os primeiros a demonstrar que o vírus infecioso pode ser cultivado a partir de infeções de pessoas completamente vacinadas”, diz Kasen Riemersma, virologista da Universidade de Wisconsin, que é um dos autores do estudo.
“A variante Delta está a surgir mais preferencialmente após a vacinação em comparação com as variantes não-Delta” porque é extremamente infeciosa e evita a resposta imunitária, diz Ravindra Gupta, microbiologista da Universidade de Cambridge. O laboratório de Ravindra foi um dos primeiros a documentar que os profissionais de saúde completamente vacinados podem ficar infetados com a variante Delta e apresentam níveis elevados de vírus nos seus narizes.
Se a descoberta do novo estudo se mantiver, as pessoas com infeções disruptivas, muitas das quais não desenvolvem sintomas de Covid, podem propagar o vírus inadvertidamente. “É uma descoberta alarmante”, explica Katarina Grande, supervisora de saúde pública e chefe da equipa de dados Covid-19 do condado de Madison & Dane, que liderou o estudo.
Eric Topol, fundador e diretor do Instituto Scripps Research Translational, está preocupado porque os indivíduos completamente vacinados que estão infetados com a variante Delta podem transmitir o vírus e isso pode acontecer com uma taxa mais elevada do que as estirpes anteriores nos dias que antecedem os sintomas, ou até na ausência de sintomas. “É por isso que as máscaras e as medidas de mitigação são importantes, mesmo para as pessoas que estão vacinadas”, diz Eric.
Os estudos deste tipo sublinham que a transmissão da variante Delta pode ser muito mais elevada do que a estimada atualmente, de acordo com Ethan Berke, diretor do departamento de saúde pública do Grupo UnitedHealth. A investigação de Ethan mostra que a testagem frequente com resultados rápidos, mesmo que preliminares, pode ser muito eficaz na mitigação da pandemia de Covid-19. Ethan não participou no estudo feito em Wisconsin.
“Mesmo que o estudo se baseie apenas numa região, oferece uma visão importante sobre a forma como as pessoas podem propagar o vírus a outras, quer estejam vacinadas ou não. Este tipo de percepção, sobretudo quando testada e refinada, é incrivelmente útil à medida que as organizações desenvolvem políticas em torno da testagem, distanciamento social e vacinação”, diz Ethan.
Redação Vida & Tal
Fonte: Artigo publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com