Quem nunca tirou aquela soneca pós-almoço, muito praticada na Espanha e no México, chamada de siesta ou sesta? Contudo, a sonolência diurna excessiva (SDE) é um problema de saúde pública, pois pode acusar a presença de vários problemas de saúde que precisam ser diagnosticados e tratados.
Gleison Guimarães, médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), ressalta que a SDE continua amplamente subestimada, mal diagnosticada e pouco apoiada. Segundo o pneumologista, variações na definição de SDE e limitações na avaliação clínica levam a dificuldades em sua frequência na população, mas a relevância desse sintoma do ponto de vista socioeconômico local e de saúde é indiscutível.
De acordo com o especialista, a SDE pode ser uma consequência de vários problemas que levam ao sono insuficiente ou de má qualidade, seja por fragmentação, superficialidade ou irregularidade, bem como uma consequência de distúrbios do sono, incluindo síndrome da apneia do sono, distúrbios do ritmo circadiano, insonia, distúrbios de hipersonolência central, narcolepsia e hipersonia idiopática, além de outras condições médicas, psiquiátricas ou medicamentos.
“Além disso, a sonolência diurna excessiva pode ter implicações para a saúde, pois acredita-se que atue como um fator de risco para outras condições, como doenças cardiovasculares e neurodegenerativas”, adverte.
O médico explica que, normalmente, a presença de SDE é discutida no mesmo contexto da AOS – apneia obstrutiva do sono; no entanto, nem todos os pacientes com AOS têm SDE e sua coapresentação tem implicações importantes para doenças cardiovasculares.
“Resumidamente, a AOS é caracterizada por obstrução cíclica parcial ou completa das vias aéreas, resultando em aumento do CO2 e redução do O2, juntamente com despertares repentinos e grandes mudanças de pressão intratorácica”, detalha. Isso é catastrófico.
Embora haja uma variabilidade significativa entre as estimativas de prevalência de SDE na AOS (16%-87%), a coapresentação de SDE e AOS está associada ao aparecimento de hipertensão, eventos cardiovasculares incidentes e mortalidade cardiovascular.
“Uma hipótese para esse risco aumentado pode ser que pacientes sonolentos com AOS possam ter uma patologia mais grave, pois, de fato, índices de apneia-hipopneia mais altos e saturações de oxigênio noturnas mais baixas estão associados à SDE na AOS”, assinala o médico.
“Seguindo essa linha de pensamento, o que presenciamos é que os pacientes sonolentos com AOS demonstram melhorias mais robustas após o tratamento com pressão positiva nas vias aéreas (CPAP) com melhores efeitos e alívio da SDE”, completa.
O pneumologista ainda destaca que “algumas evidências relatam uma atenuação linear da sonolência com o uso médio de PAP ao longo de seis meses, embora a sonolência residual seja relatada em 12%-65% dos pacientes aderentes ao PAP, por exemplo, ≥4 horas de uso em ≥70% das noites”, esclarece.
Ainda de acordo com Gleison, o estudo da apneia obstrutiva do sono (RICCADSA) revelou que a terapia com CPAP reduz os sintomas de depressão com melhora proporcional na sonolência. Ele afirma que estudos pré-clínicos e em humanos sugerem reduções na integridade axonal e juntamente com o encolhimento da mielina, contribuem para a sonolência, particularmente na AOS.
Outra causa menos comum de sonolência diurna é a narcolepsia, e os pacientes com narcolepsia são 2,5 vezes mais propensos a sofrer um acidente vascular cerebral, têm um risco 2,7 vezes maior de desenvolver hipertensão, bem como 60% mais suscetíveis ao infarto do miocárdio e parada cardíaca em relação aos controles pareados por idade e sexo”, aponta Dr. Gleison.
Tratamento
O pneumologista informa que o tratamento adequado da sonolência são cruciais para reduzir a carga de doença cardiovascular nesses pacientes. “Sendo a sonolência a principal queixa da apneia obstrutiva do sono e da narcolepsia, é lógico que buscar a causa da SED e iniciar o tratamento é urgente, revela.
Por fim, o médico pondera que talvez a manifestação clínica mais pura da SDE seja a hipersonia idiopática (HI), um distúrbio caracterizado por sonolência persistente, que não pode ser conciliado por maus hábitos de sono, distúrbios psiquiátricos ou outros diagnósticos como, por exemplo, doença de Parkinson.
“A prevalência de HI é altamente variável e difícil de estimar com precisão devido à necessidade de testes eletrofisiológicos, polissonografia e outros, não havendo nenhum biomarcador estabelecido que indique a presença ou ausência de HI, nosso entendimento da fisiopatologia permanece incompleto”, pontua.
Se você tem sonolência de dia e dorme em qualquer lugar, faça uma avaliação com seu médico do sono.
Redação Vida & Tal