O nadador Bruno Fratus, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, foi nomeado Embaixador de Saúde Mental do Comitê Olímpico Internacional (COI). A escolha reconhece sua trajetória dentro das piscinas e, principalmente, sua jornada pessoal marcada por desafios emocionais e superação.
Aos 35 anos, Fratus se aposentou oficialmente das competições em 2024 após uma sequência de lesões e longos períodos de reabilitação. O fim da carreira nas piscinas, no entanto, deu início a uma nova missão: ajudar outros atletas a enfrentarem suas próprias batalhas internas.
“Focar no lado da saúde mental faz sentido por causa da minha história”, declarou Fratus ao portal Olympics.com. “Muita gente sabe que o Rio 2016 foi um período muito difícil. Mas, na verdade, isso foi apenas a ponta do iceberg.”
A virada começou após a frustração no Mundial de 2011, quando o nadador ficou fora do pódio mesmo após surpreender nas eliminatórias. “De repente, muita coisa foi esperada de mim, e eu não tinha a mentalidade para acompanhar”, contou. “Depois disso, passei a treinar com raiva, como se precisasse me vingar.”
Os anos seguintes foram marcados por altos e baixos. Em Londres 2012, Fratus ficou a apenas dois centésimos de segundo de uma medalha. No Rio 2016, competindo em casa, sofreu com uma lesão nas costas e viu o sonho olímpico escorrer pelos dedos.
“Estava em um estado ruim e não consegui performar. Passei por momentos realmente difíceis. Estamos falando de dias em que você se pergunta se vale a pena continuar vivendo”, revelou.
Foi nesse contexto que o nadador iniciou o acompanhamento psicológico com a brasileira Carla Di Piero, passo decisivo para reconstruir sua saúde mental e reencontrar o prazer na natação — o que culminou na conquista do bronze em Tóquio.
A aposentadoria forçada, em 2024, trouxe novos desafios. “Quando voltei a nadar, comecei a sofrer crises de ansiedade e hiperventilação. Um dia, precisei tirar a cabeça da água porque simplesmente esqueci como nadar”, relembrou. A decisão de parar veio com o apoio da esposa e treinadora Michelle Lenhardt.
Agora, como Embaixador de Saúde Mental do COI, Fratus quer transformar dor em propósito. “Estou desesperado para ajudar, especialmente porque sabemos que muitos problemas de saúde mental podem ser superados com a assistência certa. Todos nós passamos por dificuldades às vezes. Vamos cuidar uns dos outros.”
Segundo ele, a influência dos atletas pode ser um poderoso agente de mudança. “As pessoas admiram os atletas. Se começarem a cuidar da saúde mental, outros seguirão. Quero ajudar a espalhar essa mensagem além dos atletas, para o mundo todo”, afirmou ao Olympics.com.
Apesar da aposentadoria, Bruno ainda se vê como um competidor — agora, em outra arena. “O atleta dentro de mim ainda está vivo, mas agora canalizo essa energia para algo produtivo.”
Para Fratus, a principal mensagem é de persistência: “Continue buscando. Seja insistente, seja incômodo, nunca desista.”