Estudos revelam que o acometimento do coração pela Covid-19 tem sido uma frequente, inclusive para quem apresentou apenas os sintomas leves da infecção e não precisou de internação. Apesar de o exercício físico reduzir o risco cardiovascular a longo prazo, também pode ser um gatilho para doenças cardiocirculatórias silenciosas, sendo que 90% das mortes súbitas no esporte estão relacionadas a cardiopatias.
Diante da possibilidade do novo coronavírus deixar sequelas, exigindo um cuidado ainda maior, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) elaborou o Posicionamento sobre Avaliação Cardiológica Pós-Covid-19, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“O documento traz orientações para o praticante de atividade física recreativa ou competitiva que teve Covid-19 e reforça a importância dele consultar um médico especialista antes de começar a se exercitar ou de retomar o treino que fazia antes de ter coronavírus, mesmo que, até então, ele não apresentasse qualquer problema cardíaco”, afirma o médico cardiologista Marcelo Leitão, presidente da SBMEE, especialista em medicina do exercício e do esporte, e um dos autores do Posicionamento.
De acordo com o documento, “dados iniciais relataram alterações eletrocardiográficas, níveis de troponina detectável e achados anormais em ressonância magnética cardíaca até cerca de 70 dias após o diagnóstico da doença, que não se correlacionaram necessariamente com a gravidade do quadro clínico apresentado”. A tropanina é um componente fundamental na avaliação de síndrome coronariana aguda e de infarto agudo.
Apesar do real significado dos resultados obtidos ainda serem desconhecidos, o documento afirma que deve ser considerada a possibilidade de que “tais achados possam representar um substrato arritmogênico durante o esforço, aumentando o risco de morte súbita em esportistas e atletas”.
O posicionamento também sugere uma avaliação pré-participação cardiológica antes do retorno à prática de atividade física por esportistas recreativos, competitivos e atletas na idade adulta, incluindo anamnese, exame físico e ECG para todos. E ressalta a necessidade de acompanhamento regular e reavaliação a médio e longo prazo, uma vez que a evolução tardia da doença ainda é pouco conhecida.
O resumo do trabalho, coordenado pela cardiologista Clea Simone Sabino, traz como ressalva que as recomendações apresentadas foram elaboradas baseadas em publicações iniciais e nas experiências clínicas atuais, estando portanto, sujeitas a alterações e modificações de acordo com a evolução dos conhecimentos sobre a Covid-19.