Frequentemente utilizamos algumas plantas medicinais para tratamento de sintomas simples, como cólicas, dores de cabeça e até mesmo ressaca. É comum pessoas dizerem que a prática é natural e não faz mal, porém, será que essa afirmativa está correta? Segundo a farmacêutica Letícia Hoerbe Andrighetti, professora mestra do curso de Farmácia do Centro Universitário Cesuca, usar remédios caseiros é uma prática que data da existência humana.
“Registros milenares mostram que os egípcios já faziam misturas de plantas, mel e outros compostos naturais para tentar curar e aliviar seus males. Esta técnica ficou mais ‘aprimorada’ na idade média, onde, dentro dos castelos, havia curandeiros que buscavam preparar poções para curar a família real e o povo em geral. Hoje em dia o uso de determinadas receitas caseiras faz parte da ‘identidade cultural e histórica’ dos povos. É o caso da ‘água com açúcar para dormir’, passada de geração em geração, e das misturas de plantas preparadas em casa e vendidas até hoje em diversas feiras livres do Brasil. Fazer uso de remédios, portanto, é um tipo de autocuidado, de busca pela sobrevivência”, afirma.
Nesse sentido, ela destaca: o termo “remédio” é usado para qualquer recurso capaz de aliviar ou resolver sintomas que humanos podem sentir no cotidiano. Até tirar férias pode ser um “remédio” para aliviar o estresse diário. Mas, ao se tratar de um composto tecnicamente desenvolvido, fabricado e registrado em órgão sanitário (Anvisa, no Brasil), o produto se chama “medicamento”.
Muito além das questões de autocuidado, ela lembra que há muitos outros motivos que levam as pessoas a automedicarem-se. Um deles é a dificuldade de acesso aos serviços e recursos de saúde, devido ao aspecto econômico que grande parte da população brasileira está enquadrada, além de questões como o envelhecimento, quando há uma tendência maior à necessidade de uso de múltiplos medicamentos.
“Nosso país tem tamanho continental e não é difícil pensarmos que muitas comunidades não têm condições de acessar atendimento médico e adquirir medicamentos a tempo para tratar seus sintomas e doenças”, explica Letícia.
“Não podemos esquecer também que a ‘busca por receitas caseiras’ pode estar relacionada a influência das pessoas com quem o paciente convive, pela descrença em tratamentos medicamentosos, pelo medo de reações adversas, pela falta de aceitação da própria doença, entre outras possibilidades”, complementa.
A docente afirma que a maioria das receitas caseiras usadas pela população em geral se refere a preparações com plantas medicinais, como a de maracujá (Passiflora incarnata) para ansiedade.
“Inúmeras plantas podem ser usadas para aliviar sintomas. No entanto, é importante que as pessoas percebam que ao preparar chás a base de plantas como o maracujá, a valeriana e a camomila, a quantidade de substâncias ativas (capazes de reduzir a ansiedade) é baixa e, dependendo do grau de ansiedade, não é suficiente para desencadear a ação esperada.”
Há uma infinidade de plantas medicinais que podem ser usadas para tratar sintomas. Nesse sentido, é importante que as pessoas busquem orientação específica para seu caso com o farmacêutico ou o médico da comunidade.
Benefícios de tratar enfermidades com receitas caseiras
As receitas caseiras preparadas com plantas medicinais são consideradas importantes aliadas para cuidar da saúde das pessoas. Para se ter o melhor benefício possível, a professora Letícia listou dicas importantes para seguir. Confira:
– Tenha certeza da identidade da planta que você está usando. Assim como há plantas medicinais, há plantas tóxicas. A correta identificação é essencial para evitar surpresas desagradáveis;
– Informe-se sobre o modo correto de preparar sua receita caseira. Há plantas que podem ser fervidas, outras perdem suas propriedades quando são expostas ao calor excessivo e, por isto, devem apenas ficar alguns minutos em contato com a água aquecida;
– Certifique-se que você não tem contraindicações para o uso de determinadas plantas. Algumas não podem ser usadas em pessoas com problemas hepáticos, outras não são indicadas para gestantes, por exemplo.
– Informe-se sobre interações entre plantas e as medicações que você está usando. Geralmente o uso de receitas caseiras a base de plantas medicinais com o tratamento medicamentoso já estabelecido pode ser feito sem problemas. No entanto, há casos nos quais o uso concomitante não é indicado.
Os riscos da automedicação
Letícia lembra que a maioria das pessoas se automedica. Contudo, a prática é perigosa e pode levar a piora do quadro clínico inicial do indivíduo. Durante a pandemia, diz a farmacêutica, foi observado muitas pessoas que iniciaram o tratamento dos sintomas da Covid por conta própria, com uso de vários tipos de chás e preparações a base de plantas.
“Algumas delas acabaram se automedicando por um tempo muito longo e, quando foram buscar auxílio médico, já tinham um quadro grave e de difícil manejo”, salienta.
Ao adicionar por conta própria um medicamento à rotina, o indivíduo pode correr o risco de ter reações adversas e interações com outros medicamentos que já usa. Nessas situações, acabam confundindo o que são sintomas de doenças e o que são problemas causados pelos próprios medicamentos que o indivíduo está usando.
“É importante lembrar que sempre que algo não funciona bem no nosso corpo, ele nos dá sinais que vêm na forma de dor, desconforto, entre outros, e muitas vezes, não conseguimos resolver o problema de origem, além de postergar o diagnóstico e tratamento preciso. Logo, o melhor remédio é sempre buscar informação com o farmacêutico, o médico e outros profissionais da equipe de saúde mais próxima,” finaliza.
Redação Vida & Tal