Infelizmente pouca gente sabe, mas urologista também é médico de mulher, e pode ser fundamental para prevenir e curar doenças que atormentam o universo feminino, como bexiga hiperativa, incontinência urinária, cistite e muitas outras. As mulheres estão muito suscetíveis a problemas urinários, podendo sofrer alterações durante a gravidez, no parto e quando chegam à menopausa. Já as infecções como cistites e a incontinência urinária são problemas que afetam ambos os sexos.
De acordo com o médico José Alexandre Araújo, especialista em Urologia Feminina, na mulher a incontinência urinária muitas vezes é entendida como um problema de envelhecimento e, por desinformação, muitas não recorrem aos profissionais da área. Só que ela acomete um número bastante elevado de mulheres em sua fase produtiva. Cerca de 30% da população feminina terá incontinência urinária depois dos 60 anos.
“A qualidade de vida e a autoestima das pacientes é altamente afetada, podendo, inclusive, levar à depressão”, alerta o médico que há seis anos tem se dedicado na divulgação sobre a importância da especialidade médica para a saúde da mulher. Além da participação em congressos na área, junto a Sociedade de Ginecologia do Rio de Janeiro, José Alexandre realizou a Jornada Carioca de Urologia Feminina, entre outras ações.
“Normalmente urologista prefere atender homens. Mas meu ambulatório no Hospital Federal do Andaraí, por exemplo, é só de urologia feminina. Gosto de atendê-las. Muitas já passaram por vários médicos e não conseguiram melhorar a qualidade de vida. Em geral temos bom resultado. Trabalho com Urologia feminina há seis anos”, afirma o especialista, um dos fundadores do Centro Urológico Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.
Para ajudar a entender melhor sobre o assunto, José Alexandre falou com exclusividade para o Vida & Tal, sobre os principais problemas que podem afetar o sistema urinário feminino, causas, sintomas e tratamentos:
Bexiga Hiperativa
Transtorno conhecido como a vontade excessiva de ir ao banheiro e que provoca nas pessoas uma vontade incontrolável de urinar. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, aproximadamente duas mulheres para cada homem possuem o quadro da doença. Uma pessoa com Bexiga Hiperativa pode também desenvolver incontinência urinária, problemas de pele e infecções urinárias.
A vontade súbita, na grande maioria das vezes incontrolável, de urinar, em geral com perda de urina, mas algumas pacientes às vezes não têm perda, é uma minoria.
Diagnóstico – é um diagnóstico clínico, caracterizado por essa urgência urinária. Depois que a gente afasta a infecção urinária, pode-se pesquisar tumores de bexiga em mulheres acima de 40 anos, principalmente fumantes.
Tratamento – inicialmente é por medida comportamental. Diminuição da cafeína, fisioterapia pélvica etc. Mas na grande maioria das vezes temos que associar a medicação. Como se fosse um calmante de bexiga. É uma droga específica para bexigas nervosas. Ainda tem um tratamento de terceira linha, quando a medicação não resolve que é a medicação na musculatura da bexiga, um procedimento cirúrgico, rápido, mas cirúrgico. Tem que ser feito no centro cirúrgico, mas com ótimos resultados.
Prevenção – ainda não há nada certo, mas uma coisa que orientamos muito as mulheres na idade jovem é não reter a urina. Aquelas mulheres professoras, motoristas, mulheres que ficam em pé trabalhando o dia inteiro e não conseguem ir ao banheiro na hora que dá vontade. Isso pode criar um processo inflamatório crônico e uma fibrose secundária ao longo do tempo dos anos na bexiga que pode levar a hiperatividade. Mas qualquer dano basta. Uma cirurgia de bexiga, radioterapia relacionada a pelve, seja por conta de bexiga seja por câncer de útero, tudo isso também pode causar a bexiga hiperativa.
Incontinência Urinária
Quando falamos da incontinência urinária de esforço, é quando a mulher faz qualquer tipo de esforço, tosse, espirra, pula, vai para academia fazer exercício, se abaixa para pegar alguma coisa no chão, tem mulheres que quando faz sexo com o parceiro e qualquer esforço, perde urina.
Diagnóstico – o diagnóstico de incontinência urinária de esforço também é pelo exame físico da paciente, a história da paciente. Mas quando pensamos em operar essa pessoa, fazemos o exame de urodinâmica, que nos permite mensurar o enfraquecimento da musculatura da bexiga relacionada com o canal da uretra, por onde sai a urina, mas também é um diagnóstico clínico.
Tratamento – é com medidas comportamentais principalmente fisioterapia para fortalecer a musculatura que tem no períneo do assoalho pélvico. Isso ajuda muito a gente e, quando não dá resultado, quando há uma perda muito grande e achamos que não vai resolver com fisioterapia, aí é caso de uma cirurgia de correção de incontinência urinária, com a colocação de uma tela que se chama Sling, que nada mais é do que uma tela para fazer um apoio para a uretra. A taxa de sucesso é acima de 80%.
Prevenção – na maioria das vezes, é evitar a obesidade. Aquelas mulheres que ao longo da vida não têm escolha e pegam muito peso, mulheres que têm muitos filhos, enfim tudo que possa levar a um enfraquecimento maior da musculatura do períneo, da pelve ao longo da vida que pode levar a incontinência urinária de esforço. Então, se for possível, o ideal é evitar.
Cistite Intersticial
Também chamada de síndrome da bexiga dolorosa, é a inflamação crônica da bexiga, geralmente muito intensa, que acomete principalmente mulheres com idade de 20 a 60 anos. A dor pélvica crônica é um diagnóstico de exclusão. Temos que afastar todas as possibilidades, inclusive uma das coisas da dor pélvica crônica que a gente acaba descobrindo às vezes é a tuberculose urinária, que afeta a bexiga, rins, e nós temos que descartar, ainda mais aqui no Brasil, onde a reincidência de tuberculose é muito grande. Depois que você descarta tudo e a paciente tem dor por mais de seis semanas, sem uma causa aparente, fechamos com o diagnóstico de dor pélvica crônica.
Tratamento – começamos tentando achar o ponto de gatilho da paciente, o que causa a dor dela. Tem mulheres que não podem ficar com prisão de ventre, com diarreia, excitadas sexualmente, tem mulheres que não podem prender muito o xixi, tem mulheres que às vezes sentem dor relacionada a parte muscular do períneo. O ideal é ter sempre uma equipe multidisciplinar: um urologista, um ginecologista, um gastroenterologista para ver constipação.
Se essa paciente tiver constipação tem que ter um nutricionista, um neurologista, que mexe com a dor pélvica crônica, e um anestesiologista que mexa com dor crônica por causas das medicações.
Começamos com medicações, de preferência as que não usam morfina e, para mim, quando a paciente não responde a dipirona, não responde a relaxantes musculares, não responde a fisioterapia pélvica, partimos para o exame dentro da bexiga. Passamos uma câmera por dentro da bexiga e, caso veja as lesões mais típicas da cistite inflamatória, a gente queima as lesões dentro da bexiga junto com as aplicações de toxina botulínica (Botox) que aliviam bastante a dor dessas pacientes com resultado de mais ou menos um ano a um ano e meio. Depois que retornam os sintomas, voltamos a fazer o procedimento. Para se ter uma ideia, temos às vezes indicações de tirar a bexiga da paciente ou dores que são intratáveis, mas metade delas ou quase setenta por cento continuam com a dor pélvica crônica, porque a enervação do períneo da pelve já foi toda comprometida.
Prevenção – a prevenção da cistite intersticial, infelizmente, não existe. Não tem nada que a gente hoje possa falar, “olha deixa de fazer isso para evitar a cistite intersticial”.
Infecção Urinária
A infecção urinária é muito comum nas mulheres. Ter uma vez por ano é considerado mais ou menos normal. Não precisamos nem investigar. Faz um exame, passa um tratamento e acabou. Mas aquelas pacientes que têm duas infecções ou mais em seis meses ou três ou mais em um ano, aí a gente tem que fazer investigação e tenta associar e tentar achar a causa.
Causas – é a presença de microrganismos no aparelho urinário. Pode ser causada por bactérias, fungos e vírus. Podem ser por via sexual, constipação crônica, mulheres mais idosas que tem atrofia vaginal por causa da menopausa, mulheres mais idosas ainda que tem uma bexiga enfraquecida, que não consegue jogar o xixi todo para fora quando vai urinar. Essa retenção de urina vira uma “sopa! de bactérias” e consequentemente acaba levando a um crescimento bacteriano por infecção de repetição.
Sintomas – com relação aos sintomas: tipos de cistite, aquela urina que não sai e aquele aumento de frequência. Toda hora de ter que ir ao banheiro, pode até ter sangramento, dor ao urinar, dor no “pé” da barriga, supra púbica. Só o cheiro forte da urina não caracteriza a infecção.
Os médicos não estão autorizados a tratar só pelo cheiro, pelo odor da urina. Febre geralmente não tem e quando tem febre ou lombalgia a infecção já saiu da bexiga e passou para o rim e aí a infecção já é renal, uma pielonefrite, um caso mais grave e aí sim o paciente tem que ir ao hospital para fazer uma investigação mais rápida desse paciente.
Tratamento – é com antibióticos quando está com infecção e depois, nas infecções de repetição, tentar achar o ponto principal.
Prevenção – nada mais é do que evitar o que causa a infecção. Melhorar a atrofia vaginal, melhorar a diminuição do introito vaginal (que a gente trata com dilatadores vaginais). Algumas vezes o introito vaginal é muito pequeno comparado com o tamanho do pênis do parceiro, o atrito é muito maior na uretra então pode levar a uma uretrite e cistite.
Importante o aumento da ingesta hídrica, tratar a constipação nas pacientes idosas e evitar o resíduo de urina que fica depois que a paciente vai ao banheiro urinar.