Uma dieta saudável e sustentável é caracterizada por um consumo diário e prioritário de frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas (grupo composto por castanhas, nozes e amendoins), enquanto reduzido e semanal em carnes vermelhas, laticínios, tubérculos, açúcares de adição e gorduras animais, de acordo com relatório “Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on Healthy Diets from Sustainable Food Systems” da Comissão EAT-Lancet. Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP desenvolveram o Índice de Dieta da Saúde Planetária (PHDI, do inglês Planetary Health Diet Index) que avalia à adesão a estas recomendações e, recentemente, utilizaram este índice para verificar como a população brasileira é aderente a essas recomendações para uma dieta saudável e sustentável.
Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 46 mil brasileiros participantes do Inquérito Nacional de Alimentação realizado junto a Pesquisa de Orçamentos Familiares (INA/POF) do IBGE, que é apoiado pelo Ministério da Saúde. Brevemente, o INA avalia o consumo alimentar individual das famílias brasileiras sorteadas para participarem da POF entre os anos de 2017 e 2018.
O estudo foi publicado recentemente (11/03/2022) em jornal científico internacional (Nutrients) de alto impacto na área. Como principal resultado, os pesquisadores identificaram que a população brasileira atinge apenas cerca de 30% das recomendações para uma dieta saudável e sustentável proposta pela Comissão EAT-Lancet.
“Quando avaliamos por regiões geográficas, a região Sudeste atinge cerca de 32%, enquanto a região Nordeste atinge cerca de 29%. Além disso, as mulheres possuem maior adesão a uma dieta saudável e sustentável, o mesmo acontece para os brasileiros com idade acima de 31 anos. Brasileiros com maior renda per capita também possuem maior adesão a esta dieta, junto dos brasileiros que vivem em áreas urbanas.”, destacam os autores.
Os pesquisadores também puderam notar que as mulheres possuem maior adesão a esta dieta quando comparadas aos homens, mesmo quando considerada a renda per capita e a faixa-etária. Ou seja, as mulheres possuem maior adesão a esta dieta do que homens, mesmo dentre os que possuem maior renda e que possuem idade acima de 31 anos.
Os principais grupos alimentares que compõe o índice e merecem atenção são os alimentos de origem animal (carne vermelha, laticínios, frango e outras aves, ovos), que foram baixos entre a população brasileira, indicando elevado consumo. Por outro lado, os cereais integrais e oleaginosas tiveram as menores pontuações, indicando consumo abaixo do recomendado. Estes resultados podem contribuir para identificar mudanças necessárias visando o aumento ou diminuição do consumo com intuito de atingir uma recomendação mais próxima de uma dieta saudável e sustentável.
Como conclusão, os pesquisadores apontam que a população brasileira apresenta baixa adesão a um padrão alimentar saudável e sustentável, com todas as diferentes regiões brasileiras apresentando cerca de um terço do potencial máximo. Mulheres, brasileiros de faixa etária mais avançada e maior renda apresentam escores mais altos, embora ainda baixos. Nesse cenário, para melhorar as dietas que estejam de acordo com as recomendações do EAT-Lancet, serão necessários grandes esforços de diferentes atores e o desenvolvimento e solidificação de políticas públicas para alimentação sustentável.
O estudo foi conduzido por Dirce Maria Lobo Marchioni, Professora Associada do Departamento de Nutrição da FSP-USP, com colaboração de Leandro Teixeira Cacau, aluno de doutorado do PPG Nutrição em Saúde Pública da FSP-USP, Eduardo De Carli, pós-doutorando na FSP-USP, Aline Martins de Carvalho, Professora Doutora do Departamento de Nutrição da FSP-USP e por Maria Cristina Rulli, Professora do Insituto Politécnico de Milano, na Itália.
Redação Vida & Tal
Fonte: Leandro Cacau – Doutorando do PPG Nutrição em Saúde Pública da FSP-USP.