Saúde mental e pandemia são duas coisas que parecem não combinar muito em momentos delicados como esse pelo qual atravessa a humanidade. Desde que mundo é mundo, exercer a maternidade tem sido um desafio para muitas mulheres, sobretudo na era moderna, onde as funções se acumulam e a presença da mulher tem sido cada vez salutar e constante.
Mas o que dizer quando além da jornada de trabalho, a mulher tem que cumprir seu papel de mãe e educadora em período integral? Certamente essa não tem sido uma tarefa fácil para milhares de mães que viram suas vidas mudarem de ponta a cabeça, da noite para o dia, tendo que se adaptar a nova rotina social, profissional e familiar impostas pela pandemia do novo coronavírus.
Foi o que aconteceu com a psicóloga Tallitielle Oliveira, especialista em psicologia do trabalho e psicologia jurídica. Mãe de uma menina de apenas seis anos, a psicóloga afirma que junto com as medidas restritivas veio o desafio de permanecer em casa trabalhando em home office e ao mesmo tempo acompanhar as aulas online da filha.
“Assim como eu, muitas mães foram pegas de surpresa com esse grande desafio. Se antes a rotina do dito “normal” era sair pela manhã para trabalhar, só retornar a noite e terceirizar os cuidados diários com os filhos, agora temos que dar conta da casa, das tarefas domésticas, dos filhos, cumprir as metas profissionais e ainda arranjar tempo para cuidar de si”, comenta.
A especialista ressalta que nem sempre essas mulheres contam com a ajuda de familiares ou parceiros, o que torna ainda mais desafiador se adaptar a nova rotina sem sofrer maiores consequências do ponto de vista psicológico e emocional.
“Manter a calma é essencial. Buscar um equilíbrio mental e emocional sempre mantendo um diálogo aberto com as pessoas envolvidas no seu contexto familiar, seja um parente, amigo ou parceiro, e manter um planejamento. É muito importante tanto para os filhos, quanto para ela mesma”, declara a psicóloga que dá algumas dicas de como enfrentar as mudanças e organizar melhor o dia a dia:
– Primeiro passo é organizar as tarefas e as atividades dos filhos;
– Respeitar os horários habituais da criança. Se ela estuda pela manhã, deve acordar na hora de costume, cumprir toda a dinâmica rotineira de tomar o banho, escovar os dentes, tomar o café da manhã, vestir a farda e ir para aula;
– Eleger um local na casa como a “nova sala de aula”, onde a criança possa assistir às aulas de forma adequada, sentada em uma cadeira de frente para o computador, mantendo uma postura confortável e sem distrações;
– É importante manter o diálogo com os filhos, explicar sobre a necessidade de adaptação à nova realidade e estabelecer algumas normas de disciplina durante o período de aula e trabalho dos pais;
– O ideal é tentar conciliar o trabalho remoto no mesmo tempo em que as crianças estão envolvidas em suas atividades escolares;
– Traçar metas e cumprir um cronograma de trabalho, sem deixar acumular, e principalmente postergar afazeres.
Alerta para a ansiedade
De acordo com Tallitielle Oliveira, é natural que com o atual cenário trazido pela pandemia surjam pensamentos negativos e um excesso de preocupação em relação ao futuro, desencadeando um quadro de ansiedade, entre outros transtornos.
“Olhar para si e organizar os pensamentos nesse momento é muito importante para conseguir atravessar essa fase com mais leveza. Sei que não é fácil, mas é muito importante tentar evitar os pensamentos ansiosos. Vamos tentar viver agora, pensar e fazer agora! Meditar, fazer atividades que dão prazer, cuidar de si, contemplar o pôr do sol, namorar. Tudo isso é essencial para que essa mãe e mulher possa manter o equilíbrio mental e emocional sem grandes consequências futuras”, alerta a psicóloga.
A profissional destaca ainda que apesar das dificuldades, a nova realidade imposta pela pandemia também trouxe alguns benefícios, a exemplo da oportunidade de conviver mais tempo com os filhos e familiares.
“Quantas mães não puderam ver a primeira palavra que o filho falou, não presenciou o primeiro passo do filho, por conta da jornada profissional fora de casa, e agora está tendo a chance de acompanhar de perto a evolução e as demandas físicas e emocionais da criança. E para o filho, o maior benefício é sem dúvida a memória afetiva”, finaliza Tallitielle.