Além das sequelas físicas deixadas pelo quadro de Covid-19, como a perda contínua de paladar e olfato ou até mesmo alguma dificuldade para realizar uma atividade de rotina, a doença também pode causar impactos na saúde mental.
De acordo com um estudo realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor), conduzido pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin, cerca de 80% dos pacientes podem ficar com disfunções cognitivas depois de se recuperar da Covid-19.
Esse, inclusive, é um cenário visto com frequência pela psicóloga Larissa Pires Ribeiro, que faz parte do Núcleo Integrado de Reabilitação (NIR), localizado na Unidade Básica de Saúde (UBS Jaçanã). Lá, ela integra uma equipe multiprofissional que ajuda no acompanhamento e reabilitação de pessoas com sequelas pós-Covid.
“É uma disfunção cognitiva ligada à perda de atenção, de memória, às vezes questões até ligadas às funções executivas, memória operacional, flexibilidade cognitiva e um sofrimento emocional importante relacionado, ou não, ao período de internação”, explica a profissional atende na unidade da zona norte da capital muitos pacientes que ficaram com sequelas psicológicas após a doença.
O sofrimento emocional citado pela psicóloga é visto majoritariamente em pessoas que ficaram internadas durante um tempo e, nesse período, tiveram que conviver com um cenário de piora clínica de outros pacientes.
“É a iminência de morte que alguns pacientes vão vivendo durante esse período, até quando o paciente não vai para o hospital, porque, às vezes, ele está em casa com medo de que o quadro evolua e ele precise ser internado”, diz.
Em casos assim, Larissa sugere que pode existir a necessidade de uma reabilitação cognitiva e uma psicoterapia associada para que o paciente consiga superar o momento sofrido.
Impacto na saúde mental de quem não teve a doença
Os efeitos da pandemia na saúde mental afetam até mesmo quem não teve o diagnóstico de Covid-19. A psicóloga aponta que uma atualização das crises de pânico, por exemplo é percebida nos atendimentos clínicos.
“Antigamente, o paciente tinha a sensação de estar infartando. Hoje em dia, a preocupação é com a respiração”, explica Larissa. Ou seja, quando a respiração fica irregular por algum motivo, seja por ansiedade ou esforço físico, o atual receio é que seja um possível sinal de Covid-19. “E se eu começo a ficar nervoso, prestar tanta atenção à minha respiração e passo a perder um pouco o fôlego… Eu tendo a ficar mais ansioso”, complementa.
Outra questão que impacta a saúde mental de pessoas que não estão com Covid-19 é o contínuo prolongamento da pandemia, que contribui para o desenvolvimento de muitos quadros depressivos.
“No ano passado, a gente via os pacientes chegando muito ansiosos. E agora, é a depressão muito associada, porque vem daquilo de ‘Não passa nunca’, ‘Não importa o que eu faça, esse período não passa’. Então, eles vão chegando com um humor deprimido”, explica Larissa.
Atendimento na rede municipal de Saúde
No NIR, é feita inicialmente uma avaliação cognitiva por meio de testes para entender qual é a disfunção do paciente. “Hoje a gente aplica aqui o MoCA (Avaliação Cognitiva Montreal, que vem de Montreal Cognitive Assessment), Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT) e teste de cancelamento. Na aplicação desses testes, a gente vê qual é a disfunção, se a inabilidade é atencional ou de memória, ou visuoespacial. A reabilitação é feita a partir de atividades, que podem ser com quebra-cabeça, jogo da memória ou Sudoku”, conta a psicóloga.
O acompanhamento de pacientes com sequelas pós-Covid é feito no município de São Paulo desde o início da pandemia.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo ressalta que quem perceber qualquer sequela da doença, seja física ou psicológica, pode procurar uma das 468 UBSs da capital para solicitar atendimento. Em seguida, de acordo com a necessidade clínica, cada caso é encaminhado à rede especializada para o tratamento adequado.
Redação Vida & Tal
Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo.