Certamente você já ouviu o discurso que compara o açúcar com as drogas ilícitas e que vicia igual ou até mais que a cocaína. Para a presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é verdade que o cérebro pode responder a essa substância, assim como à gordura, de forma semelhante as drogas, no sentido de ativar seus centros de prazer e recompensa, mas o açúcar não é como a cocaína.
“Não dá para comparar o que muitos chamam de ‘vício em comida’ com o vício em drogas. Até porque nenhum alimento é capaz de gerar uma crise de abstinência, por exemplo. Sem contar que o açúcar pode fazer parte de uma vida equilibrada, em que se come de tudo de maneira saudável. E o mesmo não dá para dizer da cocaína”, afirma.
A nutricionista Mônica Beyruti pede cautela antes de associar o açúcar à compulsão alimentar, pois a compulsão pode acontecer por outros alimentos que não sejam necessariamente o açúcar.
“É tudo mais complexo. O fato de você comer muito chocolate porque gosta ou repetir determinado doce não é suficiente para definir o Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA). O açúcar é gostoso, pode trazer prazer e bem-estar, longe de ser um vício. E é bom ressaltar que pacientes portadores de obesidade podem consumi-lo, desde que com moderação. O que deve ser evitado, sempre, são os excessos”, alerta.
De acordo com o responsável pela psiquiatria e transtornos alimentares da Abeso, Adriano Segal, o transtorno da compulsão alimentar (TCA) é uma entidade clínica da psiquiatria, bem definida e muito estudada, caracterizado pela ingestão descontrolada de quantidades grandes de alimentos, nos chamados episódios de compulsão alimentar, conhecidos pela sigla ECA ou binge eating, em inglês. Esses episódios são repetitivos e sem comportamentos compensatórios inadequados.
“Habitualmente os alimentos presentes nos episódios de compulsão alimentar são, de fato, muito palatáveis ou ultraprocessados. Eles costumam ter teores elevados de sal, gorduras e açúcares. Acabam sendo consumidos por uma procura ativa de quem os ingere. É quando a pessoa compra vários pacotes de uma guloseima qualquer por causa de uma promoção ou por preços convidativos”, explica o psiquiatra.
Vício por doces
Segundo o psiquiatra, algumas das vias neurológicas envolvidas na obtenção de prazer são comuns aos alimentos, ao sexo e aos efeitos de algumas drogas. Alimentos ricos em açúcar, sal e gordura ativam essas vias.
“Foi a partir desse aspecto que alguns cientistas passaram a acreditar que o conceito de ‘vício em comida’ fosse adequado. O tema começou então a ser pesquisado até os dias de hoje. No entanto, há algumas questões que fazem com que esse conceito não seja aceito pela totalidade, aliás, nem mesmo pela maioria da comunidade científica”, finaliza o médico.
Redação Vida & Tal
Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)