Desde o início da pandemia pelo coronavírus, o álcool em gel passou a ser item indispensável na lista de compras de todo o mundo. Muito tem se falado sobre a importância do uso do produto na prevenção da infecção gerada pelo vírus SARS-CoV-2, mas o que você sabe sobre ele?
Vamos começar pelo grau alcoólico ou título alcoométrico. De acordo com o Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (DQ/UFPR), a sigla ºGL – “Gay-Lussac”, está associado à porcentagem em volume (v/v) de etanol puro em 100 mL de mistura aquosa disponível no comércio. Já INPM é a sigla de Instituto Nacional de Pesos e Medidas, que relaciona-se à % em massa (m/m) de etanol puro em 100 g de mistura hidroalcoólica.
A porcentagem em volume recomendada para o álcool líquido ou em gel usado como antisséptico é de 77% (v/v) ou 77 ºGL. Já a porcentagem INPM (ou m/m) é de 70%. Há, portanto, uma grande diferença no título (porcentagem) em massa ou volume. Em vista desta diferença, é muito comum que produtos com concentração de etanol inferior à recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sejam disponibilizados comercialmente.
Para a produção do álcool em gel, além do etanol são utilizados como veículos para o princípio ativo, água, espessante e, facultativamente, peróxido de hidrogênio e glicerol como aditivos. A água deve ser purificada por processos de osmose reversa, destilação ou deionização, atendendo assim um critério de qualidade mínima. O etanol utilizado deve seguir as características do Formulário Nacional[1] em termos de composição química e limite de contaminantes como benzeno, acetaldeído e metanol.
Ainda de acordo com o departamento, ressalta-se que o álcool combustível anidro não deve ser utilizado para a produção de álcool em gel, pois contém, além de corantes, aditivos como os desnaturantes a exemplo do metanol, o acetaldeído, o benzoato de denatônio e a gasolina. Todos estes contaminantes tornam o álcool combustível um produto impróprio para o uso e danoso em contato com a pele.
O etanol utilizado como insumo para a produção de álcool em gel deve ter o seu grau alcoólico determinado utilizando-se um alcoômetro de Gay-Lussac, em uma temperatura conhecida. Segundo a Farmacopeia Brasileira, a porcentagem de etanol (v/v) deve ser medida na temperatura de 15 ºC. A concentração de glicerina nas formulações é de até 2% (v/v). É possível também adicionar peróxido de hidrogênio à fase etanólica para atingir a concentração final. Tanto o glicerol como o peróxido de hidrogênio não são obrigatórios; entretanto, o glicerol funciona como um bom umectante, reduzindo o ressecamento da pele, enquanto o peróxido de hidrogênio atua como desinfetante e esterilizante.
Para que se obtenha a consistência de gel, há dois grupos de agentes espessantes usualmente empregados. Os mais utilizados são os polímeros acrílicos, dos quais o Carbopol® é o mais conhecido, e os polímeros derivados de celulose, como a hidroxietilcelulose (HEC) e, mais recentemente, a hidroxipropilmetilcelulose (HPMC). No caso dos espessantes acrílicos, são utilizadas concentrações de 0,5 a 12% (m/m), dependendo do fabricante.
As formulações finais do álcool em gel devem apresentar valores de pH entre 5 e 7, e uma viscosidade superior a 8.000 medida a 20 rpm, segundo as determinações da Anvisa. Porém, a existência de produtos comerciais fora de especificação, tanto em termos de concentração quanto de viscosidade, não é incomum.
Redação Vida & Tal
Fonte: Universidade Federal do Paraná (UFPR)