Diretores do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) se reuniram de forma online, na noite do último dia 14, para discutir “Estratégias para gerenciar a escassez dos meios de contraste na Radiologia”.
O webinar apresentou dados sobre o cenário internacional atual, causado principalmente pelo agravamento da pandemia de Covid-19 na China, alternativas e estratégias de gerenciamento do uso de contraste, com palestra de Guilherme Hohgraefe Neto, especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo CBR e AMB, membro titular do CBR e da Comissão de Acreditação em Diagnóstico por Imagem (Cadi) do Colégio (confira destaques abaixo).
O problema tem crescido por todo o mundo nos últimos meses. Preocupado com a situação no país, o CBR consultou radiologistas e empresas, emitiu nota sobre a questão em maio e traz esclarecimentos e alternativas por meio do webinar, que fica disponível no canal oficial do CBR no Youtube e no vídeo abaixo. “Não podemos abrir mão da qualidade, de procurar soluções preservando a qualidade”, destacou Valdair Muglia.
A diretora científica do Colégio, Luciana Costa, declarou que “é um problema mundial hoje e o CBR, como representante da especialidade no país, vem trazer essa discussão tão importante neste momento”. Ela citou dados de um levantamento preliminar feito com radiologistas de todo o Brasil sobre o problema:
– 60,95% dizem que têm sofrido com a escassez de meios de contraste;
– 21,90% declaram que são afetados parcialmente;
– 17,14% declararam que não têm sido afetados.
Além disso, 46,94% disseram que são afetados pela falta tanto de contraste quanto de gadolínio; 26,53% afirmaram que o problema maior é a escassez de contraste iodado, 8,16% mencionaram o gadolínio e 18,37% declararam que não têm sido afetados pelo problema.
Para Luciana Costa, “é uma oportunidade de revermos a literatura, revermos o que é possível ser feito de melhor para o paciente no sentido de que a literatura já nos permite ter uma redução de contraste, obviamente sem ter uma redução de diagnóstico”.
A vice-presidente do CBR, Cibele Carvalho, foi no mesmo tom: “Cada vez mais, quando a gente passa pelas adversidades, é momento de aprender. É oportunidade de rever doses de contraste e doses de radiação para os nossos pacientes”.
Adonis Manzella, coordenadora do curso de Assistência à Vida em Radiologia (AVR) do CBR, disse que reduzir doses de contraste é um tema que tem sido colocado em pauta desde antes do atual momento.
“Já é uma coisa que a gente vem defendendo há muitos anos. O ideal é sempre utilizar a menor dose possível para o diagnóstico. O que não significa dar subdose. A gente tem que procurar reduzir radiação e doses de contraste”.
Protagonismo do radiologista
Os diretores do CBR fizeram questão de ressaltar o protagonismo do radiologista, ainda maior diante do cenário de escassez de meios de contraste. “A questão da indicação, posologia e prescrição do exame de contraste é, segundo parecer do CFM (17/2019), atributo do médico radiologista. Isso tem que ficar claro porque nessas situações podem ocorrer ingerências ou tentativas de ingerência”, ressaltou Valdair Muglia.
Cibele Carvalho emendou: “A gente está aprendendo a importância do médico radiologista à frente do paciente para fazer o melhor pelo paciente, independente do que o médico solicitante ache que possa ser o melhor. Temos que assumir essa liderança e temos o respaldo de parecer do CFM para isso”.
A diretora de Defesa Profissional do Colégio, Juliana Tapajós, destacou ainda que “inclusive, quando há divergência com o médico solicitante, a palavra final é do médico radiologista”. Ela reforçou: “Que fique bem claro: não existe nenhuma infração ética nessa questão. Quando o médico radiologista avaliar que pode realizar o exame sem contraste, ele está no pleno exercício da sua função. Mas é importante que as razões, técnicas ou científicas, fiquem registradas no prontuário ou no relatório do paciente”.
Estratégias para gerenciar a escassez dos meios de contraste
Na palestra sobre “Estratégias para gerenciar a escassez dos meios de contraste na Radiologia”, Guilherme Hohgraefe Neto apresentou dados que mostram que a produção de iodo no mundo tem se mantido estável, mas nos últimos meses houve um grande aumento da demanda pelo produto, tanto que o preço aumentou em torno de 40% a 50% no primeiro trimestre deste ano com relação ao mesmo período de 2021.
“A situação que, de fato, gerou o problema foi a pandemia de coronavírus, principalmente na China, com um lockdown decretado em março que afetou 26 milhões em Shangai e 22 milhões em Pequim.”
“Por consequência disso, a fábrica de uma das grandes produtoras de contraste no mundo, que é a fábrica da GE localizada em Shangai, ficou fechada durante todo o mês de abril, reabriu em maio com uma produção muito pequena, em torno de 20% da capacidade. No início de junho, a gente teve a notícia de que a fábrica retoma as atividades com 100% da capacidade”.
Mas o problema deve continuar ainda por período indeterminado. “A gente tem uma expectativa de que a retomada das atividades da GE [em Shangai] e o reabastecimento do mercado não sejam tão rápidas assim, porque essas questões de lockdown na China impactam muito no sistema de logística no mundo”, afirmou Guilherme Hohgraefe Neto.
“Por conta disso, a gente pensou em propor que nossos colegas pensem em algumas etapas no processo do serviço de radiologia, focando também naquilo que tem sido trazido pela literatura, para tentar diminuir o impacto”, emendou.
Foram cinco pontos abordados durante a palestra: Indicação de Exame, Estoque e Agendamento, Equipamento e Protocolo de Exame, Volume de Contraste e Métodos Alternativos. Os protocolos recomendados estão disponíveis no site do Programa de Acreditação em Diagnóstico por Imagem (Padi), do CBR.
Redação Vida & Tal
Fonte: Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).