A epilepsia é um transtorno que afeta quase 50 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e organizações não governamentais de conscientização sobre a doença. A campanha mundial do Purple Day, ou Dia Roxo (26 de março) foi criada em 2008 para divulgar informações sobre o problema e combater a sensação de solidão e isolamento comuns a muitas pessoas com a doença, por isso nunca é tarde para falar sobre os principais e mitos e verdades que permeiam a vida de quem vive com a condição.
“Há muitos estigmas e preconceitos a respeito da epilepsia. Circulam muitos mitos e informações incorretas, que dificultam ainda mais a vida de quem vive com a doença. As crises podem ter um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, no que diz respeito a questões como escola, emprego e relações pessoais”, afirma Michelle Zimmermann, neurologista do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ) e especialista no tratamento da enfermidade.
A condição, causada por descargas elétricas anormais no cérebro, provoca crises epilépticas que podem ser muito diferentes entre si. Algumas são muito rápidas e parecem ‘choques ou sustos’ (mioclonias). Em outros, a pessoa apresenta uma alteração de consciência e parece ‘estar fora do ar’ por alguns segundos (crises disperceptivas e crises de ausência). Há ainda as convulsões (crises tônico-clônicas), nas quais o paciente pode cair e gerar traumatismos.
A epilepsia pode ter várias causas: fatores genéticos, lesões cerebrais como malformações cerebrais, sequelas de asfixia perinatal, AVC, traumatismos cranianos ou tumores, mas também podem ter causa desconhecida.
Em 70% dos casos, a epilepsia pode ser controlada com o uso de medicamentos. Nos demais, a cirurgia pode ser indicada, como explica Flávio Assad, chefe do serviço de Neurocirurgia do HSVP: “em casos específicos, a Neurocirurgia pode atuar por meio do implante de um tipo de ‘marcapasso cerebral’ em que um eletrodo é introduzido em torno do nervo vago, no pescoço. Os impulsos desencadeados pelo dispositivo chegam até o cérebro, onde modulam e controlam ou ajudam a controlar as crises convulsivas. Há ainda um número pequeno de pacientes que pode ser operado para a retirada da parte do cérebro responsável por desencadear as crises convulsivas. Para esse procedimento, é preciso delimitar, através de vários exames, o ponto exato no cérebro em que isso ocorre”, explica o especialista.
Mitos e verdades
1 – É preciso evitar que o paciente enrole a língua e sufoque durante a crise?
Mito. Não se deve colocar nada na boca de uma pessoa que esteja tendo convulsão. A melhor posição de recuperação para evitar que o paciente se machuque é deixar a pessoa de lado, com a perna de cima dobrada, de forma a encostar o joelho no chão e a mão dobrada debaixo da cabeça. Afrouxe roupas apertadas na região do pescoço e, se possível, coloque algo macio sob a cabeça, para evitar que bata no chão. Fique com a pessoa até que ela recobre a consciência. Uma medida importante é contar o tempo de duração da crise para informar ao médico.
2 – Pessoas com epilepsia podem ter vida normal?
Verdade. A maioria das pessoas com epilepsia tem vida normal: estuda, trabalha, namora, tem filhos. Os pacientes com epilepsia refratária têm mais dificuldades no dia a dia, mas com o apoio de familiares e amigos, podem superá-las.
3 – O paciente deve procurar pronto-atendimento toda vez que tiver uma crise?
Mito. Na maioria das vezes não é preciso levar o paciente ao hospital, exceto nos seguintes casos:
– caso seja a primeira crise convulsiva da pessoa;
– se a crise durar mais de cinco minutos ou se houver crises seguidas sem que o paciente recobre a consciência entre elas;
– se a crise acontecer quando a pessoa estiver tomando banho de mar ou de piscina;
– se o paciente tiver dificuldade de respirar ou ficar desorientado ao voltar a si;
– se a paciente estiver grávida;
– se o paciente se ferir durante a crise.
4 – É possível controlar a crise epilética?
Sim. Em epilepsiao objetivo do especialista é o controle das crises, o que é possível para 2/3 dos pacientes, com o uso de medicamentos. Uma parte desses pacientes podem preencher os critérios de cura (ou epilepsia resolvida): permanecer sem crise por um período de 10 anos, sendo cinco sem uso de medicação. Por exemplo, alguns tipos de epilepsia da infância são limitados a esse período e cessam na fase adulta. Além disso, os pacientes com indicação de cirurgia de epilepsia podem ficar livres de crise.
5 – Mulheres epilépticas não podem engravidar?
Mito. Mulheres que tenham epilepsia podem engravidar, mas é preciso conversar antes com o neurologista para ajustar os medicamentos previamente, pois há alguns remédios que podem causar má formação fetal.
6 – Mulheres epilépticas não podem tomar pílula anticoncepcional?
Mito. É preciso conversar antes com o neurologista, para saber se há necessidade de trocar os medicamentos, pois alguns remédios podem alterar o funcionamento da pílula e vice-versa.
7 – No momento da crise, o paciente perde totalmente a consciência?
Mito. Existem tipos diferentes de crises, algumas sem comprometimento da consciência.
8 – Pessoas com epilepsia podem dirigir?
Verdade. De acordo com a regra do Departamento de Trânsito, pessoas com epilepsia podem estar aptas a dirigir apenas veículos da categoria B, ou seja, que tenham 4 rodas e lotação máxima de 8 passageiros. Mas é preciso apresentar no Detran o resultado de exames complementares e informações fornecidas pelo médico assistente por meio de um questionário padronizado. É necessário que a pessoa esteja há 1 ano sem crises e que não esteja em troca ou em suspensão da medicação.
Redação Vida & Tal
Fonte: SB Comunicação.