Faltando apenas oito dias para o início dos jogos Olímpicos de Tóquio, a estrela do basquete australiano Liz Cambage retirou o seu nome da lista de atletas que vão estar na disputa em solos asiáticos. O motivo teria sido a preocupação com a saúde mental. De acordo com a atleta, ela está “muito longe da sua excelência mental e física”, com apenas uma semana faltando para o início dos Jogos.
“Quem me conhece sabe que um dos meus maiores sonhos é ganhar uma medalha de ouro olímpica com a seleção australiana. Todo atleta que compete nos Jogos Olímpicos deve estar no auge mental e física e, no momento, estou muito longe de onde quero e preciso estar”, revela Cambage.
“Não é nenhum segredo que no passado eu lutei com minha saúde mental e recentemente estou muito preocupada em ir para uma Olimpíada ‘bolha’. Sem família. Sem amigos. Sem fãs. Nenhum sistema de suporte fora da minha equipe. É honestamente assustador para mim. No mês passado, tive ataques de pânico, sem dormir e sem comer.
Ainda de acordo com a jogadora, depender de medicação diária para controlar a ansiedade não é o lugar em que deseja estar agora. Especialmente entrando em uma competição no maior palco esportivo do mundo.
Na manhã do dia 16 de julho, o responsável pelo elenco Austrália, Ian Chesterman, disse que o Comitê Olímpico Australiano foi informado pela confederação de basquete que estava “investigando um problema”, após relatos de uma suposta briga envolvendo Liz Cambage durante uma partida de treino pré-Jogos contra a Nigéria, portas fechadas em Las Vegas.
Para a atleta Karen Jonz tetracampeã mundial de skate vertical, para disputar uma olimpíada é preciso ter 100% de certeza, “você não pode ir 98%. Você tem que dar o seu melhor e ter certeza de que quer estar ali, que você está disposto a fazer o que tiver que fazer pra seguir o seu objetivo”, revela a skatista em seu canal do Youtube.
No mesmo vídeo, a atleta dividiu com os seus seguidores que a possibilidade de disputar uma olimpíada era motivo de desconforto, uma vez que sentia-se cada vez com menos recursos físicos, emocional e até mesmo material.
“Não sei se que já contei pra vocês, mas antes de eu engravidar eu tomava antidepressivos, calmantes e daí quando eu engravidei, no dia em que eu descobri que eu estava grávida, parei de tomar tudo na hora. Sendo que antes da gravidez eu já tinha tentado parar alguma vezes, diminuir com o acompanhamento psiquiátrico e nunca tinha conseguido, mas no dia em que descobri que estava grávida, eu simplesmente parei de tomar tudo”, declara.
Em seu depoimento, Karen revela ainda que só começou a enxergar a saúde por uma perspectiva diferente ao buscar tratamentos alternativos, após sentir a volta de “sintomas desagradáveis”.
“Ficou tudo bem por algum tempo até quando ela tinha uns seis meses, que ai eu comecei a ter uns sintomas bem desagradáveis, muito piores do que quando eu tomava e foi quando eu fui procurar tratamentos alternativos e comecei a me cuidar e comecei a ver as coisas e a saúde por uma perspectiva diferente e comecei a melhorar sem uso de mais nenhuma medicação”, conta.
Para a atleta, esse tem sido um processo de redescoberta, o que provavelmente interfere no seu resultado e desempenho no esporte. Já que habitualmente, em busca da alta performance os atletas costumam ultrapassar o limite pessoal.
“Eu sei que para ser um atleta olímpico você tem que dar tudo de si e estar disposto a chegar ao seu limite ou às vezes até passar o seu limite. Eu sei disso porque eu já tive nesse lugar e não foi muito legal. Foi incrível para mim ganhar todos os campeonatos, todos os títulos, mas eu sei o quanto isso exige da pessoa”, afirma.
Além de Liz Cambage, o basquetebolista australiano Ryan Broekhoff foi outro atleta que decidiu abrir mão dos jogos olímpicos em função da saúde mental. O ex-jogador do Dallas Mavericks da NBA declarou aos tabloides que há tempos tem lutado com a saúde mental e é chegado o momento de admitir que as coisas não estão correndo bem e pedir ajuda.
Durante o mês de junho, a tenista japonesa Naomi Osaka, que já garantiu a sua vaga para as oitavas de final nas Olimpíadas de Tóquio, postou nas redes sociais que não daria entrevistas coletivas durante o torneio de Roland Garros devido a problemas de saúde mental, até que recebeu uma multa de U$ 15 mil e desistiu do campeonato. Segundo o post no Twitter, a atleta avisou que “tiraria um tempo de descanso” e que havia “sofrido longos períodos de depressão” desde que ganhou seu primeiro título de Grand Slam, em 2018.
Após o anúncio sobre a saída do torneio pela tenista, o piloto heptacampeão mundial, Lewis Hamilton entre outras personalidades, a exemplo da ex-primeira dama dos EUA – Michelle Obama, prestaram solidariedade a atleta, alertando sobre a importância do cuidado com a saúde mental.
“Nós somos apenas seres humanos. Saúde mental não é brincadeira, isso é real e sério. É preciso muita coragem para lidar com isso. Vamos garantir que Naomi Osaka saiba que não está sozinha. Hoje é um bom dia para verificar como seus amigos e pessoas queridas estão, e falar que eles não estão sozinhos. Um simples texto pode ajudar”, declarou Hamilton.
Certamente a lista não para por aí, diante do mundo globalizado e cada vez mais conectado, é natural que atletas, artistas, anônimos e profissionais da área tragam estas e outras questões à público, mostrando que falar sobre saúde emocional, psicológica, espiritual é tão necessário quanto a qualquer outro assunto da saúde em geral.
Redação Vida & Tal
Fontes: Esporte Clube Basquete/ Canal Garagem de Unicórnio/ GP